“Era o tempo da ditadura. De censura, perseguição política, tortura e assassinato, exílio. As eleições ou não eram realizadas ou viravam pura encenação. Às vezes, mesmo essa farsa não funcionava direito e o Congresso Nacional era fechado e os políticos, cassados. Era o tempo do arrocho salarial, que dava sustentação ao chamado ‘milagre brasileiro’. Os sindicatos estavam atrelados à ditadura e se quisessem reivindicar algo, eram prontamente reprimidos. A última greve de que se tinha notícia acontecera em 1968, em Osasco, SP, e havia terminado com muitas prisões. Mas era o tempo também de não aguentar mais. Em 12 de maio de 1978, 1.600 trabalhadores da Saab-Scania, em São Bernardo do Campo, entraram na fábrica e…. braços cruzados, máquinas paradas.
O movimento grevista rapidamente se alastrou por outras fábricas, outras regiões, outras categorias: metalúrgicos das cidades de São Paulo, Osasco e Campinas (em São Paulo) ou de João Monlevade (Minas Gerais), professores do primeiro e segundo graus do estado de São Paulo, bancários… Em 1979 e 1980 novas ondas de greves pararam várias regiões do país, a começar, novamente, por São Bernardo do Campo. Ali, o sindicato dos metalúrgicos passou por intervenções e, em 1980, seu presidente Luiz Inácio da Silva, o Lula, foi preso, com outros membros da diretoria. Estava evidente que até mesmo para reivindicar simples melhorias salarias era preciso enfrentar a ditadura. Abaixo a ditadura! tornou-se palavra de ordem dos trabalhadores.”
Texto original elaborado por Kazumi Munakata para a exposição Partido dos Trabalhadores: Trajetórias, apresentada no 11º Encontro Nacional do PT, realizado em 1997, no Hotel Glória, Rio de Janeiro, RJ.
“A indicação do Estádio de Vila Euclides, como local de realização das assembleias, surgiu quando as dependências da sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo passaram a não comportar mais a massa de trabalhadores que para lá se dirigiam. A primeira assembleia no Estádio foi realizada no dia 13 de março de 1979, sem palanque, com Lula falando em cima de mesas e debaixo de chuva. Lula falava, os que estavam mais à frente repetiam em coro e assim, sucessivamente, os demais iam passando para trás. Dessa forma, o que muitos não acreditavam havia acontecido: milhares de trabalhadores, num campo de futebol, para discutirem seus problemas e decidirem sobre seu destino. Aquilo lhes dava sentimento de união, força e coragem para enfrentarem os desafios da greve: a repressão policial do regime militar e as diversas formas de intimidação e pressão política dos patrões…”.
Trecho original do livro organizado por Aloizio Mercadante, Luís Flávio Rainho e outros Imagens da Luta, 1905-1985. (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico, 1987, p.165)
Filmes e documentários
O filme acompanha a luta das greves do ABC paulista, em 1979. Mostra a repressão e a resistência dos trabalhadores e o apoio crucial da Igreja e da sociedade civil que garantiu, com doações de alimentos e fundos, os 45 dias de greve. (Confira íntegra)