O último período, no qual nos encontramos, revela uma pobreza de um novo tipo, uma pobreza estrutural globalizada, resultante de um sistema de ação deliberada. Examinado o processo pelo qual o desemprego é gerado e a remuneração do emprego se torna cada vez pior, ao mesmo tempo em que o poder público se retira das tarefas de proteção social, é lícito considerar que a atual divisão “administrativa” do trabalho e a ausência deliberada do Estado de sua missão social de regulação estejam contribuindo para uma produção científica, globalizada e voluntária da pobreza […].
Nesta última fase, os pobres não são incluídos nem marginalizados, eles são excluídos. A divisão do trabalho era, até recentemente, algo mais ou menos espontânea. Agora não. Hoje, ela obedece a cânones científicos […] e é movida por um mecanismo que traz consigo a produção das dívidas sociais e a disseminação da pobreza numa escala global […].
Essa produção maciça da pobreza aparece como um fenômeno banal. Uma das grandes diferenças do ponto de vista ético é que a pobreza de agora surge, impõe-se e explica-se como algo natural e inevitável. Mas é uma pobreza produzida politicamente pelas empresas e instituições globais […] E isso se dá com a colaboração passiva ou ativa dos governos nacionais […].
Os excluídos são o fruto dessa racionalidade.
(Milton Santos. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. 6a ed. Rio de Janeiro: Record, 2001)
Eldorado dos Carajás
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Campanha Contra a Fome – Ação da Cidadania
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