Um ano depois do início da guerra no Leste Europeu, Lula intensifica pressão diplomática pela paz e conversa com Volodymyr Zelensky. A Rússia se mostra disposta a dialogar: o chanceler Sergei Lavrov vem a Brasília no mês de abril

Enquanto o mundo assiste estupefato a escalada da guerra na Ucrânia, que completou um ano em 20 de fevereiro, com cerca de 300 mil mortos — Eirik Kristoffersen, chefe das Forças Armadas da Noruega fez a estimativa de 180 mil soldados russos mortos ou feridos e na Ucrânia, algo em torno de 130 mil civis e militares — uma proposta para o início das negociações de paz está sendo construída pelo Brasil.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem intensificado uma campanha para mediar o fim da guerra entre Rússia e Ucrânia, ao mesmo tempo que vem trabalhado para recolocar o Brasil no palco global das nações. O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Mikhail Galuzin, disse no final do mês que Moscou está estudando a proposta de Lula para encerrar o conflito enquanto continua avaliando a situação na Ucrânia.

Na quarta-feira, 1º de março, o tema voltou a ser tratado pelo ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) ao se encontrar com Sergei Lavrov, o poderoso chanceler da Rússia. Os dois se sentaram para conversar durante o encontro de cúpula do G20, em Nova Dhéli, na Índia. Segundo o Itamaraty, Lavrov deve vir ao Brasil em abril para avançar na relações entre o Kremlin e o Palácio do Planalto. E o presidente da Ucrânia, afirmou no dia 24 de fevereiro que tem interesse em se encontrar com Lula.

Na quinta, 2, Lula ligou para Zelensky em mais um sinal do esforço do Brasil de se posicionar como interlocutor para um eventual processo de mediação na guerra. “É urgente que nações que não estejam envolvidas na guerra assumam o papel de encaminhar negociações para o restabelecimento da harmonia entre Rússia e Ucrânia”, afirmou. O líder ucraniano apresentou queixas sobre questões humanitárias provocadas pela guerra e destacou a importância do Brasil como mediador.

Ainda em fevereiro, Vieira se encontrou com o chanceler ucraniano, Dmytro Kuleb em Munique, na Alemanha. O ministro esteve reunido com chefes da diplomacia da Europa, do Reino Unido e de diversos outros países nas últimas semanas. As chances de as conversas prosperarem são pequenas. Isso porque, apesar do esforço de Lula, o Kremlin e a Casa Branca vêm ampliando suas críticas de parte a parte, enquanto a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) segue fornecendo armas, munição e dinheiro para Kiev.

Na visita que fez a Washington, no início do mês passado, Lula sugeriu a criação de um grupo de países, incluindo Índia, China e Indonésia, para mediar as negociações de paz entre as nações. Ele tem dito que o mundo está cansado da guerra. China, Turquia e outros países também vêm tentando mediar as negociações.

Nenhuma proposta formal do Brasil foi enviada à Rússia, segundo dois funcionários do governo Lula que pediram anonimato para discutir detalhes da ofensiva diplomática, segundo detalhou a Bloomberg. Mas Moscou está discutindo a ideia com base nos comentários públicos de Lula sobre o conflito. Nos últimos dias, diplomatas intensificaram os esforços para apresentar o plano a embaixadores internacionais e conversaram com homólogos de pelo menos 21 países sobre a ideia durante a Conferência de Segurança de Munique.

“Os chanceleres discutiram a situação atual da guerra, a posição brasileira sobre o conflito e a contribuição do Brasil para a resolução a ser votada na Assembleia Geral das Nações Unidas, que pede a cessação das hostilidades pela primeira vez”, disse Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores.

Lula, em linha com a política externa tradicional do Brasil, tem buscado se apresentar como um mediador de conflitos em um mundo multipolar, ao invés de um aliado automático dos Estados Unidos e da União Europeia. Desde que assumiu o cargo em janeiro, ele tem discutido o conflito com líderes globais, incluindo os presidentes da França, Emmanuel Macron, dos EUA, Joe Biden, além do chanceler alemão, Olaf Scholz.  •

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