Recentemente o equívoco e o excesso, no caso do porte de armas, tem gerado notícias aterrorizantes. A mais recente ocorreu em Sinop, no Mato Grosso: bolsonaristas mataram seis pessoas em bar

Na terça de carnaval, 21 de fevereiro, o que seria um tranquilo jogo de sinuca acabou em banho de sangue. Seis morreram no bar — incluindo uma adolescente de 12 anos — e um homem foi socorrido em estado grave pelo Corpo de Bombeiros, mas não resistiu. Os eventos não ocorreram em uma cidade perdida no interior dos Estados Unidos, mas em Sinop (MT).

As imagens que chocaram o país mostravam dois homens, um deles com escopeta, abrindo fogo e atirando na cabeça das vítimas. O motivo, mais fútil não poderia ser: os assassinos não aceitaram o resultado do jogo e decidiram exterminar os vencedores.

Os assassinos, identificados como Edgar Ricardo de Oliveira, de 30 anos, e Ezequias Souza Ribeiro, de 27 anos, estavam jogando sinuca com as vítimas e perderam uma quantia significativa de dinheiro no jogo. Uma rápida visita pelas redes sociais dos homens mostra que ambos são defensores do porte de arma e eleitores do derrotado Jair Bolsonaro.

Os dados alarmantes da violência — e sua banalização — nacional não cessam: feminicídios em alta, assassinatos de crianças, latrocínios e muitas ameaças. Se em Sinop o sangue escorreu no carnaval, o que podemos constatar é que eventos desse porte podem seguir ocorrendo.

Levantamento exclusivo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indica que mais de 6,3 mil assassinatos poderiam ter sido evitados no Brasil se a gestão de Jair Bolsonaro não tivesse flexibilizado a comercialização de armas de fogo e munição, logo no início do seu governo, em 2019.

A partir dos dados de 2020 do Fórum de Segurança, é possível dizer que em cada grupo de 100 brasileiros há ao menos uma arma particular disponível. “Os dados chamam atenção tanto pelo aumento expressivo do número de armas que entraram em circulação nas mãos de particulares e a velocidade que isso vem acontecendo, como pela flagrante deterioração dos mecanismos de controle de armas ilegais”, aponta o relatório. “Em outras palavras, enquanto alguns segmentos da população brasileira se armam de modo acelerado, o Estado vem diminuindo sua capacidade de mitigar os efeitos nocivos destas mesmas armas gerando toda sorte de violências”.

A pesquisa ressalta que, embora a redução dos níveis de violência letal seja motivo de comemoração, o país ainda convive com um cenário de violência extrema, assumindo o oitavo lugar entre as nações mais violentas do mundo.

“As pesquisas mostram que a difusão de armas de fogo não apenas representa um fator de risco para toda a sociedade, mas conspira contra a segurança dos próprios lares dos indivíduos que possuem tais artefatos, ao contrário do que pensa o senso comum”, ressalta o documento divulgado pelo Fórum. Para cada 1% a mais na difusão de armas há aumento de 1,1% na taxa de homicídio e 1,2% nos latrocínios.

Entre os primeiros decretos assinados durante a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem um editado que busca reestruturar a política de controle de armas no país. Na prática, a medida reduz o acesso às armas e munição. O decreto suspende o registro de novas armas de uso restrito de CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores). E interrompe também as autorizações de novos clubes de tiro.

E como anunciado e prometido durante o processo eleitoral, o que se espera é a construção de um caminho de paz, sem violência, sem chacinas e com resolução de conflitos por meio do diálogo e respeito à vida alheia. •

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