O Brasil ainda está longe de assegurar a todos o acesso à internet. Atualmente, 28,2 milhões de pessoas com mais de 10 anos não entram na web

As questões que se levantam, depois de mais de uma década em que o alcance da comunicação digital se multiplicou, é quais informações chegam, para quem e de que maneira. Dados do IBGE de 2021 apontam que, no Brasil, 15,3% da população brasileira (28,2 milhões de pessoas) acima dos 10 anos ainda não têm acesso à internet.

Em recortes da pesquisa, vai ficando explícita o tamanho da desigualdade: 28,7 milhões de pessoas não tinham celular (15,6% da população com 10 anos ou mais), o meio mais utilizado para ter acesso às plataformas digitais. Em 2021, 98,8% dos que usam internet o fazem pelos dispositivos móveis.

A principal função da internet se tornou as chamadas de vídeo e de voz (94,9%), ou seja, os serviços oferecidos pelos aplicativos de mensagens instantâneas, como o WhatsApp e similares. A faixa etária que mais utiliza a internet é dos 25 e 29 anos (94,5%). Nos estratos mais avançados, com 60 anos ou mais, o percentual  chega a mais da metade.

Na pergunta sobre as razões pelas quais explicam o não-uso da internet emergem também outros dados que valem a reflexão: não sabiam utilizar a internet (42,2%); falta de interesse em acessar a internet (27,7%) e serviço de acesso à internet ou equipamento eletrônico necessário era caro (20,1%). 

A pesquisa de indicadores socioeconômicos, divulgada em setembro de 2022, baseia-se na PNAD contínua, suspensa em 2020 devido à pandemia, bem como ao quase desmonte do IBGE durante os anos bolsonaristas. Na comparação com a última tomada de dados, de 2019, há um ligeiro avanço no acesso à internet — naquele ano, eram 36,9 milhões de indivíduos ou 20,5% da população acima de 10 anos —, mas persiste uma parcela significativa de excluídos digitais.

Portanto, há uma exclusão digital no país. É de se supor que, para estes excluídos, a quantidade e qualidade de informação que chega seja, ao mesmo tempo, restrita e com menor possibilidade de comparação. Também a possibilidade de uso de serviços digitais, públicos ou privados, como os bancários, financeiros, as concessionárias de fornecimento de água, eletricidade e telefonia decresce e se mostra mais complexa. A chegada do auxílio emergencial na pandemia foi exemplo claro como o acesso limitado à internet é também gerador de mais desigualdade.

No que diz respeito às fake news e às mentiras que, o tema passa para um patamar ainda maior de responsabilidade das empresas proprietárias das grandes plataformas. Isso porque, de certa maneira, quem decide o que circula, verdade ou mentira, é determinado pelos mecanismos que regem a exibição — ou não — de determinado conteúdo.

Nos últimos anos, o fenômeno da desinformação interferiu em processos políticos em vários países do mundo, chegando a ameaçar os próprios fundamentos da democracia. Além disso, as mentiras e fake news disseminaram discursos de ódio os mais variados, provocando retrocessos importantes em direitos humanos e sociais já conquistados.

Em outras palavras, as redes são rápidas para disseminar fake news — e lentas para desmenti-las. Numa situação de risco mundial, como foi a pandemia, as plataformas digitais tiveram sua prova de fogo, quando foram impelidas a retirar conteúdo e derrubar perfis que apostavam em tratamentos inócuos e perigosos. Isso sem falar na ocultação de informação confiável sobre tratamento, cuidados sanitários e sociais, que pudessem ajudar a salvar vidas. O negacionismo, as balelas de tratamento precoce e a minimização da gravidade da pandemia foram responsáveis por muitas mortes evitáveis. •

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