Ocupações realizadas por trabalhadores são comparadas por bolsonaristas aos ataques terroristas de 8 de janeiro. Mas, sem violência, os sem-terra cobram o cumprimento de acordo na Bahia

Entre o final de fevereiro e o início de março, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) deu início a uma nova jornada de ocupações de latifúndios na Bahia. No dia 27, um grupo de 1,5 mil pessoas ligadas ao movimento ingressou em três fazendas de plantação de eucalipto, de propriedade da gigante Suzano Papel e Celulose, localizadas nos municípios de Teixeira de Freitas, Mucuri e Caravelas, no extremo sul da Bahia. Em 1º de março, 150 mulheres sem-terra ocuparam uma fazenda improdutiva na região da Chapada Diamantina.

A ocupação das propriedades da Suzano foi a que mais chamou a atenção e provocou críticas em setores da imprensa e clamor nas redes sociais bolsonaristas. Nos perfis dos apoiadores do ex-presidente os ataques foram explícitos, tentando comparar o movimento com o terrorismo promovido por radicais apoiadores do líder da extrema-direita, em 8 de janeiro, em Brasília. Os críticos mais exaltados cobraram prisões para os militantes, alegando incoerência por parte do governo federal e da Justiça.

Na mídia comercial, o tom adotado nas páginas de jornais foi mais comedido, mas em sentido semelhante, como à espera de rigor punitivo sobre os sem-terra. Nada muito fora do habitual.

Por sua vez, o MST afirma que a ocupação das propriedades da Suzano tem dois objetivos principais: denunciar a devastação ambiental provocada por amplas plantações monoculturais de eucalipto e cobrar um acordo firmado com a empresa e o Incra em 2011. Extensas plantações de eucalipto produzem danos ao lençol freático e ressecam o solo. Já o acordo não cumprido prevê o assentamento de 750 famílias.

No dia 1º de março, a Justiça de Mucuri (BA), cidade onde se localiza uma das propriedades da Suzano, determinou  a reintegração de posse. Lideranças do MST na Bahia afirmaram que não pretendiam oferecer resistência.

O governo federal afirmou que vai buscar um entendimento entre o MST e a Suzano. O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, destacou a pendência da empresa e que acredita em retomada das negociações. O MST retoma as ocupações após a suspensão dessa tática durante o governo Bolsonaro.

Em comunicado, o movimento afirmou que, “apesar das expectativas com o governo Lula em relação à reforma agrária”, os integrantes do MST estão preocupados com a fome, o desemprego e o desmatamento e que acionaram o “alerta amarelo” diante da demora do governo federal em nomear alguém para a Presidência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

“O MST, ciente da missão em lutar pela reforma agrária e pela justiça social, também reafirma nossa luta contra os desmandos da Empresa Suzano Papel e Celulose em nosso território, e exigimos que arquem com os graves passivos ambientais, sociais e econômicos”, declara a página oficial do movimento, que diz que o ato se trata de uma “denúncia” contra a monocultura de eucalipto na região e o uso de agrotóxicos pela empresa, que vem prejudicando as áreas de agricultura familiar. •

`