A gravação feita em 2020 por Ramagem, no comando da Abin, teve o sigilo derrubado pelo ministro

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Nesta segunda-feira (15), o ministro Alexandre de Moraes retirou o sigilo de uma gravação feita durante a investigação do caso relacionado à chamada “Abin Paralela” – um suposto esquema de espionagem ilegal feita pela agência de inteligência subordinada à Presidência da República durante a gestão de Bolsonaro. 

O áudio, de acordo com informações da Polícia Federal, foi captado por Alexandre Ramagem, que estava no comando da Abin, em uma reunião em setembro de 2020 e trouxe pontos sensíveis de uma conversa envolvendo o então presidente Jair Bolsonaro, o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, e as advogadas de Flávio Bolsonaro sobre os desdobramentos da investigação da qual o senador era o alvo, o esquema das rachadinhas. 

“Neste áudio é possível identificar a atuação do Alexandre Ramagem indicando, em suma, que seria necessário a instauração de procedimento administrativo contra os auditores da Receita com o objetivo de anular a investigação, bem como retirar alguns auditores de seus respectivos cargos”, afirma a PF.

A polícia teve acesso à gravação a partir de Ramagem, no âmbito da apuração dos trabalhos realizados pela Abin naquele período, com isso, acabou sendo revelada uma reunião que evidencia uma tentativa do presidente Bolsonaro de blindar seu filho em uma investigação que surgiu graças a auditores da Receita Federal.

Abin Paralela

A quarta fase da operação que investiga a atuação da chamada “Abin paralela” foi deflagrada na última quinta-feira (11) pela Polícia Federal. Foram cumpridos cinco mandados de prisão preventiva e sete mandados de busca e apreensão, a partir do Supremo Tribunal Federal, em Brasília, Curitiba, Juiz de Fora, Salvador e São Paulo.

Dentre os presos, estão agentes que trabalhavam diretamente para Alexandre Ramagem, que atualmente é deputado federal e pré-candidato a prefeito do Rio de Janeiro pelo PL, além de ser ligado à família Bolsonaro, que tem o vereador Carlos Bolsonaro (PL) como um dos investigados no âmbito da operação. 

Os sete alvos são influenciadores digitais que trabalhavam para o chamado “gabinete do ódio” e policiais cedidos à Abin: Mateus de Carvalho Spósito, Richards Pozzer, Marcelo Araújo Bormevet e Giancarlo Gomes Rodrigue e Rogério Beraldo de Almeida, José Matheus Sales Gomes e Daniel Ribeiro Lemos. 

A espionagem da Abin paralela utilizava o software de monitoramento First Mile e teve uma lista variada de espionados, dentre representantes do judiciário, como ministros do STF, e políticos, em especial aqueles que participaram da CPI da Covid e outros considerados desafetos do bolsonarismo pelo viés da direita; no campo da comunicação, jornalistas também foram monitorados. Entidades como a ABI, Associação Brasileira de Imprensa, e a Fenaj, Federação Nacional dos Jornalistas, repudiaram o que consideram um ataque à liberdade de imprensa. 

Facada 

Segundo o documento da PF, houve registros de pesquisas no sistema espião de uma operação denominada “Adelito”, uma possível referência a Adélio Bispo, autor do atentado contra Jair Bolsonaro em 2018, durante a campanha eleitoral em Minas Gerais. 

A polícia encontrou 114 pesquisas no software feitas pelo grupo, em abril de 2020; segundo o relatório, o indicativo de que os investigados buscavam saber se havia relação entre Adélio e opositores do ex-presidente, incluindo o ex-ministro José Dirceu (PT), na perspectiva de discordar do resultado da investigação da PF que apontou que o autor do atentado havia agido sozinho.

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