Fernanda Otero

Após 171 dias de conflito e tentativas anteriores para conseguir uma trégua em Gaza, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução de cessar-fogo imediato na região do conflito. A resolução também exige a liberação imediata e incondicional de todos os reféns, bem como a garantia de acesso humanitário para atender às necessidades médicas e humanitárias.

A proposta foi apresentada conjuntamente por 10 membros do conselho: Argélia, Equador, Guiana, Japão, Malta, Moçambique, Coreia do Sul, Serra Leoa, Eslovênia e Suíça. A aprovação foi aplaudida antes mesmo do anúncio do resultado, assim que perceberam a abstenção dos EUA.

A resolução recebeu 14 votos favoráveis e uma abstenção dos EUA. 

O Conselho de Segurança é composto por 15 membros, sendo 5 membros permanentes com poder de veto: Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e República Popular da China. O Japão ocupa a presidência rotativa em março, representado pelo embaixador Yamazaki Kazuyuki. 

O representante da Rússia, Vassily Nebenzia, propôs uma emenda oral para inlcuir a palavra “permanente”. “Qualquer coisa diferente pode significar permissão para Israel continuar seus ataques”, disse ele. Com os votos a favor da Argélia, China e Rússia; o voto contra dos Estados Unidos e 11 abstenções, a emenda foi rejeitada por não alcançar o número necessário de votos.

A resolução exige um cessar-fogo imediato pelo mês do Ramadã, um período sagrado para os muçulmanos que começou em 10 de março e termina em 9 de abril. O Conselho enfatizou a necessidade urgente de expandir a assistência humanitária e fortalecer a proteção dos civis em Gaza, além de exigir a remoção de todas as barreiras à assistência humanitária, em conformidade com o direito humanitário internacional.

O embaixador da França, Nicholas de Rivière, declarou que “o silêncio do Conselho de Segurança sobre Gaza estava se tornando ensurdecedor” e que era chegada a hora de o Conselho “finalmente contribuir para encontrar uma solução para a crise”. O embaixador da China, Zhang Jun, disse que “para as vidas que já se perderam, a resolução do Conselho chega tarde demais”.

O Observador Permanente do Estado da Palestina, Riyad Mansour, classificou a resolução como um “voto tardio para a humanidade prevalecer”. Ele afirmou que seria um momento decisivo para conduzir à salvação de vidas na região. 

Reação de Israel 

A abstenção dos EUA, que viabilizou a aprovação da resolução, provocou uma imediata resposta do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. Israel cancelou a visita a Washington de uma delegação de alto nível para discutir uma ofensiva israelense à cidade de Rafah, localizada ao sul de Gaza. Os EUA manifestaram sua objeção a essa ação.

O porta-voz de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, em coletiva de imprensa, disse que a Casa Branca estava “perplexa” com o cancelamento da visita. Kirby também afirmou que a votação da ONU não representava “uma mudança na política dos EUA”.

Ele anunciou que Biden toma decisões com base nos interesses de segurança nacional dos Estados Unidos, e que a decisão de se abster da resolução estava alinhada com esses interesses e com as preocupações de segurança nacional do povo de Israel. Kirby acrescentou que o texto final não continha a linguagem-chave que condenava o Hamas.

Repercussão 

Para o Jornal The Guardian, do Reino Unido, a decisão dos EUA isolou Israel. O jornal publicou uma reportagem apontando a crescente frustração em Washington com a insistência do primeiro-ministro israelense em levar adiante o ataque a Rafah.

O site Jacobin dos EUA, publicou um artigo do fundador do Voz Judia pela Paz na Irlanda, Professor Laurence Davis. O professor analisa que a mudança do presidente Biden deveria trazer preocupações éticas e humanitárias, incluindo o risco iminente de fome afetando mais de um milhão de pessoas. Ele ponderou que a abstenção indicaria uma possível mudança, mas ainda insuficiente, pois, apesar de decisões judiciais e pressão popular, Biden mantém seu apoio a Israel. 

Com informações da ONU, The White House, The Guardian e Jacobin USA

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