Ex-presidente sinaliza rompimento com o governo de Luis Arce e diz que pretende disputar a Presidência da Bolívia em 2025. O MAS está dividido e rompimento mostra a crueza da disputa política

Ex-presidente da Bolívia, Evo Morales anunciou no domingo, 24, sua candidatura às eleições presidenciais de 2025. Ele disse que a os adversários o obrigam a tomar tal decisão pela qual vai batalhar pela volta ao poder, em meio à divisão interna do Movimento para o Socialismo (MAS). Este é o primeiro anúncio eleitoral oficial para as eleições de 2025, embora outros setores do governo promovam uma eventual candidatura do atual presidente Luis Arce, que quer disputar a reeleição.

“Eles me convenceram que vou ser candidato, me forçaram, claro que as pessoas querem, mas estou sendo forçado pela direita, pelo governo e pelo império”, disse Evo, no programa de rádio Kawsachun Coca, estação dos sindicatos de cocaleiros que Morales preside há mais de 30 anos e que constituem seu reduto mais leal. Principal líder do MAS, ele acrescentou que há uma campanha “suja” contra ele, já que a oposição o chama de “narcotraficante”, enquanto o governo do presidente Luis Arce e do vice-presidente David Choquehuanca apontam-no como o “rei da cocaína”.

“Não vamos desistir e vamos estar nesta dura batalha democrática, agora para construir propostas, tenho uma reunião com empresários, saúdo que as propostas venham, temos que construir a agenda pós-bicentenário”, disse. O ex-presidente lamentou que Arce, que foi ministro da Economia durante seu governo, não tenha avançado na agenda que realizaram com 13 pilares rumo ao bicentenário do país.

Como em outras ocasiões, Evo denunciou que o governo de Luiz Arce planeja deslocá-lo do partido “com processos políticos”, na tentativa de tirá-lo do cenário político boliviano. Ele também alertou para a possibilidade de “eliminá-lo” fisicamente. “Vamos enfrentar com a verdade, dignidade e honestidade toda aquela agressão que sofremos nas redes sociais da Presidência”, disse.

O anúncio de Morales acontece a poucos dias do congresso nacional do MAS, que será realizado de 3 a 5 de outubro no trópico de Cochabamba, um dos bastiões políticos que também foi motivo de disputa na esquerda. Os aliados de Arce tentaram que esse congresso fosse realizado na cidade de El Alto, perto de La Paz. Arce defende a renovação do MAS, começando pelo próprio Morales. Mas os líderes próximos a Morales já advertiram que as indicações do partido serão decidida sobre a expulsão de Arce e Choquehuanca, que eles chamam de “traidores”.

Morales disse que seus detratores procurarão desativar sua candidatura “usando uma mulher” como “a direita o fez” durante a crise de 2019, quando em meio a denúncias de fraude eleitoral a seu favor ele renunciou denunciando a trama de um golpe de Estado. Diante da renúncia de todos os que estavam na linha de sucessão, a senador Jeanine Áñez, da oposição, assumiu interinamente a Presidência.

“Nunca vamos desistir irmãs e irmãos! Unidos vamos salvar novamente a nossa querida Bolívia!”, comentou Morales. No último sábado, a cúpula do MAS, que é próxima do ex-presidente, acusou o governo de Arce de uma suposta pressão ao Supremo Tribunal Eleitoral através de alguns líderes para tentar invalidar o congresso do partido.

Também no sábado, o vice-presidente David Choquehuanca chamou a unidade e disse estar cansado do confronto. Choquehuanca advertiu que “se continuar assim, o povo pode ficar zangado com a classe política e quando ele irrita o povo, ele pode estar chutando o cão errado”. O ministro das Obras Públicas, Serviços e Habitação, Édgar Montaño, acusou Morales de levar o MAS à “sepultura” por dar atenção a pessoas que mentem e têm “fome de poder”.

As lutas internas no MAS começaram no final de 2022 com críticas à gestão do governo e denúncias de corrupção contra alguns ministros. Outros conflitos têm a ver com a paralisação das eleições judiciais ou a eleição de executivos de dois setores (evista e arcista) na Confederação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia (CSUTCB). •

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