A maior banda de rock’n’roll do mundo continua na ativa e lança “Hackney Diamonds”, um disco que mostra três octagenários soando como músicos rejuvenescidos pelo frescor da música

Olímpio Cruz Neto

Eu sei, é só rock’n’roll, mas eu gosto. Há algumas semanas, a banda sexagenária Rolling Stones, o mais amado e odiado grupo da era dourada do rock no século 20 — só superada em devoção pelos Beatles —, anunciou o lançamento do disco “Hackney Diamonds”, o primeiro álbum original desde 2025. Houve vem quem fizesse muxoxos, outros zombaram da idade dos caras. Mas Mick Jagger, Keith Richards e Ron Wood, o trio que ainda carrega a bandeira de uma das mais longevas bandas dos anos 60, continuam fazendo boa música. Isso aos 80 anos de idade.

Os Stones andam sobre o fio da navalha da própria história, fazendo um rock honesto e vigoroso, com Mick soando melhor do que outros amigos de geração. Os caras ainda têm coragem de arriscar-se na indústria da música pop, que anda domesticada pelo consumo fácil do streaming a embalar qualquer canção em um produto palatável para ser consumido entre postagem de fotos no instagram, corridas na academia e passeios com earbuds.

“Hackney diamonds” são os cacos quebrados deixados após um esmagamento, mas o produtor americano Andrew Watt garante que a nova obra dos Stones é um disco desafiador. Um pouco exagerado, se você reparar no vídeo em que Sydney Sweeney surge a bordo de um carro passeando pelas ruas de Los Angeles, enquanto os Stones dos tempos áureos nos anos 70 e 80 se dublam em outdoors gigantes espalhados pela cidade, ao som de “Angry”, com fotografia saturada e trucagens de computação gráfica. Ainda assim, é rock bom e energético.

O disco tem um som poderoso e encorpado, com participações de velhos amigos— Charlie Watts gravou as baterias antes de vir a falecer em 2021 e Bill Wyman, que se aposentou há décadas, também está presente — e colaboradores estelares: Elton John, Lady Gaga, Stevie Wonder e Paul McCartney, que toca baixo em uma porrada sonora chamada “Bite me my head off”. Impossível não se deixar empolgar pelos riffs poderosos de Keith e Ronnie, enquanto Mick se esgoela, soando como um moleque naqueles discos incríveis deles ainda no início dos anos 70.

Sobre a participação de Paul no álbum dos Stones, Keith comentou que eles são velhos conhecidos. “Os Beatles e os Stones foram basicamente unidos nos quadris desde o início. Éramos bandas totalmente diferentes, mas nos conhecíamos bem”, lembra. “Acho que os conhecemos pela primeira vez no outono de 1962, quando eles desceram para nos ver tocar em Londres, e de lá, de vez em quando, mantivemos contato”.

Segundo o velho guitarrista dos Stones, os dois grupos sempre foram rivais, mas se frequentaram durante muitos anos e mantinham uma respeitosa reverência distante na maior parte do tempo. Mas próximos o suficiente para não se perderem de vista. “Nós sempre estivemos em contato. Ronnie e eu costumávamos sair bastante com George Harrison na década de 1970, então sempre houve uma porta aberta entre os Beatles e os Stones. Nós éramos os únicos que sabiam como é ter esse tipo extremo de fama na década de 1960, então isso criou um vínculo”, lembra.

Se este é o canto do cisne do grupo, eles fizeram um belo trabalho. O disco é mais denso do que muitas obras lançadas nos anos 90 e 2000. O álbum é encerrado com uma versão crua e acústica da música que deu nome à banda: “Rolling Stone Blues”, do idolatrado Muddy Waters. O melhor dos Stones em tempos. E que glorioso ouvi-los em plena forma, com a guitarra de Keith escorrendo notas lancinantes e a gaita de Mick uivando. Eles ainda estão soando provocativos, passados 60 anos.  •

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