A semana na história – 12 a 18 de junho
14 de junho de 1940 – Paris é ocupada por tropas nazistas
Depois de Bélgica, Países Baixos e Luxemburgo, chega a vez da França. Em 14 de junho, cai Paris, e as tropas nazistas desfilam na Champs-Elysées, avenida mais famosa da Cidade Luz, para desespero dos franceses.
Dias antes, o governo francês havia fugido para o sudoeste do país, esperando que a linha Maginot — complexo de fortalezas e túneis interligados, construído ao longo da fronteira com a Alemanha — detivesse o ímpeto dos nazistas. Estes, no entanto, deram a volta, avançando pelo território belga e luxemburguês, mais ao norte, e chegaram a Paris sem enfrentar grande resistência. Milhares de franceses ocuparam as estradas, procurando fugir dos nazistas.
Um armistício entre França e a Alemanha seria assinado em 22 de junho. Por esse acordo, o território francês ficaria dividido em duas zonas: uma ao norte, ocupada diretamente pelos alemães, e outra ao sul, com capital em Vichy, governada pelo marechal Philippe Pétain, simpático aos nazistas.
O general Charles de Gaulle, que se refugiara em Londres, anunciou a continuidade da resistência. A ocupação alemã na França só terminaria em 1944.
15 de junho de 1953 – Trabalho tem novo ministro: é Jango
O presidente Getúlio Vargas demite o ministro do Trabalho, o carioca Segadas Viana, e nomeia para o cargo outro petebista, o jovem deputado gaúcho João Belchior Marques Goulart, mais conhecido como Jango. A mudança reverte o desgaste acumulado pelo governo com a Greve dos 300 Mil, iniciada em março e violentamente reprimida pela Guarda Civil, pela Força Pública e pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo.
Os grevistas — trabalhadores da indústria têxtil, fábricas de vidro, distribuição de gás, construção civil, fábricas de sapatos, doces, conservas, tintas e cerveja e telefonia — pediam reajuste salarial de 50% a 60% para repor as perdas impostas pela alta inflação, decorrente da política econômica do governo anterior.
Em meio à crise provocada pela greve, João Goulart, presidente do PTB, foi chamado por Vargas para mediar o conflito dos trabalhadores com o governo. Em uma sala no Catete, empenhou-se na difícil tarefa de levar os sindicalistas a um acordo, enquanto o Ministério do Trabalho jogava a polícia contra os grevistas. Nessa tarefa, Jango entrou em rota de colisão com Segadas Viana, ministro do Trabalho, que saiu perdendo — foi demitido.
À frente do Ministério do Trabalho, Jango inauguraria um novo estilo de relação entre Estado e sindicatos, em que a polícia daria lugar à negociação. Dessa forma, ele acabaria aproximando ainda mais do PTB os líderes dos trabalhadores.
16 de junho de 1954 – Impeachment de Getúlio é rejeitado
Somente 35 deputados federais votam a favor do pedido de impeachment do presidente Getúlio Vargas, que é rejeitado por 136 parlamentares, em mais uma etapa da luta sem tréguas movida pela UDN, em aliança com oficiais conservadores das Forças Armadas, para desestabilizar o governo.
As tentativas de abrir um processo que levasse ao afastamento de Getúlio vinham desde o “caso Última Hora”, no ano anterior. Em março de 1954, as denúncias dos jornais oposicionistas sobre uma suposta aliança de Getúlio com o presidente argentino Juan Domingo Perón, para reviver o Vice-Reinado do Prata, serviram de pretexto para nova tentativa, capitaneada pelos deputados udenistas Aliomar Baleeiro e Odilon Braga.
Quando Getúlio remeteu ao Congresso dois projetos — extensão dos direitos trabalhistas aos trabalhadores do campo e criação da Eletrobrás —, Baleeiro voltou à carga, no que foi criticado pelo deputado udenista e jurista Afonso Arinos, que sustentou não haver bases legais para o impeachment.
Nos bastidores, o brigadeiro Eduardo Gomes tentou dissuadir Arinos. Diante do argumento de que o pedido de impeachment estaria fadado ao fracasso, Gomes explicou as reais intenções do grupo: “Isto é necessário para que se forme no meio militar uma consciência de que não há solução legal”.
A campanha pelo impedimento era apenas uma preparação para o golpe. O pedido de impeachment já havia sido rejeitado pelo relator, deputado Vieira Lins (PTB-PR), mas ainda assim a UDN forçou sua apreciação pelo plenário da Câmara, onde sofreu nova derrota.
Para boa parte da oposição, porém, o mais importante era criar um clima que tornasse insustentável a continuidade do governo Vargas. A votação foi precedida por uma intensa campanha midiática levada a cabo pelo jornalista Carlos Lacerda.
17 de junho de 1959 – O Brasil de Juscelino rompe com o FMI
O governo Juscelino Kubitschek rompe com o Fundo Monetário Internacional (FMI) após um ano de negociações. A ajuda financeira solicitada ao Fundo tinha sua liberação condicionada a um plano recessivo.
O empréstimo seria para reduzir a necessidade de emissão de moeda, à qual JK recorria para bancar os incentivos à industrialização. De outro lado, as exigências recessivas do FMI, se cumpridas, inviabilizariam o Plano de Metas que elegeu Juscelino.
Entre desacelerar a construção de Brasília e cumprir a orientação do FMI, Juscelino optou por romper relações com o fundo, em junho de 1959, reconquistando a simpatia da opinião pública.
13 de junho de 1964 – SNI: nasce o monstro da espionagem
Concebido pelo general Golbery do Couto e Silva, o Serviço Nacional de Informações (SNI) é criado pela Lei nº 4.341 para assessorar o presidente da República e o Conselho de Segurança Nacional. O SNI se tornou o principal órgão de espionagem da ditadura e peça-chave do Sistema Nacional de Informações (Sisni).
O SNI articulava-se com os ministérios militares, que tinham seus próprios serviços de informação – o Cenimar (Marinha) e, mais tarde, o CIE (Exército) e o Cisa (Aeronáutica) –, a Polícia Federal, os Dops estaduais e os serviços secretos das polícias militares, ocupando o centro da malha da chamada “comunidade de informações”. Nos ministérios civis, em empresas públicas e estatais, foram instaladas as Assessorias de Segurança e Informação (ASIs), que eram braços do sistema responsáveis pela vigilância política de funcionários e de ministros.
O SNI monitorou atividades dos cidadãos dentro e fora do Brasil. Em pouco tempo, o SNI tornou-se uma vasta teia de espionagem, intrigas políticas e negócios ilegais, a ponto de se atribuir ao general Golbery a frase “Criamos um monstro”.
14 de junho de 1971 – Stuart Angel Jones morre no Galeão
Militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), Stuart Angel Jones é preso no Grajaú, Rio de Janeiro, por agentes do Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa), para onde foi levado. Tinha um encontro marcado com o capitão Carlos Lamarca, mas conseguiu preservar o companheiro nos interrogatórios. Submetido a prolongadas sessões de tortura, foi por fim amarrado à traseira de um jipe e arrastado pelo pátio do quartel. A cada parada do jipe, os agentes levavam a boca do estudante ao cano de descarga e o forçavam a respirar os gases do escapamento. Morreu asfixiado e intoxicado por monóxido de carbono.
A Aeronáutica jamais reconheceu a morte de Stuart Angel, dado como “desaparecido”. Seu corpo teria sido transportado num helicóptero militar até a área da Restinga da Marambaia, para ser lançado ao mar. A estilista Zuzu Angel, mãe de Stuart, denunciou o seu desaparecimento ao governo dos Estados Unidos (ele era filho de pai norte-americano e tinha dupla cidadania) e passou os últimos cinco anos de sua vida exigindo uma resposta do regime. Ela morreu em 1976 num acidente de automóvel provocado por agentes da repressão.
A mulher de Stuart, Sônia Maria de Moraes Angel Jones, foi torturada e morta em São Paulo em 1973. Enterrada como indigente, seu corpo só seria identificado 18 anos mais tarde pela família, que pode então dar-lhe sepultura digna.
18 de junho de 1973 – Ditador absoluto, Médici faz sucessor
Em reunião com a Comissão Executiva Nacional da Arena, o general presidente Emílio Garrastazu Médici formaliza a indicação do seu sucessor: o general Ernesto Geisel, que na ocasião era presidente da Petrobras.
Geisel foi um dos conspiradores do golpe de 1964. Era ligado ao grupo da Escola Superior de Guerra, onde se desenvolveu a cultura anticomunista e pró-EUA das Forças Armadas nas décadas de 1950 e 1960. Foi chefe da Casa Militar do general presidente Castelo Branco, que o promoveu a general.
A indicação de Ernesto Geisel teve a influência de seu irmão mais velho, Orlando, ministro do Exército no governo Médici. Orlando Geisel foi o criador do DOI-Codi e comandou o aparato de repressão, tortura e morte de oposicionistas que se formou naquele período conhecido como “os anos de chumbo”.
Garrastazu Médici não encontrou contestações no meio militar à sua indicação – muito menos no seio da Arena. Tornou-se, assim, o primeiro presidente do ciclo da ditadura a concluir seu período de governo e “fazer” o sucessor.
Na reunião com a Executiva da Arena, Médici afirmou sobre Geisel: “O candidato em que me detive preenche de modo superabundante os pressupostos, havendo a mais completa segurança de que não permitirá, uma vez investido na Presidência da República, sofra qualquer desvio a filosofia econômica, social e política a que se filia a ordem revolucionária”.
13 de junho de 1980 – Lgbt e prostitutas denunciam violência
Militantes de 13 organizações se reúnem, à noite, na escadaria do Teatro Municipal de São Paulo em protesto contra as operações Limpeza e Rondão, comandadas pelo delegado José Wilson Richetti. Desde abril daquele ano, as polícias civil e militar vinham prendendo e espancando prostitutas, travestis e homossexuais no centro da cidade e em outras regiões da capital paulista. As ações tinham o apoio do comandante do 2° Exército, general Milton Tavares, e do governador Paulo Maluf.
Grupos homossexuais, feministas e negros passaram a se mobilizar contra a Operação Limpeza. Denunciaram as violências em entrevistas coletivas, entraram com representação judicial contra o delegado e fizeram panfletagem na cidade.
14 de junho de 1982 – Ditadura argentina perde nas Malvinas
A Argentina é forçada a se render incondicionalmente na guerra travada com o Reino Unido pela posse das Ilhas Malvinas. O confronto iniciado no dia 2 de abril termina 73 dias depois, com as mortes de 649 militares argentinos, 255 soldados britânicos e três civis.
A Junta Militar argentina esperava com a operação mobilizar o sentimento patriótico dos argentinos para se manter no poder. As ilhas, ocupadas pelo Reino Unido e chamadas de Falklands pelos britânicos, eram reivindicadas pela Argentina como parte de seu território desde 1833.
A invasão propiciou um curto período de popularidade ao governo militar argentino, que se esvaiu após a reação britânica. A crueldade da ditadura se estendeu até os campos de guerra. Nos anos seguintes, seriam recolhidos relatos de um sofrimento indizível dos jovens soldados argentinos: fome, frio e, principalmente, torturas e maus-tratos infringidos por seus próprios oficiais. Nos anos que se sucederam ao conflito, houve registros de pelo menos 400 suicídios de ex-combatentes.
No Reino Unido, o conflito salvou o governo de Margareth Thatcher. Antes da invasão das Malvinas, a derrota da primeira-ministra nas eleições daquele ano era considerada como certa, devido às medidas neoliberais impopulares tomadas pelo seu governo. Com a vitória, conseguiu recuperar popularidade e manter-se no cargo.
Na Argentina, o general presidente durante a guerra, Leopoldo Galtieri, teve que renunciar três meses após a derrota.
12 de junho de 1987 – Mais um plano tenta conter a inflação
O novo ministro da Fazenda, Luiz Carlos Bresser Pereira, apresenta ao país mais um plano econômico destinado a derrubar a inflação. Sua principal medida é o congelamento de preços e salários por três meses. Seu antecessor, Dilson Funaro, perdera o cargo devido ao fracasso do Plano Cruzado 2, lançado em novembro do ano anterior.
O plano previa desvalorizações da moeda frente ao dólar, de modo a favorecer as exportações e aumentar as reservas cambiais. Os salários, passado o período de congelamento, passariam a ser corrigidos pela taxa-base de variação da Unidade de Referência de Preço. O mecanismo acabou provocando fortes perdas no poder de compra dos trabalhadores.
12 de junho de 2000 – Sequestro de ônibus acaba em tragédia
Sandro do Nascimento, um dos sobreviventes da Chacina da Candelária, sequestra um ônibus da linha 174 no Jardim Botânico, zona sul do Rio de Janeiro, fazendo dez passageiros reféns. O drama do sequestro do ônibus 174 é um instantâneo da tragédia social brasileira. Sandro era menino de rua desde os seis anos de idade, quando a mãe foi assassinada. Viciou-se em drogas e praticava pequenos furtos no centro do Rio. Dormia na porta da Igreja da Candelária. Sobreviveu à chacina ocorrida havia sete anos e seguiu na mesma vida.
Na tarde de 12 de junho, Sandro entrou armado no ônibus. Passageiros conseguiram alertar a polícia sobre um possível assalto. O veículo foi cercado. Sandro tomou os reféns e, visivelmente drogado, ameaçava matá-los o tempo todo.
Após uma tarde inteira de tensas negociações com a polícia, Sandro saiu do ônibus usando a professora Geisa Gonçalves, de 20 anos, como escudo. Um policial tentou alvejar o assaltante, mas errou o tiro e atingiu a refém de raspão no rosto. Em reação, Sandro desferiu três tiros nas costas de Geisa. Dominado, Sandro foi levado para um camburão, onde seria asfixiado até a morte pelos policiais, absolvidos pelo Tribunal do Júri dois anos depois.