23 de agosto de 1931 – Repressão a comício mata operário

Polícia ocupa os principais pontos de Santos, cidade portuária paulista, para impedir a manifestação convocada pelo Socorro Vermelho Internacional e pela Federação Sindical de Santos para homenagear anarquistas executados nos Estados Unidos. Na praça da República, o conflito entre populares e a repressão tomou grandes proporções. Entre os estivadores que participavam dos protestos estava o ensacador de café Herculano de Sousa, negro e militante comunista. Atingido por um disparo da polícia, ele tombou agonizante e morreu nos braços de Pagu (a escritora Patrícia Galvão). Ela e a também comunista Guiomar Gonçalves acabaram presas. Primeira mulher presa por motivos políticos no Brasil, Pagu só foi libertada quase três meses depois. Os anarquistas homenageados no comício eram os migrantes italianos Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti, injustamente acusados de homicídio em Massachusetts, nos Estados Unidos, e executados em 23 de agosto de 1927. 

25 de agosto de 1961 – Jânio quadros renuncia à presidência da república e surpreende o país

Em curta mensagem enviada ao Congresso Nacional por meio do ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, o presidente Jânio Quadros renuncia ao mandato de presidente da República. Em outra mensagem, anexa à primeira, Jânio se declara “esmagado pelas forças” que o “intrigam” e o “difamam”. Era 25 de agosto de 1961, Dia do Soldado, uma sexta-feira. De manhã, sem dar nenhum sinal da decisão que abalaria o país horas depois, o presidente compareceu ao desfile militar na Esplanada dos Ministérios, passou a tropa em revista, ouviu a leitura da ordem do dia e hasteou a bandeira — tudo como manda o rito.

Aos jornalistas que o interrogaram sobre a acusação do governador da Guanabara, Carlos Lacerda — de planejar um golpe para aumentar os poderes presidenciais —, negou tudo. Voltou para o palácio, mandou chamar os ministros militares e comunicou oficialmente que estava renunciando ao cargo. Diante dos olhares atônitos, enfatizou: “Com esse Congresso não posso governar. Organizem uma junta e dirijam o país”.

22 de agosto de 1963 – ‘Vidas Secas’ retrata a miséria nordestina

A Cinematográfica Herbert Richers lança “Vidas Secas”, filme dirigido e roteirizado por Nélson Pereira dos Santos, baseado no romance homônimo de Graciliano Ramos. Nélson consegue com silêncios — o filme não tem sequer trilha sonora —, diálogos curtos, poucas frases e economia de palavras aproximar-se notavelmente da linguagem escolhida por Graciliano para expressar a realidade árida do Nordeste e denunciar a miséria dos sertanejos.

Em 1955, o diretor já havia dirigido “Rio, 40 Graus” (1955), que inaugurou uma nova forma de fazer cinema no país. “Vidas Secas” aproximava Nélson do movimento do Cinema Novo e, mais tarde, com “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, e “Os Fuzis”, de Ruy Guerra, ambos de 1964, comporia a chamada “trilogia do sertão”, que apresentaria ao Brasil desenvolvido e ao exterior uma realidade sem retoques do Nordeste.

As filmagens foram realizadas na cidade de Palmeira dos Índios, terra natal de Graciliano Ramos. Na fazenda onde viveu o escritor, cedida por seu filho para a produção, a topografia sertaneja e os personagens do livro estavam ao alcance da câmera. A luminosidade da região foi amplamente usada para reproduzir nas telas o efeito estético da obra literária.

23 de agosto de 1963 – ‘Eu tenho um sonho’, clama Luther King

“Eu tenho um sonho hoje”, discursa o ativista negro Martin Luther King a uma multidão de compatriotas, negros e brancos, que encerram a Marcha para Washington, num gigantesco comício diante do simbólico monumento ao presidente abolicionista Abraham Lincoln. “Eu tenho um sonho de que um dia, no Alabama, meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãos e irmãs”.

A luta por leis nacionais que garantissem o fim das leis segregacionistas estaduais ganharia o apoio do presidente democrata, que proporia uma lei de direitos civis. Kennedy seria assassinado logo depois, antes de vê-la aprovada, em 1964. Luther King, que mais tarde receberia o Nobel da Paz, também seria morto a tiros, em 1968, por extremistas.

24 de agosto de 1966 – Sargento morre de mãos amarradas

O corpo do sargento Manoel Raimundo Soares é encontrado boiando às margens do rio Jacuí, em Porto Alegre. Tem as mãos amarradas e marcas de tortura pelo corpo. Manoel Raimundo era ligado ao ex-governador Leonel Brizola e teve sua prisão decretada logo depois do golpe. Por isso, passou para a clandestinidade.

Preso em Porto Alegre por dois militares à paisana em março de 1966, foi levado ao Dops e em seguida transferido para a ilha-presídio existente no rio Guaíba. Em 13 de agosto, retornou ao Dops. Foi morto sob tortura quando estava sob responsabilidade do Estado.

O Caso das Mãos Amarradas, como ficou conhecido, chocou a opinião pública e deixou evidente a violência contra presos políticos praticada nos porões da ditadura. Pelo menos 379 militantes seriam assassinados por agentes da repressão durante o regime militar.

21 de agosto de 1968 – Tanques esmagam a Primavera de Praga

Tropas do Pacto de Varsóvia, liderado pela então União Soviética, invadem e ocupam a Tchecoslováquia para liquidar o movimento reformista que ficou conhecido como Primavera de Praga. O projeto de mudanças era impulsionado pelo primeiro-secretário do Partido Comunista Tcheco (PCCh), Alexander Dubcek, eleito para o cargo em janeiro de 1968. Apoiado por uma ala liberalizante do partido, Dubcek propôs um conjunto de reformas na política e na economia, afastando-se do modelo imposto pela União Soviética.

As reformas divulgadas em abril, início da primavera na Europa, apontavam para uma descentralização da economia estatal, mais liberdade de imprensa e de expressão. Dubcek também queria romper com o dogma do partido único, convocando uma Assembléia Nacional aberta a correntes políticas fora do PCCh. O conjunto de mudanças ficou conhecido como “um socialismo com face humana”.

A Primavera de Praga era intolerável para a União Soviética, que temia que os demais países do bloco comunista fossem contagiados pela liberalização. Enquanto os tanques marchavam em direção a Praga, Dubcek e outros dirigentes eram presos e levados a Moscou.

A resistência pacífica da população conseguiu retardar o avanço dos tanques, por meio de sabotagens e sonegação de informações aos invasores, coordenadas por uma engenhosa rede clandestina de rádio.

22 de agosto de 1976 – Funerais de Juscelino reúnem multidões

OLIVEIRA= SR. JUSCELINO KUBITSCHEK DE Seus funerais em Brasília 23.08.1976

O ex-presidente Juscelino Kubitschek morre num acidente de automóvel no quilômetro 165 da via Dutra, próximo à cidade de Rezende (RJ). JK viajava de São Paulo para o Rio no banco traseiro de um automóvel Opala dirigido por seu  secretário e motorista particular, Geraldo Ribeiro. O carro colidiu de frente com um caminhão, provocando a morte instantânea de seus ocupantes. Os funerais e o enterro do ex-presidente reuniram multidões no Rio e em Brasília, nas maiores homenagens públicas recebidas por um político brasileiro desde a morte de Getúlio Vargas.

Eleito presidente da República em 1955 pelo voto direto, JK era um dos políticos mais populares do país na época do golpe de 1964. Senador pelo PSD, planejava candidatar-se ao Planalto nas eleições que a Constituição previa para 1965 – canceladas  pela ditadura. Juscelino apoiou a eleição indireta do general Castelo Branco, mas mesmo assim foi cassado e teve os direitos políticos suspensos em junho de 1964.

Foi alvo de vários Inquéritos Policiais Militares (IPMs), acusado de enriquecimento ilícito. Exilou-se na França, de onde tentou articular um movimento civil pelo retorno ao Estado de Direito – a Frente Ampla, uma aliança com o ex-presidente deposto, João Goulart, do PTB, e o ex-governador Carlos Lacerda, da UDN, que tinha sido o maior adversário de ambos. A iniciativa não prosperou.

Quando voltou ao Brasil, em 1974, JK estava afastado da atividade política e dedicava-se a escrever suas memórias, além de plantar café e criar gado numa fazenda em Luziânia (GO), próximo a Brasília. Tinha viajado a São Paulo para receber uma homenagem de antigos colaboradores de seu governo e decidiu ir ao Rio antes de retornar a Luziânia. A colisão na estrada o deixou desfigurado e ele só foi identificado pelos documentos que trazia na carteira. Era domingo e os corpos do ex-presidente e seu motorista foram levados para o Instituto Médico Legal no Rio.

JK tinha manifestado o desejo de ser enterrado em Brasília, a capital que havia sido construída em seu governo. Uma multidão recebeu o corpo no aeroporto de Brasília.

No final da tarde de terça-feira, 24 de agosto, a multidão impediu que o caixão fosse levado para o cemitério em um caminhão do Corpo de Bombeiros. “O povo leva!”, gritaram milhares de populares. Cerca de 200 mil pessoas fizeram o trajeto de oito quilômetros da catedral ao cemitério, levando o caixão sobre os ombros.

23 de agosto de 1978 – O general candidato do MDB à Presidência

O Diretório Nacional do MDB lança a candidatura do general Euler Bentes Monteiro para disputar a Presidência da República com o candidato da Arena, general João Baptista Figueiredo, no Colégio Eleitoral. Diferentemente da anticandidatura de Ulysses Guimarães – uma forma de denúncia adotada pelo MDB em 1973 –, dessa vez o partido da oposição vislumbrava uma chance de dividir os militares e vencer a ditadura em seu próprio campo. A estratégia foi rejeitada por muitos setores da oposição.

O general Euler (pronuncia-se Óiler) fez carreira no Exército sem ter apoiado o golpe militar de 1964. Vinculado ao chamado “setor nacionalista” das Forças Armadas, foi presidente da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) no período do general Costa e Silva.

Antes de optar pela candidatura de Euler Bentes, dirigentes do MDB avaliaram o apoio a um nome civil da Arena: o ex-governador e ex-ministro das Relações Exteriores Magalhães Pinto.

Pela primeira vez, desde o golpe, dois generais da ativa iriam disputar o Colégio Eleitoral. Euler Bentes seria derrotado por 355 votos a 226.

27 de agosto de 1980 – Carta-bomba explode e mata na sede da OAB

Uma carta-bomba explode ao ser aberta na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio. A explosão mata a secretária da presidência da entidade, Lyda Monteiro da Silva. No mesmo dia, também no Rio, explode outra carta-bomba no gabinete do vereador do PMDB Antônio Carlos de Carvalho, ferindo gravemente José Ribamar de Freitas, funcionário do escritório. Mais quatro pessoas sofrem ferimentos leves. Uma terceira bomba é detonada na redação da “Tribuna da Luta Operária”, jornal do PCdoB. 

Lyda Monteiro foi a primeira vítima da série de atentados terroristas contra entidades democráticas, jornais, livrarias e bancas de jornais iniciada em 1979. Dez mil pessoas acompanharam o enterro da secretária da OAB. O general presidente João Baptista Figueiredo decretou luto oficial e disse que iria “levar o país à democracia (…), a despeito de quatro, vinte ou mil bombas que atirem sobre nossa cabeça”.

A impunidade e os atentados continuariam ocorrendo e chegariam ao auge em abril do ano seguinte, quando militares planejaram a explosão de bombas num show de 1° de Maio, que reuniria 20 mil pessoas, no Riocentro. Uma das bombas explodiu antes da hora, matando um sargento e ferindo gravemente um capitão, ambos lotados no DOI-Codi do Rio.

21 de agosto de 1981 – Conclat: sindicatos se reúnem livremente

Num desafio à ditadura e à legislação sindical autoritária, delegados de 1.091 sindicatos urbanos e do campo realizam em Praia Grande (SP) a 1ª Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras (Conclat). A principal decisão do encontro foi eleger a Comissão Nacional Pró-Central Única dos Trabalhadores (Pró-CUT), organização sindical nacional e independente. A Conclat foi a primeira reunião ampla de categorias diversas desde o golpe de 1964, que desarticulou a organização dos trabalhadores. A Conferência se realizou num momento de ascensão do movimento sindical e de avanço da luta pela redemocratização do país.

Mais de 5 mil delegados, na maioria eleitos diretamente pelas bases, participaram do encontro.

26 de agosto de 1999 – Cem mil marcham contra o governo

Oito meses após o início de seu segundo mandato, o presidente reeleito Fernando Henrique Cardoso enfrenta uma grande manifestação contra seu governo. O ato reuniu cerca de 100 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios em protesto contra as privatizações e a negligência do governo com casos de corrupção. O presidente Fernando Henrique Cardoso classificou a marcha de golpista, comparando-a às que antecederam o golpe militar. A popularidade de FHC, conquistada pelo êxito do Plano Real no primeiro mandato, caiu ao longo do segundo período, não permitindo que o presidente elegesse seu sucessor na eleição de 2002.

22 de agosto de 2003 – Foguete explode Na base de Alcântara

Uma tragédia choca o Brasil e atinge o Programa Espacial Brasileiro. Às 13h26m de 22 de agosto de 2003, no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, o Veículo Lançador de Satélites (VLS) de 21 metros é acionado acidentalmente antes da hora. Com a ignição prematura, a torre de lançamento acaba explodindo, matando 21 pessoas que trabalhavam no local. As chamas consomem 40 toneladas de combustível. Investigação feita pela Aeronáutica concluiria que o acionamento fora de hora de um dos motores do VLS fora causado por uma peça que ligava o motor. A investigação acabou afastando as possibilidades de sabotagem, falha humana ou interferência meteorológica como causas da explosão.

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