A família de Mauro Cid, o ajudante-de-ordens de Bolsonaro, comprou imóveis nos EUA que somam mais de R$ 12 milhões. A Polícia Federal apura os escandalosos sinais exteriores de riqueza

A notícia ganhou a mídia na última semana. O site “Metrópoles” revelou a movimentação mais que suspeita de familiares de um dos mais próximos auxiliares do ex-presidente da República, o tenente-coronel Mauro Cid, envolvido em todos os últimos escândalos do líder da extrema-direita brasileira. A Polícia Federal investiga como o irmão de Cid, que se chama Daniel, comprou uma mansão de R$ 8,5 milhões nos EUA.

Nos últimos anos, Daniel fez outras aquisições milionárias, incluindo uma casa na Flórida. Era o estado onde vivia o pai de ambos, o general Mauro César Lorena Cid, que estava à frente do escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). Alguns dos negócios realizados por Cid foram registrados em nome de um trust familiar, o “Cid Family Trust”. A PF já sabe que Daniel operou uma “milícia digital” contra as eleições de 2022 e disseminou fake news.

Mauro Cid, preso pela Polícia Federal há duas semanas na investigação que apura a fraude com cartões de vacinação do ex-presidente e da filha, além da própria esposa e outros suspeitos, viajou para Orlando com Bolsonaro, em 30 de janeiro de 2022. Ele tinha planos de esticar sua temporada em terras americanas. À PF, confirmou que atravessou os EUA para visitar a família na Califórnia.

O tenente-coronel do Exército está no centro de todos os escândalos envolvendo o ex-presidente. É investigado por por distribuição de fake news, vazamento de documentos sigilosos e de operar um caixa paralelo no Planalto que servia à família Bolsonaro. Também está envolvido no rolo das joias sauditas retidas pela Receita Federal em 2021.

Nos últimos anos, a família de Cid comprou uma uma mansão de US$ 1,7 milhão na Califórnia, onde vive seu irmão, Daniel Cid, envolvido na promoção e difusão de fake news em favor de teses caras ao bolsonarismo, como a possibilidade de fraude nas urnas eletrônicas. Isso já levou o TSE a abrir um inquérito que pode levar Bolsonaro a perder seus direitos políticos. A mansão está registrada oficialmente como propriedade de um trust de nome sugestivo: “Cid Family Trust”. Na justiça americana, trusts são um instrumento legal que permite a proprietários de bens, sejam eles fundos de investimento ou imóveis, deixarem a tutela do patrimônio a cargo de pessoas de confiança (daí vem o nome, em inglês), que ficam a cargo de administrá-lo.

Trata-se de um modelo bastante usado, por exemplo, para blindar patrimônios de eventuais problemas judiciais e garantir sua transferência futura para quem o proprietário original indicar. Os donos reais, as pessoas físicas, não aparecem nos registros oficiais — foi preciso cruzar os dados com outras fontes para descobrir que Daniel está ligado aos negócios. Foi isso que o ”Metrópoles” descobriu.

A mansão registrada em nome da Cid Family Trust fica em Temecula, cidade vinícola encravada no sul da Califórnia, a cerca de 130 quilômetros de Los Angeles. A propriedade foi registrada em nome do trust em 2019 e tem 438 metros quadrados de área, com cinco quartos, quatro salas e uma confortável área de lazer que inclui piscina e fireplace. Em dois documentos americanos, junto ao nome do trust aparece também o nome do irmão do tenente-coronel.

Desde 2019, o trust da família Cid passou a ser dono, ainda, de outra casa, menor, avaliada em R$ 2,2 milhões e localizada na mesma cidade. Antes, o imóvel estava em nome de Daniel, como pessoa física. O irmão do tenente-coronel também aparece ligado a um terceiro imóvel em Temecula, vendido recentemente por ele pelo equivalente a R$ 3,3 milhões.

De acordo com a reportagem, os registros oficiais do condado de Riverside, onde fica Temecula, indicam que, em março do primeiro ano do governo Bolsonaro a mansão foi colocada em nome do trust. Sites especializados estimam que, atualmente, a residência de alto padrão valha mais de US$ 2,2 milhões — algo próximo a R$ 11 milhões.

O “Metrópoles” revelou que a aquisição mais recente de Daniel Cid é uma casa em Miami, na Flórida: uma unidade no Doral Isles Martinique. Segundo os serviços de pesquisa imobiliária, o imóvel foi comprado em agosto de 2020. No site oficial do governo de Miami Dade, o bem está avaliado em cerca de R$ 2 milhões e registrado fora do trust, em nome do próprio irmão do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. São quatro quartos, em dois andares, dentro de um condomínio privativo da cidade. Nos Estados Unidos, o irmão de Mauro Cid fez, nos últimos anos, movimentações financeiras e societárias que chamam atenção.

Até 2022, Daniel era apenas mais um brasileiro vidrado em tecnologia que fez carreira no setor de segurança digital na Califórnia. Quando começou a lançar mão das habilidades para ajudar Bolsonaro na tentativa de fraudar as eleições e a disseminar mentiras sobre a pandemia de Covid-19, no entanto, entrou no radar da polícia e do STF.

Daniel foi o criador do site “brasileiros.social”, uma página hospedada fora dos servidores tradicionais e ilustrada com a bandeira do Brasil. Foi nesse site que foi parar cópia de um inquérito sigiloso da PF alardeado pelo ex-presidente — na companhia do tenente-coronel Cid — para “provar” a manipulação do sistema eleitoral. O caso virou um inquérito que ainda tramita no Supremo.

O pai dos irmãos Cid, o general da reserva Mauro Cesar Lourena Cid, é amigo de Bolsonaro e foi nomeado no governo anteirior para chefiar o escritório da ApexBrasil, em Miami. Foi demitido do cargo em janeiro, quando Lula assumiu a Presidência da República. Agora, a PF está apurando como a família passou a esbanjar riqueza na nação mais poderosa do mundo. •

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