Livro lançado pelo Reconexão Periferias traz diagnóstico de um mercado em expansão e propostas para apoiar os 25 milhões de brasileiros que estão na luta por dias melhores. A maioria nem quer mudar de vida, mas segue na labuta

Isaías Dalle

São aproximadamente 25 milhões de pessoas vivendo de trabalho por conta própria no Brasil, segundo estimativas. A imensa maioria, a despeito da terminologia “empreendedorismo” tentar igualar todos os que compõem esse segmento, lida com falta de apoio estatal e bancário, muitas vezes acumula tarefas produtivas com os cuidados dos filhos e até pais que moram na mesma casa, transformadas em locais de trabalho.

Vinte milhões deste contingente obtêm renda mensal inferior a R$ 2 mil, apesar de desempenharem um trabalho complexo, que exige aperfeiçoamento constante para tomar decisões, manejar novas ferramentas, como a tecnologia digital, e ainda acumular tarefas que vão da limpeza e organização do espaço até a fabricação do produto ou prestação do serviço. Isso quando não precisam sair para vender produtos.

Esse diagnóstico, ampliado, junto com propostas para oferecer melhores condições de sobrevivência e expansão dessa atividade, combinadas com proteção social a quem nela atua, são o objeto do livro “Viver por Conta Própria. Como Enfrentar Desigualdades Raciais, de Classe e Gênero e Apoiar a Economia Popular nas Periferias Brasileiras”, lançado na semana passada pelo projeto Reconexão Periferias, da Fundação Perseu Abramo.

Neste quadro de dificuldades, pelo menos dois aspectos têm escapado à observação de parte dos analistas e dos formuladores de políticas públicas. O primeiro é que muitas pessoas que vivem por conta própria não pretendem trocar esse meio de sustento por um trabalho com vínculo empregatício. O outro é o crescimento consistente desse mercado, que mostra sua permanência e também suas possibilidades.

Trata-se de uma opção que se torna preferencial para muitos e, especialmente, de um mercado que veio para ficar. A formalização do mercado de trabalho, outrora imaginada como resposta, já não dá conta do desafio. O livro traz esse novo olhar sobre o trabalho por conta própria. Não o embala com as cores da fantasia neoliberal do empreendedorismo como passaporte para o sucesso, tampouco como entrave que seria superado com as tradicionais ferramentas do sindicalismo ou da CLT.

Fruto de uma parceria com o Laboratório de Sociologia do Trabalho da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e com a Rede Brasil Afroempreendedor (Reafro), “Viver por Conta Própria” avança também no detalhamento das dificuldades enfrentadas pelas camadas populares que se inserem nesse mercado, com especial atenção aos desafios impostos à parcela majoritária, as mulheres e os negros de ambos os sexos.

O livro traz ainda uma série de propostas para fortalecimento econômico de quem trabalha sem patrão e de políticas públicas que os insiram, e suas famílias, na rede de proteção social. Está disponível no portal da FPA. •

`