Daisy Jones & The Six, série lançada pela Amazon Prime, encanta sobre as agruras de uma banda de rock fictícia dos anos 70 que acabou quando estava no auge do estrelato

Histórias de bandas de rock já estão no imaginário coletivo e é difícil haver surpresas ao retratar a ascensão e queda de estrelas da música pop. Cameron Crowe conseguiu um vislumbre do nascimento de um grupo louco dos anos 70, baseado na sua própria experiência como repórter da Rolling Stone ao seguir rockstars pelas estradas da América. Era o tempo do Led Zeppelin, David Bowie, Rolling Stones e outros monstros sagrados da cena musical daquela década. A história de Crowe está no filme “Almost famous” (2000). Mas agora surge outra fabula encantadora.

Trata-se de “Daisy Jones & The Six”, em exibição no serviço de streaming da Amazon Prime. A série é uma grata surpresa e encanta o espectador, mesmo que você não goste de rock dos anos 70 ou dos clichês que cercam aquela cena. O elenco é especial e entrega o amor de dois cantores pela música e pelo outro, como almas gêmeas que se apaixonam, mas são parecidos demais para se manterem juntos.

Em tom de pseudo-documentário a série é baseada no romance  homônimo de Taylor Jenkins Reid. E, assim como a película de Crowe, é um delicioso passeio pelos anos 70 do século 20, a vida de músicos na estrada e sobre a criação de canções para dominar as paradas dos Estados Unidos, claro sem esquecer dos clichês que se seguem ao tripé sexo, drogas e rock and roll.

A obra de Reid remonta ao nascimento e início fulminante da carreira da banda Daisy Jones & The Six, cuja história fictícia remete a uma das grandes lendas do rock, a banda Fleetwood Mac. Naquela década, o Mac dominava as paradas de sucesso, fazia shows para plateias lotadas e conquistaram milhares de fãs.  O mesmo com Daisy Jones & The Six. Eram a voz de uma geração, mas na ficção, a cantora Daisy serviu de fonte inspiração de toda garota descolada do mundo ocidental, assim como Stevie Nicks deixou muita gente enlouquecida ao longo das últimas três décadas. A história do Mac inspirou Reid, que mostra como as relações amorosas entre músicos de uma banda podem colocar o sucesso a perder. Com o Mac, isso aconteceu durante as gravações de “Rumours” (1977), disco que contém lindas canções de amores e despedidas.

O fim do casamento de Nicks e sua alma gêmea, Lindsay Buckingham, serve de espelho para a história de Daisy Jones & The Six. Em algum momento de 1979, no último show do grupo fictício na turnê do álbum “Aurora” — o “Rumours” da série — o grupo se esfacelou. E ninguém nunca soube o motivo.

Até que, 20 anos depois, a filha do vocalista Billy Dunne resolve gravar um documentário, reunindo os integrantes do grupo para que contassem porque o sucesso do grupo foi incapaz de segurar a unidade da banda, cujos integrantes estavam emocionalmente envolvidos e apaixonados uns pelos outros.

Além de Daisy — vivida por Riley Keough, neta de ninguém menos do que Elvis Presley —, que é apaixonada pelo líder do grupo The Six, Billy Dunne (Sam Claflin), — outro casal da banda também se separa durante a turnê do disco: a tecladista Karen Sirko — interpretada por Suki Waterhouse — e Graham Dunne, irmão do vocalista e guitarrista da banda fictícia.

Em entrevista ao jornal inglês The Guardian, a autora do livro diz que se inspirou no clipe da música “Silver springs”, do Fleetwood Mac, que mostra Stevie Nicks e Lindsey Buckingham trocando olhares intensos de amor não compreendido, enquanto entoam a letra da canção: “you’ll never get away from the sound of the woman that loves you”) (“você W vai ficar longe do som da mulher que te ama”).

Quando a arte imita a vida, quem ganha são os leitores/espectadores. A história do grupo se sustenta em dramas, drogas, paixões platônicas e muita música boa. O mais interessante é que tanto Riley Keough quanto Sam Claflin cantam as canções especialmente compostas e gravadas para a série — disponíveis em plataformas de música, como Spotify ou Apple Music — como ainda aprenderam a tocar seus instrumentos.

Difícil não se apaixonar por Daisy/Keough ou torcer para que o amor platônico de Sam Claflin pela parceira e cantora se concretize. Ainda que isso seja muito pouco para o rock and roll e pareça mais uma novela mexicana. Ainda assim, viva o Fletwood Mac e essa banda encantadora liderada pelo casal Daisy e Billy. Eles merecem que os fãs se despedacem pelo amor que ainda está por acontecer. •

`