Paul McCartney resgata fotos do início da carreira dos Beatles, em 1964, quando os garotos de Liverpool chegaram à América e, em menos de seis meses, ganharam o planeta

No início, eram quatro rapazes charmosos e engraçados — quase irreverentes — que estavam prestes a ganhar a América e, em seguida, o mundo. Muito já se falou sobre o início da Beatlemania, quando John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr deixaram a Inglaterra em busca do que parecia ser um vislumbre insuperável: levar o rock’n’roll para a Terra do Tio Sam.

Pois quando imaginávamos que tudo já havia sido mostrado e dito sobre este período, eis que Sir Paul McCartney arranca do seu arquivo um conjunto de 275 fotos praticamente inéditas sobre o périplo dos Fab Four por seis cidades dos dois continentes: Liverpool e Londres, (Reino Unido), Paris (França), Nova York, Washington, DC e Miami (EUA), feitas entre 1963 e 1964.

O material está reunido em “1964 – Os olhos do furacão: A turnê mais importante da história dos Beatles”, lançamento global em 13 de junho, com edição em português, capa dura, vendida na Amazon por inacreditáveis R$ 419,90. A edição é luxuosa e, embora tenha um preço absurdamente salgado, é caprichada e muito bonita, embalando os sonhos da juventude e o início de uma história que marcou profundamente o século 20.

Paul tinha apenas 21 anos quando se viu diante da iminente vertigem de estar à frente da maior banda de todos os tempos — pode parecer exagero, visto deste século 21 de olhares blasé e cortes fugazes e rasteiros do que se tornou a própria cultura pop, mas o livro capta o mergulho no início do sonho de um novo mundo.

O próprio cantor e compositor — um dos mais famosos e criativos que permanecem trabalhando ativamente nos últimos 60 anos — conta um pouco do que é o livro. “Em algum lugar no fundo da minha mente, eu sempre soube que tinha tirado algumas fotos na década de 1960. No começo, eu não conseguia identificar o ano, mas tinha certeza de que éramos muito jovens, exatamente quando os Beatles estavam realmente decolando”, relatou em texto publicado no final de maio pelo jornal inglês The Guardian.

“Eu nunca tentei encontrar esta coleção [de fotos] — conscientemente, ou seja — mas meio que pensei que ela iria aparecer no momento certo. Muitas vezes há uma certa quantidade de serendipity [A faculdade ou ato de descobrir coisas agradáveis por acaso]”, detalhou. “E enquanto estávamos nos preparando para uma exposição das fotografias da minha falecida esposa Linda em 2020, soube que as minhas haviam sido preservadas em meus arquivos. Quando os vi pela primeira vez depois de tantas décadas, fiquei encantado que essas imagens e folhas de contato tivessem sido finalmente localizadas”.

O livro de fotos contém uma introdução da historiadora Jill Lepore, uma historiadora e jornalista norte-americana, professora na Universidade de Harvard e redatora da equipe da revista The New Yorker. O livro retoma o mágico e amargo ano de 1964 — quando a América ainda vivia o pesadelo e a ressaca da morte de John Kennedy, ocorrida em 22 de novembro de 1963. É um mergulho nesta época que ainda ocorria em preto e branco, enquanto a banda tocava nas salas de concerto  e estava prestes a mudar a história da América e do mundo quando se apresentaram no The Ed Sullivan Show.

“Qualquer um que redescubra uma relíquia pessoal ou um tesouro familiar é instantaneamente inundado de memórias e emoções, que então desencadeiam associações enterradas na neblina do tempo. Esta foi exatamente a minha experiência ao ver essas fotos, todas tiradas durante um intenso período de três meses, culminando em fevereiro de 1964”, detalha o eterno beatle.

“Foi uma sensação maravilhosa porque as fotos me mergulharam de volta. Aqui estava meu próprio registro de nossa primeira grande viagem, um diário fotográfico dos Beatles em seis cidades, começando em Liverpool e Londres, seguido por Paris (onde John e eu tínhamos passear depois de pegar carona havia pouco mais de dois anos), e então o que consideramos como a grande época, nossa primeira visita como um grupo à América — Nova York, Washington DC e Miami”, relata.

Segundo Paul McCartney, no final de fevereiro de 1964, após a visita e as três aparições no programa de Sullivan, caiu a ficha para ele e os outros Beatles. “Finalmente tivemos que admitir que não iríamos, como temíamos originalmente antes, apenas fracassar como muitos grupos. Estávamos na vanguarda de algo mais importante, uma revolução na cultura”, escreve o músico.

“As coisas estavam acontecendo tão descontroladamente que não posso dizer que a fotografia estava na vanguarda da minha mente enquanto estávamos em turnê. Mesmo que quiséssemos nos transformar de uma pequena banda em uma grande, e mesmo que esperássemos aceitação internacional quando fomos para a França e depois para os EUA, ninguém poderia ter previsto o que eu descrevo como os ‘Olhos da Tempestade’”, aponta o músico, que completou 81 anos neste 18 de junho.

“No começo, fiquei tentado a chamá-lo assim, porque os Beatles certamente estavam no centro, ou no olho, de uma tempestade autogerada, mas quando olhei para todas essas fotografias, percebi que realmente deveria ser no plural, os “olhos da tempestade”, por causa de todas as fotos que os outros estavam tirando, as fotografias que eu estava tirando e também os olhos dos fãs — Quem está olhando para quem? A câmera sempre parece estar mudando, comigo fotografando-os, a imprensa nos fotografando e aquelas milhares e milhares de pessoas por aí querendo capturar essa tempestade”, conta.

As fotos que estão no álbum vão do preto-e-branco dos passeios pela Europa e Nova York até aquelas de fortes cores contrastantes no passeio que o quarteto fez por Miami. O próprio Paul parece admirado pela diferença visual que se seguiu entre uma cidade e outra: “Que a América permaneceu uma terra de contradições tornou-se evidente durante a etapa de Miami da turnê, com toda essa cor vindo depois do estranheza cinza de Nova York e Washington DC, onde os terrenos da Casa Branca e do prédio do Capitólio haviam sido enterrados em neve lamacenta”.

Ele conta da própria redescoberta do material, quase 60 anos depois. “Eu ainda tinha que retirar o rolo de filme colorido, mas você pode sentir a intensa emoção quando pousamos no aeroporto de Miami, presos ao telhado e às vigas com simpatizantes de todos os tipos. E então vem essa explosão de cor quando temos a chance de relaxar e brincar nas águas verde-azuladas do Oceano Atlântico, mesmo sabendo que ainda temos mais uma aparição ao vivo no The Ed Sullivan Show por vir”.

Entre os cliques do músico há uma especial, que ele mesmo selecionou e comenta como uma descoberta da fama que viria para cada daqueles quatro caras saídos da cidade portuária nos confins do norte da Inglaterra: “Uma das minhas fotos favoritas da coleção mostra George Harrison, seu rosto escondido por óculos de sol, sendo entregue uma bebida — provavelmente um uísque e Coca-Cola — por uma garota, e embora não vejamos o rosto dela, vemos seu deslumbrante biquini amarelo”.

Ele diz que aquele retrato mostrava muito do que viria em seguida. “A composição foi deliberada, e estou feliz por não ter me afastado mais, pois mantive George como o foco da imagem. Ao olhar para trás nessas fotos da boa vida, não estou nada surpreso que as fotos coloridas tenham começado a acontecer quando chegamos a Miami, porque, de repente, estávamos no País das Maravilhas”, relata. Depois daquilo, o mundo jamais foi o mesmo. Para a nossa sorte e deleite. •

SERVIÇO

1964 – Os olhos do furacão: A turnê mais importante da história dos Beatles. Paul McCartney.

Idioma:  Português

Capa dura:  336 páginas

ISBN-10:  655537277X

Disponível na Amazon: R$ 419,90

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