Alberto Cantalice

A declaração do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a necessidade de tributar os fundos exclusivos, mais conhecidos como fundos dos super-milionários era para ser consenso na sociedade brasileira. Mas, paradoxalmente, não é.

Uma tentativa ainda no desgoverno Michel Temer foi tentada e prontamente rechaçada pelo Congresso de então. Pode ser que a pouca credibilidade do então mandatário, cujo governo foi fruto do Golpe de 2016, possa ter contribuído para essa rejeição.

Agora, antecedido por uma boa fala de Fernando Haddad à Folha de S.Paulo, e depois de uma conversa institucional com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, o projeto de lei pode vir a ter melhor sorte.

É velha conhecida do povo brasileiro a desfaçatez com que as classes dominantes conseguem “fugir” das tributações com o surrado argumento da fuga de capitais. Chega à beira da pornografia o não pagamento de tributos sobre lucros e dividendos. Aberração tamanha só encontra paralelo com o caso brasileiro na Estônia.

“Como um país com tanta desigualdade isenta de Imposto de Renda o 1% mais rico da população?”, questionou Haddad, em entrevista à Folha. “Quem ganha R$ 2.650 já paga Imposto de Renda. E uma pessoa que ganha R$ 2.640.000 está isenta?. Eu ouço falar desde sempre que essa questão tem que ser enfrentada”. E fulmina: “Como um país com tanta desigualdade isenta o 1% mais rico da população? Qual vai ser o dia em que nós vamos olhar para o problema e resolvê-lo?”

As forças progressistas sabem que a parada é dura. É histórica no Brasil a captura do interesse público pelos interesses privados. As classes dominantes — os donos da bufunfa — quando falam em desigualdade é só da boca para fora. Nunca no concreto.

Foi-se o tempo da bonança onde existia a lógica irreal do ganha-ganha. Sem efetivamente enfrentar a crônica injustiça tributária brasileira a conta não fechará. O que vêm como é arrocho no trabalhador e piora nos serviços públicos. Não dá mais para normalizar o que é anormal. O povo tem pressa! •

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