26 de julho de 1930 – João Pessoa é morto a tiros no Recife

O candidato a vice-presidente na chapa da Aliança Liberal, João Pessoa, é assassinado a tiros numa confeitaria no centro do Recife. O crime, motivado por questões passionais e políticas locais, choca o país. O assassino de Pessoa, seu inimigo político João Dantas, leva um tiro de raspão e é preso.

A tensão na Paraíba tinha crescido muito desde 1929, quando João Pessoa defendera a renovação da bancada na Câmara. Seu objetivo era afastar João Suassuna, ex-presidente do estado, que apoiava a chapa Júlio Prestes/Vital Soares. Para tanto, usou das prerrogativas dadas pelo estatuto do Partido Republicano da Paraíba e assinou sozinho o manifesto de apresentação dos candidatos.

João Pessoa mandou a polícia paraibana invadir casas e escritórios de pessoas suspeitas de apoiar os revoltosos, entre elas João Dantas, membro da família Suassuna. Entre os papéis confiscados, estavam cartas de amor da poetisa Anaíde Beiriz, com quem ele tinha um romance. As cartas foram publicadas no jornal oficial da Paraíba, ‘A União’, o que provocou grande escândalo e a ira de Dantas, que precisou se mudar para Olinda. 

A vingança não tardou. Ao saber que João Pessoa estava na confeitaria A Glória, no Recife, foi até lá e atirou à queima-roupa no desafeto, que tombou morto. Logo a seguir, foi preso junto com o cunhado, Moreira Caldas. Recolhidos à casa de detenção, ambos seriam mortos semanas depois, degolados por populares exaltados que invadiram a cadeia. 

27 de julho de 1938 – O ‘rei do cangaço’ É morto em tocaia

O mais terrível cangaceiro do sertão é morto numa emboscada da polícia alagoana. Depois de aterrorizar o sertão nordestino, da Bahia ao Ceará, durante cerca de 15 anos, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, é encurralado na fazenda Angicos, divisa de Alagoas com Sergipe, com mais dez cangaceiros.

Desde 1923 Lampião e seu bando vinham assaltando fazendas e cidades do sertão, roubando gado, sequestrando, torturando, mutilando, estuprando, saqueando e matando.

A volante da polícia atacou pela manhã, com tiros de metralhadoras. Corisco e outros cangaceiros conseguiram fugir, mas Lampião, Maria Bonita, Enedina, Luís Pedro, Elétrico, Moeda, Alecrim, Colchete, Quinta-Feira, Mergulhão e Macela morreram ali mesmo. Todos foram decapitados — Maria Bonita, Quinta-Feira e Mergulhão, ainda vivos —, e suas cabeças seriam expostas em todas as cidades por onde a volante passaria, até chegar a Maceió. Multidões se reuniriam para vê-las e saudar o fim do ”terror do sertão”.

Levadas a Aracaju, foram examinadas pelo médico Carlos Meneses, do Instituto Médico Legal, que tentou provar a teoria de que certas peculiaridades cranianas determinariam o caráter criminoso. Não encontrou nada, e a teoria foi desacreditada.

As cabeças ficariam expostas por mais de 30 anos em Salvador, no Museu de Antropologia Criminal da Bahia, do Instituto Nina Rodrigues, atraindo milhares de curiosos.

A revista “Noite Ilustrada”, do Rio de Janeiro, fez uma série de reportagens, em forma de romance, contando a história de Lampião e seu bando. A série começou no início de agosto de 1938 e seguiu em capítulos até dezembro daquele ano, alcançando enorme sucesso.

26 de julho de 1960 – Com estandarte medieval, surge a TFP

Foto 013- Capa do Jornal Opinião. Rio de Janeiro. 16 de maio de 1975. nº 132.

O intelectual tradicionalista Plínio Correa de Oliveira funda a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), que reúne católicos leigos conservadores em defesa da submissão da sociedade à igreja, do casamento indissolúvel e do direito sagrado à propriedade privada.

O anticomunismo vinha ganhando força, impulsionado pelas tensões da Guerra Fria. Sem vínculo institucional com a Igreja Católica, a TFP manteria, contudo, estreitos laços com membros importantes da sua estrutura, como dom Geraldo Proença Sigaud (bispo de Jacarezinho, PR) e dom Antônio de Castro Mayer (bispo de Campos, RJ).

O estatuto de movimento leigo lhe daria autonomia em relação à hierarquia católica, liberdade suficiente para que assumisse contornos quase paramilitares. A TFP cooptaria jovens, que seriam internados na organização sob rigoroso controle ideológico e submetidos a treinamentos em artes marciais, tornando-se a entidade coordenadora da luta contrarrevolucionária, anticomunista e avessa à reforma agrária.

A entidade atuaria publicando livros e jornais, promovendo campanhas de ruas e coletando assinaturas para suas causas. Todas as atividades visariam à disseminação do anticomunismo, seriam intensificadas no período pré-golpe de 1964 e atingiriam seu auge no regime militar, com 1.500 militantes espalhados por 15 estados brasileiros.

Publicações como “Catecismo Anticomunista” e “Reforma Agrária, Questão de Consciência” venderam milhares de exemplares por todo o país, esgotando sucessivas edições.

Em 1969, Plínio passaria a assinar uma coluna semanal na “Folha de S.Paulo”. No início da década de 1980, a pregação da TFP não encontraria eco no Brasil redemocratizado.

Julho de 1964 – Golpe alcança o cinema nacional

O golpe militar interrompeu a produção dos documentários “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho, e “Maioria Absoluta”, de Leon Hirszman. Registro documental da vida de João Pedro Teixeira, líder camponês da Paraíba assassinado em 1962, o filme de Coutinho seria concluído somente 20 anos depois. “Maioria Absoluta”mostra as condições de vida dos trabalhadores do campo e a desigualdade social no país. Em julho de 1964, “Os Fuzis”, de Ruy Guerra, ganha o Urso de Prata, em Berlim. A obra conta a história da tentativa de invasão e saque de um depósito de alimentos no sertão da Bahia por flagelados.

25 de julho de 1966 – Costa e Silva escapa de ataque a bomba

Uma bomba explode no Aeroporto de Guararapes, em Recife, onde pousaria o avião da comitiva do general Arthur da Costa e Silva. O então ministro da Guerra viajava pelo país preparando-se para suceder Castelo Branco na Presidência da República. Alvo do atentado, Costa e Silva acabou escapando por ter mudado de rota e desembarcado na Paraíba. Morreram na explosão o secretário do Governo de Pernambuco, André Régis de Carvalho, e o vice-almirante reformado Nelson Gomes Fernandes. O ex-deputado federal Ricardo Zarattini e o professor Edinaldo Miranda foram acusados na época de serem os autores do atentado.

24 de julho de 1970 – tortura no Brasil é denunciada em Genebra

A Comissão Internacional de Juristas, em Genebra, faz denúncia junto à Organização dos Estados Americanos (OEA) sobre a prática de torturas pela ditadura brasileira. Em um documento preparado a partir de relatos de vítimas de violações de direitos humanos, a organização registrou a existência de esquadrões da morte e classificam a situação no Brasil como de “guerra civil”.

A ditadura militar proibira a entrada da entidade nas prisões do país. As denúncias de torturas constituíam o maior problema da diplomacia brasileira sob a ditadura. Autoridades em viagem ao exterior eram alvo frequente de manifestações, como ocorreu com o presidente da Câmara, Flávio Marcílio (Arena), no Congresso da União Parlamentar Internacional, na Holanda. No jantar oficial do encontro, Marcílio e comitiva foram confrontados por uma jovem que denunciou torturas no país. “Não há presos políticos no Brasil, apenas criminosos comuns”, disse o deputado.

O governo atribuía as denúncias a uma “campanha para denegrir a imagem do Brasil no exterior”. Em 9 de maio, a Presidência da República divulgou nota: “Não há tortura em nossas prisões”. Na viagem de três dias que fez aos Estados Unidos, em 1971, Garrastazu Médici cancelou o tradicional encontro de chefes de Estado com o Clube de Imprensa de Washington.

30 de julho de 1980 – Sem-terra resistem na encruzilhada

Por ordem do general presidente João Baptista Figueiredo, o major Sebastião “Curió” Rodrigues de Moura desembarca na Encruzilhada Natalino, balão rodoviário em Ronda Alta (RS), à frente de dez agentes da Polícia Federal e uma centena de policiais militares. Sua missão é retirar cerca de 600 famílias de trabalhadores sem terra (cerca de 3 mil pessoas) acampadas no local.

Uma semana antes, 15 mil sem-terra haviam marchado na rodovia reivindicando reforma agrária. O acampamento da Encruzilhada Natalino teve origem em 1978, quando ali montaram suas barracas seis famílias expulsas da área indígena Nonoai. Dois anos depois, o acampamento original tinha atraído camponeses de toda a região, com apoio da Comissão Pastoral da Terra (CPT). A marcha dos 15 mil, tendo à frente o bispo dom Tomás Balduíno, coordenador da CPT, foi a maior manifestação pela reforma agrária desde o golpe de 1964.

Durante dez dias, apoiadores de todo o país concentraram-se na região: sindicalistas, religiosos, militantes do PT e de entidades democráticas. Derrotado pela resistência dos sem-terra, o major Curió abandonou a área no dia 31. Em fevereiro de 1982, as famílias se mudaram para uma gleba de 108 hectares, adquirida pela CPT em Ronda Alta.

30 de julho de 1979 – Greves se alastram e peões se revoltam

O tratorista Orocílio Martins Gonçalves é morto a tiros por policiais militares durante manifestação de 10 mil operários da construção civil nas ruas de Belo Horizonte. A greve no setor, que durou três dias, começou e terminou sem direção e sem apoio do sindicato da categoria. A Revolta dos Peões, como ficou conhecida, foi uma das 246 greves deflagradas em todo o país em 1979, estimuladas pelo exemplo dos metalúrgicos do ABC.

Mais de 3 milhões de trabalhadores brasileiros cruzaram os braços naquele ano. As greves de 1979 foram realizadas por categorias diversas, como bancários de Porto de Alegre, Belo Horizonte, Rio e São Paulo, trabalhadores da cana-de-açúcar de Pernambuco, professores de Minas e do Rio, motoristas de Belo Horizonte, jornalistas de São Paulo. Algumas greves foram espontâneas, como a Revolta dos Peões. Outras foram organizadas por comissões, à revelia de dirigentes pelegos, como a dos motoristas de Belo Horizonte, a dos metalúrgicos de São Paulo e Osasco e a da fábrica da Fiat, em Betim (MG). A repressão foi violenta.

23 de julho de 1993 – Candelária vive uma chacina cruel

Cerca de 50 meninos e meninas de rua, com idades entre 11 e 19 anos, dormem em frente à Igreja da Candelária, no centro do Rio, quando são atacados por seis policiais que abrem fogo contra o grupo. Oito morrem e muitos ficam feridos. O episódio teve impacto internacional. 

A pressão da opinião pública e de organizações brasileiras e estrangeiras impediu que as investigações fossem bloqueadas, como aconteceu em relação à chacina de Acari. O inquérito apontou que os seis policiais militares planejaram friamente o massacre. Três deles foram condenados, dois absolvidos e um morreu durante as investigações.

Os PMs Marcus Vinícius Borges Emmanuel e Marcos Aurélio Dias Alcântara foram condenados a mais de 200 anos de prisão; Nélson Oliveira dos Santos Cunha, a 45. Cumpriram parte da pena em regime fechado. Foram posteriormente beneficiados por indultos ou liberdade condicional.

O depoimento do sobrevivente Wagner dos Santos foi crucial para a elucidação do crime. Ele sofreria um segundo atentado em 1994 e foi colocado no Programa de Proteção a Vítimas e Testemunhas Ameaçadas do governo federal. Seguiu para a Suíça, onde ainda vive e enfrenta graves problemas de saúde decorrentes dos quatro tiros que recebeu. 

26 de julho de 1990 – Mães de Acari lutam pelos seus filhos

Onze jovens, sete deles menores de idade, são sequestrados por um grupo de homens que se identificam como policiais. Os meninos, moradores da favela de Acari, passavam o dia num sítio em Suruí, em Magé (RJ). Inicialmente, os invasores exigiram dinheiro e joias e depois o pagamento de resgate para a libertação do grupo, segundo a única testemunha sobrevivente, Laudicena do Nascimento, então com 71 anos. Ela e seu neto de 12 anos escaparam.

Após negociarem o resgate, os invasores colocaram os jovens numa Kombi. Os rapazes e moças nunca mais foram vistos. Em busca de justiça, as mães passaram a cobrar investigações. Ficaram conhecidas como As Mães de Acari. Uma das mais ativas, Edméia da Silva Eusébio, foi assassinada em 1993.

29 de julho de 1998 – FHC privatiza a telefonia brasileira

Em 12 leilões consecutivos na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, o governo Fernando Henrique Cardoso realiza a maior privatização do setor de telecomunicações ocorrida no mundo até então. O processo ocorre em meio a muitas manifestações de protesto e contestações judiciais. O sistema de telefonia gerido pela holding estatal Telebrás é vendido por R$ 22 bilhões, com ágio de 63,7% sobre o preço mínimo fixado.

O modelo concebido fatiou a estatal em 12 lotes, sendo três de telefonia fixa (Telesp, Tele Centro Sul e Tele Norte Leste), oito de telefonia móvel (Telesp Celular, Tele Sudeste Celular, Telemig Celular, Tele Celular Sul, Tele Nordeste Celular, Tele Centro-Oeste Celular, Tele Leste Celular e Tele Norte Celular) e um de telefonia e serviços de dados (Embratel).

O leilão teve início após a derrubada de várias liminares na Justiça. Mais de 3 mil policiais protegiam a sede da Bolsa do Rio contra manifestações do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e de sindicatos.

Semanas após o leilão, foram divulgados os chamados “grampos do BNDES”: conversas telefônicas gravadas ilegalmente evidenciaram uma articulação de autoridades do governo para favorecer o Banco Opportunity na compra da Tele Norte Leste.  A repercussão do caso levou à queda do ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros.

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