Depois de ameaçarem a democracia e Lula, os radicais se voltam contra Alexandre de Moraes. O ministro do STF foi acossado em Roma por três exemplares da elite paulista, típicos apoiadores do ex-presidente. E se deram mal: agora vão enfrentar a Justiça

Olímpio Cruz Neto

A herança maldita do ex-capitão continua a assombrar a democracia nacional, vítima das agressões sem fim dos seus apoiadores, ávidos em encontrar bodes expiatórios ou vítimas para despejar o discurso de ódio boçal, típico das classes dominantes que têm dinheiro, mas se despojaram da educação. O ministro Alexandre de Moraes foi a vítima da semana.

O magistrado foi cercado e hostilizado no aeroporto de Roma pelo empresário Roberto Mantovani Filho, a mulher, Andréia Munarão, e Alex Zanatta Bignotto, genro do casal. Pior. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que tornou inelegível Jair Bolsonaro em junho, assistiu ao filho ser agredido fisicamente pelo empresário.

A Polícia Federal foi acionada e apura as circunstâncias da abordagem, ocorrida na sexta-feira, 14. A Polícia Federal já identificou todos os agressores, que desembarcaram na manhã de sábado no aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo. Eles responderão em liberdade a um inquérito policial por crimes contra honra e ameaça.

No final da tarde de sexta-feira, em Roma, o trio bolsominion se dirigiu ao ministro com a linguagem típica adotada pelos extremistas da direita raivosa tupiniquim, a mesma que saúda Bolsonaro como “mito”. Alexandre de Moraes foi saudado com as expressões consagradas pelo ex-presidente: “bandido”, “comunista” e “comprado”.

O ministro e a família receberam solidariedade imediatamente das autoridades e líderes políticos. “Nós precisamos punir severamente pessoas que ainda transmitem ódio”, reagiu o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista concedida em Bruxelas, onde estava reunido para reunião da cúpula entre os países da América do Sul, Caribe e União Europeia. “Um cidadão desse é um animal selvagem, não é um ser humano”.

“Essa gente que renasceu no neofascimo, colocado em prática no Brasil, tem que ser extirpada, e nós vamos ser muito duros com essa gente, para eles aprenderem a ser civilizados”, disse o presidente. Lula foi seguido por outros líderes brasileiros. “Inadmissíveis as agressões ocorridas contra o ministro Alexandre de Moraes”, disse o vice-presidente Geraldo Alckmin. “Manifesto toda minha solidariedade ao ministro e a sua família, e repudio a forma desrespeitosa e agressiva dos atos perpetrados. O Brasil votou pela democracia. O clima de ódio e desrespeito provocados por alguns não pode continuar”.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), também reforçou: “É inaceitável que se use o argumento de liberdade de expressão para agredir, ofender e desrespeitar autoridades constituídas. Isso não pode continuar”. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) foi na mesma linha: “Atos de hostilidade como os que sofreram o ministro Alexandre de Moraes e sua família, ontem, são inaceitáveis. A eles, minha solidariedade”. Segundo o senador, “mais do que criminoso e aviltante às pessoas, às instituições e à democracia, esse tipo de comportamento mina o caminho que se visa construir de um país de progresso, civilizado e pacífico”.

Moraes é alvo preferencial de Jair Bolsonaro bem como dos seus três filhos desde 2020. O ministro do STF é responsável por inquéritos que tramitam na corte tendo como alvo o ex-presidente, inclusive o que apura os ataques promovidos em 8 de janeiro contra as sedes dos Três Poderes da República, em Brasília: o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o próprio STF.

Alexandre de Moraes é alvo do bolsonarismo e do líder da extrema-direita desde 2020. Ele foi colocado na mira da campanha movida pelo ex-presidente para apontar o TSE como suspeito de fraude nas eleições de 2022. E foi por isso que Bolsonaro  se tornou inelegível. O próprio ex-capitão não teve dúvidas para lançar palavras ofensivas contra Moraes, chamando-o publicamente de “canalha” e “vagabundo”, no Feriado Nacional do 7 de Setembro, em 2021.

Alexandre de Moraes registrou um boletim de ocorrência contra o trio brucutu. Na terça-feira, 18, a Polícia Federal cumpriu mandatos de busca e apreensão nos dois endereços do empresário Roberto Mantovani Filho e da mulher, bem como do genro do casal, na cidade de Santa Bárbara d’Oeste, no interior paulista. O trio agora é investigado pelos crimes de injúria, perseguição e desacato contra Moraes e sua família. A PF investiga se o casal tem algum tipo de envolvimento com os atos golpistas deflagrados por apoiadores em 8 de janeiro. 

As diligências foram determinadas pela presidenta do STF, ministra Rosa Weber. Os celulares do casal foram recolhidos na delegacia da PF em Piracicaba (SP), onde Mantovani e Andréia prestaram depoimento ainda no mesmo dia. À PF, o casal a princípio negou que tivesse visto ou perseguido Moraes no aeroporto.

E ainda sustentaram o risível, como registra o depoimento colhido pelos policiais federal para rebater a afirmação do ministro. Acusaram-no de ter se confundido, “evidenciando o engano interpretativo havido, o que torna claro que as pessoas que eventualmente o ofenderam ou cercearam seu deslocamento, são outras”.

“Em nenhum momento foram ao encontro ou direcionaram qualquer ofensa ao ministro”, apontaram o casal no depoimento. Os dois reconheceram que a discussão inicial havia se dado entre Andréia e dois jovens, uma mulher e um homem. Mas se mostraram surpresos ao descobrir “somente quando chegaram ao Brasil souberam tratar-se do filho do ministro”.

As imagens do circuito interno de TV do aeroporto de Roma que captaram a agressão ao ministro mostram, contudo, que ao menos parte da versão apresentada pelo casal de brasileiros Roberto Mantovani e Andreia Munarão não corresponde ao que aconteceu.  E comprovam que Mantovani agrediu o filho do ministro. •

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