A semana na história – De 19 a 25 de junho
22 de junho de 1941 – Tropas alemãs atacam A URSS
Rasgando o pacto de não agressão firmado em agosto de 1939 entre Moscou e Berlim, três milhões de soldados alemães, acompanhados de forças da Finlândia e da Romênia, marcham sobre o solo soviético. É a Operação Barbarossa, que pega os soviéticos de surpresa.
Ferindo todas as regras do direito internacional, as tropas alemãs deram início a uma brutal guerra de extermínio. A intenção era ocupar rapidamente o território, dizimar sua população — para a ideologia nazista, os eslavos eram uma raça inferior —, explorar as riquezas das terras soviéticas e, no futuro, construir um grande império germânico, do Atlântico até os montes Urais.
Nas primeiras semanas, os alemães e seus aliados avançariam sem dificuldades, massacrando a população. A reação soviética só começaria no final de agosto.
Foi um dos episódios mais dramáticos da Segunda Guerra Mundial. Ao final do conflito, cerca de 20 milhões de soviéticos teriam perdido a vida.
20 de maio de 1953 – Lacerda vai à guerra contra ‘Última Hora’
Pega fogo a guerra da UDN contra o jornal “Última Hora” e seu dono, Samuel Wainer. O objetivo, mais uma vez, é atingir o presidente Getúlio Vargas. Nas bancas, tomando quatro colunas, a manchete do jornal “Tribuna de Imprensa”, de Carlos Lacerda, acusa o veículo que nascera governista e havia rapidamente conquistado espaço e público, não apenas por ser o único a defender o governo Vargas, mas também por sua linguagem inovadora, qualidade gráfico-editorial e excelentes profissionais.
“Esbanjavam dinheiro do Banco do Brasil”, dizia a manchete da “Tribuna”, relatando supostas declarações do advogado Herófilo Azambuja de que o dinheiro usado para abrir a “Ultima Hora” fora um empréstimo irregular a Samuel Wainer.
O financiamento à “Ultima Hora” seria explorado de todas as formas por Carlos Lacerda e pela UDN —como prova de tráfico de influência, de corrupção e até de simpatia de Wainer pelo comunismo. Lacerda chamaria o jornal de “antro de comunistas”, e Wainer, de agente do serviço secreto soviético, a KGB.
A única “evidência” apontada por Lacerda para sustentar essa acusação era o local de nascimento de Wainer, a Bessarábia, território romeno ocupado pela União Soviética — além disso, a lei proibia a estrangeiros possuir veículos de comunicação.
Lacerda repetia tais ilações diariamente, não só nas páginas de seu jornal, mas também nos microfones da Rádio Globo, de Roberto Marinho, e na TV Tupi, onde recebeu um programa diário do dono da emissora, Assis Chateaubriand.
No Congresso, a UDN convocaria uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar a legalidade do empréstimo. A conclusão foi que Wainer havia exercido tráfico de influência para obter os recursos.
A comissão, porém, não conseguiu estabelecer um vínculo entre o empréstimo e o verdadeiro alvo da denúncia, o presidente Vargas, e teve de se contentar em acusar o presidente do Banco do Brasil, Ricardo Jafet.
24 de Junho de 1960 – Ação dos sem-terra faz nascer o Master
Nasce o Movimento dos Agricultores sem Terra (Master), resultado da luta de trezentas famílias de camponeses sem terra, que vêm resistindo à reintegração de posse de 1.800 hectares na localidade de Faxinal, município de Encruzilhada do Sul (RS).
Nos dois anos seguintes, com o apoio do governador Leonel Brizola e do PTB, e também de militantes do PCB, o Master organizaria associações rurais nos municípios gaúchos.
Em 1962, o Master passaria a organizar acampamentos ao lado das áreas que queria ver desapropriadas, geralmente terras públicas ou ainda terras particulares mas sem comprovação de posse ou improdutivas.
O Master sobreviveria até 1964, chegando a articular-se com Brizola e entidades estudantis e sindicais para resistir ao golpe militar.
Junho de 1964 – EUA ditam A reforma do ensino no Brasil
Dois meses depois do golpe apoiado pelo governo norte-americano, o Ministério da Educação e Cultura firma acordos de assistência técnica com a United States Agency for International Development (Usaid). Mantido em segredo, o conteúdo dos acordos MEC-Usaid foi a base de uma reforma do ensino voltada às necessidades da economia e aos interesses do mercado.
A implantação desse modelo implicaria mais tarde a substituição dos cursos primário, ginásio, clássico e científico pelos cursos de primeiro e segundo graus, com redução de um ano de estudo e da carga horária de ciências humanas, abolição de matérias como filosofia e latim e adoção obrigatória do estudo de inglês. Os acordos previam ainda a substituição da universidade pública por fundações e universidades particulares.
A revelação dos acordos, a partir de 1966, repercutiu fortemente, gerando protestos de estudantes e educadores.
24 de junho de 1966 – Marinheiros vão para banco dos réus
No maior julgamento realizado no país até então, 283 marinheiros e fuzileiros navais acusados de rebelião em março de 1964 são condenados a penas que somam mais de 1.280 anos de prisão. A Revolta dos Marinheiros, que exigiam liberdade de organização e dignidade no serviço, havia sido o estopim da crise militar que levou ao golpe. A anistia concedida aos rebeldes pelo governo Jango fora considerada uma afronta à hierarquia militar.
No julgamento de 1966, a pena maior, de 10 anos e 8 meses, coube a um dos líderes da revolta, José Anselmo dos Santos. O Cabo Anselmo, como ficaria conhecido, alguns anos mais tarde se revelaria um agente da repressão infiltrado na organização Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).
21 de junho de 1968 – 28 pessoas morrem na sexta-feira sangrenta
Uma semana que começou com a prisão do líder estudantil Jean Marc von der Weid termina no maior enfrentamento entre policiais, estudantes e população no centro do Rio, que resultaria em 28 mortes. No dia 18, Jean Marc havia sido preso com outros estudantes ao final de uma passeata. No dia seguinte, novo ato foi reprimido com violência pela polícia.
Em 20 de junho, centenas de estudantes se reuniram no Teatro de Arena da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e obrigaram o reitor e o Conselho Universitário a debater com eles a situação do ensino superior. Ao saírem de lá, os jovens são violentamente reprimidos com golpes de cassetete e tiros. Mais de 300 foram presos e levados ao campo do Botafogo, onde sofreram espancamentos e humilhações.
Na manhã do dia 21, sexta-feira, nova passeata em protesto contra a repressão paralisa o centro do Rio. Os estudantes reagem às investidas da polícia. A população apoiou os jovens e também atacou a polícia. O conflito se espalhou por uma extensa área do centro.
A batalha durou até o início da noite e persiste uma controvérsia com relação ao número de mortos.
25 de junho de 1986 – Brasil e Cuba reatam laços diplomáticos
Após meses de discretas negociações bilaterais, iniciadas em 1985, e de delicadas ações para contornar resistências internas, o presidente José Sarney e o chanceler Abreu Sodré oficializam o reatamento das relações diplomáticas com Cuba. Com o gesto, o governo emitia sinal de independência da diplomacia na nova era democrática. Internamente, a sinalizava também a remoção de mais uma herança da ditadura.
A primeira ação internacional importante do regime militar instaurado no Brasil pelo golpe de 1964 havia sido o rompimento das relações diplomáticas com Cuba. O receio de que o Brasil seguisse o exemplo da revolução cubana e se alinhasse à União Soviética foi um dos pretextos para a deposição do presidente João Goulart, também utilizado pelos Estados Unidos para apoiarem o golpe. Após o reatamento, iniciou-se uma intensa troca de visitas de alto nível, incluindo a do chanceler brasileiro a Havana em 1987 e a do presidente Fidel Castro.
21 de junho de 1970 – ‘Pra frente, Brasil’: A exaltação do país
A Seleção Brasileira conquista o tricampeonato mundial de futebol no México, com um time que considerado o melhor de todas as Copas: Pelé, Rivelino, Tostão, Gerson e Jairzinho. O governo Médici aproveita o clima de euforia nacional para massificar campanhas publicitárias ufanistas.
A marchinha de Miguel Gustavo virou hino semioficial da Seleção: “Noventa milhões em ação / Pra frente, Brasil, do meu coração (…) De repente é aquela corrente pra frente / Parece que todo o Brasil deu a mão (…) Todos juntos, vamos, pra frente, Brasil”.
Médici tentou usar a Copa para se apresentar como um homem comum. Antes do campeonato, quis escalar como titular o centroavante Dario mas o técnico João Saldanha rejeitou: “Eu não escalo ministros, por que ele vai escalar jogadores?” Militante do PCB, Saldanha foi substituído por Zagalo. Dario não entrou em campo.
Logo em seguida à Copa, a ditadura adotaria como sua uma canção de Dom, da dupla Dom e Ravel — “Eu te Amo, Meu Brasil” — que era tocada incessantemente no rádio: “A mão de Deus abençoou / Eu vou ficar aqui, porque existe amor / Eu te amo, meu Brasil, eu te amo / Meu coração é verde, amarelo, branco, azul anil / Ninguém segura a juventude do Brasil”.
25 de junho de 1987 – ‘Picaretaço’ ataca no paço imperial
Populares e militantes de movimentos sociais e de partidos de oposição, como PT e PDT, cercam e apedrejam o ônibus que transporta o presidente José Sarney e sua comitiva em visita ao Rio. A manifestação, aos gritos de “Fora Sarney”, ocorreu na saída do Paço Imperial, onde o presidente da República fora participar de cerimônia de aniversário da Lei Sarney. A motivação fundamental da manifestação foi o descontentamento com a inflação, novamente em alta, e os salários comprimidos.
O presidente estava acompanhado do governador do Rio, Moreira Franco, de ministros, assessores e familiares. Um manifestante teria usado uma picareta para quebrar os vidros do ônibus, o que valeu ao episódio o nome de Picaretaço do Rio ou Picaretaço do Paço Imperial. No mesmo dia, Sarney já havia sido vaiado e xingado em frente à Academia Brasileira de Letras, que também visitou.
Anos mais tarde, Sarney definiria o episódio como um dos momentos dramáticos de sua Presidência e o que lhe causou maior tristeza. “Como se diz no Nordeste, um homem chora com a garganta.” Ele atribuiu a fúria dos manifestantes também à impopularidade do governador Moreira Franco.
21 de junho de 1996 – Greve geral no país
Em ação conjunta, as três centrais sindicais mais importantes do país lideram uma greve geral em protesto contra a política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. O movimento reivindica medidas contra o desemprego, reajuste de salários e a retomada do crescimento econômico.
No dia da greve, as maiores cidades do país amanheceram vazias. Segundo os organizadores, 19% da população economicamente ativa parou em todo o Brasil.
23 de junho de 1996 – Mistério cerca a morte de PC Farias
Paulo César Farias, o PC Farias, personagem central do escândalo que levou ao impeachment do presidente Fernando Collor em 1992, é encontrado morto ao lado da namorada, Suzana Marcolino, em sua casa de praia próxima a Maceió. Ambos morreram com tiros no peito.
O legista da Unicamp Fortunato Badan Palhares, chamado a colaborar com as investigações, atestou que Suzana Marcolino matou PC Farias e suicidou-se em seguida, qualificando o crime como passional. Entretanto, o legista alagoano George Sanguinetti e o perito criminal Ricardo Molina afirmaram que ambos foram assassinados e sugeriram a hipótese de queima de arquivo.
O promotor Luís Vasconcelos não aceitou a versão oficial, pediu mais investigações e levantou a suspeita da presença de uma terceira pessoa na cena do crime. Posteriormente, o promotor denunciou à Justiça quatro ex-seguranças de PC — Adeildo dos Santos, Reinaldo Correia de Lima Filho, Josemar dos Santos e José Geraldo da Silva. A defesa recorreu até o Supremo Tribunal Federal para tentar evitar o júri popular, que acabou inocentando os réus em 2013.
Paulo César Farias fora condenado a quatro anos de prisão por sonegação fiscal e a sete por falsidade ideológica em decorrência do esquema de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro de que tinha sido acusado. Fugiu do Brasil, mas foi recapturado na Tailândia em novembro de 1993. Cumpriu um terço da pena e seis meses antes de morrer havia recebido liberdade condicional.