Arthur Bernardes ordenou o bombardeio da capital para punir rebeldes. Morreram 503 pessoas e 4,8 mil ficaram feridas

Isaías Dalle

Em 5 de julho de 1924, a capital de São Paulo foi surpreendida pelo início de um combate que a deixaria sitiada por quase um mês. Em poucos dias, a disputa entre tropas que queriam derrubar o governo central e forças legalistas culminou no bombardeio da cidade por aviões enviados pelo presidente da República, Arthur Bernardes. As bombas foram despejadas sobre bairros majoritariamente habitados por trabalhadores, como o Brás, Belenzinho e Mooca, entre 11 e 22 de julho.

As forças rebeldes tinham inspiração no movimento de oficiais e praças que viria a ser conhecido como movimento tenentista. Dois anos antes, o movimento já havia se rebelado na capital federal, Rio, no episódio do Forte de Copacabana, duramente esmagado pelas tropas oficiais.

Em São Paulo, a repressão foi ainda mais intensa e deixou ao menos 503 mortos e mais de 4.800 feridos, a grande maioria civis, segundo relatório que seria produzido pelo então prefeito Firmiano Pinto. O documento, resgatado pelo historiador Moacir Assunção no livro “São Paulo deve ser destruída”, registra ainda que 1,8 mil imóveis residenciais e comerciais foram destruídos na capital pela ação dos bombardeios.

Mais de 200 mil cidadãos, de uma população de 700 mil pessoas, deixaram a cidade às pressas, fugindo para arrabaldes ou municípios vizinhos como podiam, a pé, de carroça ou trens.

Os bombardeios e combates de rua tiveram fim apenas em 28 de julho, com a retirada e rendição das tropas rebeldes. A decisão do presidente Arthur Bernardes de atacar a cidade com força total e sem respeito à população civil foi apoiada pelo então presidente (equivalente a governador) do estado, Carlos de Campos, do Partido Republicano Paulista (PRP).

Durante o conflito, Campos, que abandonara a sede do governo para se refugiar na então distante região da Penha, ainda se recusou a negociar a suspensão dos bombardeios com os emissários enviados pela Igreja Católica, o prefeito e a associação comercial.

Deixada à própria sorte, a população civil sofreu com falta de alimentos, água e assistência médica. Paróquias e entidades como a Cruz Vermelha se esforçavam para garantir atendimento. O caos interrompeu diversas atividades. Jornais deixaram de circular. O “Correio Paulistano”, órgão oficial do PRP e apoiador dos bombardeios, suspendeu suas edições.

Os rebeldes queriam a derrubada do regime oligárquico que dominava o sistema político. Bernardes e Campos eram a personificação desse sistema, que decidia por cima, com a ajuda de eleições restritas e marcadas por denúncias de corrupção, o revezamento de paulistas e mineiros no comando da Nação. Depois de outras revoltas ocorridas pelo país, a República Velha só sairia de cena em 1930, com a tomada do poder por Getúlio Vargas. •

`