Em Joanesburgo, na África do Sul, governo promove a retomada das relações comerciais e diplomáticas do país com o continente africano. “Da África viemos e para a África voltaremos”, diz Jorge Viana, presidente da ApexBrasil. “O futuro da humanidade passa pelas relações Sul-Sul”

22.06.2023 – Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante encontro com o Presidente República da África do Sul, Cyril Ramaphosa. Paris – França. Foto: Ricardo Stuckert/PR

O governo Lula retomou a sua estratégia de aprofundar as  relações do Brasil com os 54 países do continente africano. Na última semana, enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrava em Paris, com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, representantes do Itamaraty, dos ministérios da Agricultura e Pecuária e do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços começavam a traçar em Joanesburgo, capital econômica da nação, como refazer os laços da cooperação.

A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) promoveu uma reunião de três dias para plantar as sementes da nova estratégia de aproximação do Brasil com a África. Em agosto, Lula estará na África do Sul para uma reunião dos BRICS — o grupo político e econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul —, mas deve fazer uma visita a alguns países dp continente ainda no segundo semestre.

Segundo o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, a iniciativa  política mostra que a retomada das relações brasileiras com o continente africano é prioridade da política externa de Lula e terá grande importância para o futuro da promoção comercial. “A ausência do Brasil na África, ocorrida nos últimos sete anos, foi uma tragédia porque significou um retrocesso para a diplomacia brasileira e um atraso no nosso fluxo comercial com a região”, explica. “Com a diplomacia presidencial de Lula, temos agora uma nova janela para o Brasil se reposicionar no mundo”.

Desde o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, o Brasil deixou a África de lado — abandonando uma prioridade do Itamaraty definida ainda no primeiro governo Lula, em 2003 — e passou a dar atenção a outros países, abrindo o flanco para que outros parceiros dos BRICS, como a China, ampliassem sua presença no outro lado do Atlântico. Hoje, o principal parceiro comercial da África é a China, com comércio de US$ 243,3 bilhões, enquanto o Brasil tem um fluxo de US$ 21,3 bilhões. O continente tem uma população hoje de 1,4 bilhão de pessoas.

Em 2003, o país era o 16º maior fornecedor de produtos e serviços para África, enquanto a China estava em 7º lugar. A França era então o maior fornecedor. Em 2022, o Brasil estava em 15º lugar entre as nações como origem das importações para os 54 países da África, enquanto a China passou a ocupar o lugar da França, chegando à primeira posição. No ano passado, os principais destinos das exportações brasileiras no continente foram Egito, Argélia, África do Sul, Marrocos e Nigéria.

O Brasil quer retomar as vendas de produtos nacionais e ampliar as compras de produtos africanos num curto intervalo de tempo. Na reunião com os diplomatas responsáveis pelos serviços comerciais das embaixadas brasileiras na África, a ApexBrasil levou representantes de empresas nacionais importantes, como a Embraer, Infraero, Fiocruz e Embrapa, além dos secretários de Promoção Comercial, Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura do MRE, embaixador Laudemar Gonçalves de Aguiar Neto; e de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Roberto Perosa.

No encontro, o governo anunciou que a Embrapa deve reabrir escritórios na África e que o Ministério da Agricultura vai ampliar o número de adidos agrícolas em missões brasileiras, com a designação de dois representantes da pasta em embaixadas brasileiras no continente africano até o início do ano que vem. “O setor agropecuário brasileiro tem oportunidades para ampliar suas exportações para toda a África e vamos aproveitar o momento histórico que este novo passo que estamos dando aqui em Johanesburgo”, disse o secretário na abertura do encontro.

A reunião em Johanesburgo é encarada pelo Itamaraty e a Apex como a largada de uma ação comercial e diplomática mais agressiva para a construção de uma nova agenda de oportunidades para o comércio exterior brasileiro com o continente africano. “É um sinal político importante que o governo Lula dá aos países africanos”, comentou a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ), que participou do encontro. Ela estava na primeira viagem de Lula à África, em novembro de 2003. •

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