Lula embarca nesta terça-feira para Pequim. Os dois países vão fazer transações comerciais sem o uso do dólar. A China estabeleceu acordos como este feito com o Brasil com cerca de 25 outros países. O yuan já é a terceira moeda para transações comerciais no mundo, perdendo apenas para a moeda estadunidense e o euro

China e Brasil anunciaram recentemente a celebração de acordo para intercâmbio comercial em suas moedas nacionais. Nesta terça-feira, 11, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca para Pequim para cumprir a primeria viagem de Estado à Ásia debaixo de muita expectativa. Junto com Xi jinping, Lula assinará acordos que são vitais para a economia dos dois países. Mas o acordo do uso comum das moedas também sinaliza um novo tempo nas relações entre as duas nações.

Mediante tal acordo, os países disponibilizarão, aos seus exportadores, uma câmara de compensação, a qual permitirá que as transações sejam feitas sem a necessidade do uso do dólar.  O acordo é atraente, pois diminui os custos financeiros das transações e, como o yuan flutua muito pouco, se daria maior previsibilidade às trocas.

Embora tenha causado algum ruído no Brasil, tal acordo não é nenhuma jabuticaba e tampouco se trata de um ponto fora da curva. A utilização de moedas nacionais para transações comerciais é uma tendência internacional, dado o risco político associado crescentemente ao dólar, que é utilizado como arma em eventuais sanções, e que, ademais, flutua bastante.

Há também uma preocupação mundial com a dívida pública dos EUA, que aumentou quase cinco vezes, de cerca de US$ 6,5 trilhões, há 20 anos, para US$ 31,5 trilhões, atualmente.

É bom lembrar que o Brasil fez o mesmo com a Argentina, país que tem carência de dólares. No âmbito da Associação Latino-Americana de Integração (Aladi), há um mecanismo semelhante, que foi criado na década de 1990: o Convênio de Créditos Recíprocos (CCR). Esse instrumento foi abandonado no governo Bolsonaro por motivos políticos.

A China, em particular, está fazendo um movimento para diminuir sua dependência do dólar. Está usando essa opção de realizar transações em yuan com vários países, e se desfez de US$ 268 bilhões de suas reservas. 

Este movimento está sendo seguido por outros países. No início deste século, as reservas globais estavam em cerca de 70% vinculadas ao dólar. Hoje, esse número já caiu para menos de 60%.

Segundo cálculos do Lowy Institute, um think tank independente fundado em abril de 2003 para conduzir pesquisas sobre questões políticas, estratégicas e econômicas internacionais de uma perspectiva australiana, no ano 2000 os EUA eram, de longe, o líder comercial global.

Naquele ano, 80% das nações comercializavam mais com os EUA do que com a China. Em 2018, porém, a situação já tinha se invertido. Os EUA eram o principal parceiro comercial em somente 30% dos países. A China já tinha ultrapassado os EUA em 128 dos cerca de 190 países do mundo.

O yuan já é a terceira moeda para transações comerciais no mundo, perdendo apenas para o dólar e o euro. É utilizada em 7% das transações comerciais e tende a crescer bastante, nos próximos anos.

A China estabeleceu acordos como este feito com o Brasil com cerca de 25 outros países. Recentemente, foi anunciado um com a Arábia Saudita. Em nossa região, Chile e Argentina, países que fazem parte da Iniciativa do Cinturão e Rota (ICR), firmaram também acordos semelhantes.

Mediante outras iniciativas, já são cerca de 40 países no mundo todo que admitem transacionar suas trocas comerciais em yuan. Saliente-se que o acordo não torna compulsório o uso do yuan, mas oferece vantagens aos exportadores que queiram utilizá-lo.

Não obstante essa tendência e tais iniciativas, o dólar deverá ser a principal moeda para transações comerciais ainda por um bom tempo. No caso desse acordo com o Brasil, ele cria, porém, uma útil opção.

Como a China é, de longe, nosso principal parceiro comercial (no ano passado, a nossa corrente de comércio com Pequim superou os US$ 150 bilhões), o acordo é mutuamente benéfico. •

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