A maioria do povo acha que Lula faz bem ao bater nos juros altos definidos pelo Banco Central. De acordo com o Datafolha, 80% da população dão razão ao presidente. E 71% acreditam que os juros estão mais altos do que deveriam

O povo confia no novo governo. E dá razão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem criticado reiteradas vezes que os juros praticados pelo Brasil são um problema para a retomada do crescimento e a geração de emprego e renda. Na segunda-feira, 3, o Datafolha revelou que 80% da população brasileira acreditam que Lula age bem ao pressionar pela queda dos juros — os mais altos do planeta: 13,75%.

A rodada do Datafolha, realizada entre os dias 29 e 30 de março, ouvindo 2.028 pessoas em 126 municípios em todo o Brasil. A margem de erro  da amostra é de 2 pontos percentuais. A pesquisa mostra que 71% das pessoas apontam que a taxa está mais alta do que deveria, sendo que 55% a consideram muito mais alta do que devia ser. Só 17% acreditam que os juros básicos estão em um patamar adequado, e 5% responderam que a Selic está mais baixa do que deveria. Não souberam responder 6%.

Os resultados indicam que, quanto mais se informam sobre o tema, mais os brasileiros percebem a absurda posição do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nomeado por Jair Bolsonaro.

Na quinta-feira, véspera do feriado, Lula voltou a condenar os juros altos do Banco Central e avisou que vai discutir a política monetária na volta da China, no próximo dia 16. Ele não descartou  sequer rever a meta de inflação. “Se a meta está errada e não pode cumprir, muda-se a meta”, disse.

Segundo o presidente, os altos juros determinados pelo BC são incompreensíveis. “Não tem uma inflação de demanda”, lembrou o presidente. “Não discuto meta, porque é para o BC e o Senado, que define a autonomia do banco”, lembrou. Para este ano, a meta de inflação foi fixada em 3,25% e será considerada formalmente cumprida pelo BC se oscilar entre 1,75% e 4,75%. O mercado financeiro estima, contudo, que a inflação pode vir a fechar o ano em quase 6%. Se a projeção se confirmar, será o terceiro ano seguido do estouro da meta pelo Banco Central.

Na segunda-feira, 3, foi o vice-presidente da República quem criticou a atual política monetária. “Eu acho que passou da hora [de reduzir a taxa]”, observou o vice-presidente, que também acumula o comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. “Não tem razão para nós termos a maior taxa de juros do mundo. Aliás, é difícil de entender”, criticou. “Em 2020, a taxa de juros era de 2%. Hoje, está em 13,75%. “Não tem justificativa, e esse é um fator importante, porque câmbio, juros e imposto são decisivos para a atividade econômica”.

Sob o argumento de controlar a inflação e trazê-la para a meta, Roberto Campos Neto tem dito que as decisões do Banco Central são técnicas e baseadas nas expectativas de inflação futura. Desde que tomou posse, Lula tem rebatido a autoridade monetária, que ganhou autonomia desde 2021, apontando que os juros no Brasil não conseguem atacar uma inflação que não é ocasionada pelo aumento de demanda e ainda freiam o crescimento.

De acordo com o Datafolha, mesmo entre os eleitores do PL, partido de Jair Bolsonaro, que indicou Campos Neto para o BC, a percepção de que os juros estão mais altos do que o recomendado. Esta é a percepção de 77% dos eleitores do ex-presidente. Entre as regiões do país, essa opinião só fica abaixo dos 70% no Nordeste (67%).

Já 17% dos brasileiros dizem acreditar que os juros básicos estão em um patamar adequado. E somente 5% responderam que ela está mais baixa do que deveria. De acordo com o levantamento, 6% não souberam responder.

O apoio ao presidente Lula é maior entre os brasileiros que recebem até dois salários mínimos (R$ 2.604), faixa em que 85% dizem concordar com o petista. Também é assim entre aqueles com até o ensino fundamental (84%), os desempregados e que estão sem procurar emprego (91%) e os que se declaram pretos (84%). Entre os que têm ensino superior, 24% afirmam que Lula age mal ao pressionar o BC; entre os empresários, 28%; entre os que se declaram brancos, 19%.

“Dizer que a taxa de juros deveria estar em 26,5% para cumprir a meta de inflação, como fez o presidente do BC, mostra o tamanho da besteira que eles fizeram lá atrás”, disse o economista Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-diretor do Banco Central, à Folha de S.Paulo. Para o sociólogo e coordenador do Fórum das Centrais Sindicais, Clemente Ganz Lúcio, a discussão sobre os rumos da economia refletem as diferenças entre o Brasil que Lula encontrou ao tomar posse em 2003 e agora, em 2023.

“Há uma pressão inflacionária, mas estamos com uma política monetária alucinada do ponto de vista do crescimento”, comentou o sociólogo em declaração à Folha. “A sociedade espera respostas imediatas do governo, e, claramente, o BC tem uma resposta diferente. Como resultado, o país está com um freio na economia como nenhum outro”. •

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