Como lulistas, bolsonaristas e os não-votantes, aqueles que votaram em branco ou anularam em outubro avaliam o governo? Os dados da Quaest mostram que a lua de mel com Lula esfriou

A pesquisa mais recente do instituto Quaest, realizada em parceria com a instituição financeira Genial Investimentos, atualiza o quadro que o Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe), da Fundação Perseu Abramo, vem apontando: o povo tem pressa para ver a melhora na qualidade de vida desde a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder.

Em que pé anda a avaliação do novo governo Lula e quais as principais nuances na opinião pública neste momento? Houve um aumento da reprovação geral, impulsionado pela desaprovação entre bolsonaristas e aqueles que não votaram nas eleições passadas. No entanto, nos dois grupos, há um contingente relativamente alto de avaliação regular. Isso significa uma não-repetição do padrão extremamente polarizado nas eleições de 2022.

O levantamento da Quaest, feito com entrevistas presenciais, aponta que desde fevereiro houve uma variação negativa de 4 pontos percentuais na avaliação positiva do governo. O número agora é de 36%. Antes era 40%. Uma variação dentro da margem de erro da pesquisa. No entanto, indica que houve aumento acima da margem na avaliação negativa no mesmo período, na ordem de 9 pontos, e de 5 pontos. na avaliação regular. Houve redução na ordem de 10 pontos daqueles que diziam não saber ou que não responderam na ocasião como avaliavam o governo em fevereiro – eram 16% e agora são 6%.

Diferentemente das pesquisas Datafolha e IPEC, já mencionadas em artigos anteriores, o levantamento Genial/Quaest cruza os dados de avaliação e percepção sobre temas e conjuntura brasileira com a declaração do voto dos entrevistados nas eleições de 2022. Um olhar sobre esse dado revela que o aumento da reprovação ao governo é expresso pelo alinhamento daqueles que afirmam ter votado em Bolsonaro. Neste segmento, a variação na reprovação foi de 13 pontos, subindo de 51% para 64%. Ainda neste mesmo público, a aprovação caiu de 7% para 2% (-5 pontos), a avaliação regular subiu de 23% para 29% (+6 pontos) e o número de ‘não sabe/não respondeu’ caiu de 20% para 5% (-15 pontos).

Entre os que afirmam ter votado em Lula, o fenômeno não se repete: a aprovação oscilou de 69% para 67%, a reprovação de 1% para 2% e o não sabe/não respondeu de 9% para 5%, dentro do limite da margem de erro geral da pesquisa. Houve, no entanto, aumento da avaliação regular de 21% para 26% — indicando que uma parcela do eleitorado lulista ainda não considera o governo como bom/ótimo.

Fenômeno semelhante ao visto no autodeclarado eleitorado bolsonarista se nota naqueles que dizem ter se abstido de votar, ou que votaram em branco e nulo — denominaremos este grupo aqui como o ‘não-voto’, para fins textuais. A reprovação neste público subiu de 18% para 28%, a aprovação oscilou de 23% para 21% e a avaliação regular subiu de 32% para 38%. Se em fevereiro 28% deste público não sabiam como avaliar o governo, tal número caiu para 13%.

A pesquisa indica que, após 100 dias de governo, houve um deslocamento de bolsonaristas e ‘não-voto’ para a avaliação negativa do governo. No entanto, como os números mostram, não vemos ainda a polarização eleitoral totalmente espelhada na popularidade do governo: ainda que boa parte dos eleitores de Bolsonaro tenda a reprovar o governo, não é a totalidade.

Entre os que optaram pelo líder da extrema-direita nas urnas em outubro de 2022, por exemplo, 15% aprovam a maneira que Lula se comporta como presidente — número que entre os ‘não-voto’ é de 51%. E 14% creem que o atual presidente é bem intencionado — entre ‘não-voto’ é 54%. Neste sentido, é possível pensar em  converter adversários em apoiadores.

O contrário, no entanto, também é válido: a maioria dos eleitores de Lula aprova seu governo, mas não houve conversão automática do apoio eleitoral em popularidade. O que propomos é uma compreensão de que são esses contingentes os que estão em disputa – pelo governo e pela oposição. Dados de pesquisas anteriores, já explorados em outros artigos, sugerem que essas parcelas da sociedade possivelmente ainda estão ‘esperando para ver’ o que será do Brasil daqui pra frente. A tentativa de construir um grande apoio social ao governo passa por esses desafios. No próximo artigo, exploraremos as percepções econômicas e as expectativas sobre o governo.  •

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