A Agência Popular Solano Trindade nasceu em 2012, com a missão de fortalecer a arte e a economia da região dos bairros do Campo Limpo, Capão Redondo e arredores da periferia da Zona Sul de São Paulo

Sediado na Vila Pirajussara, o projeto especializou-se em fomentar a expressão artística, encontrar e ajudar a desenvolver talentos, gerar trabalho e renda e viabilizar estruturas para eventos no território.

Entre as conquistas do coletivo estão o Festival Percurso, que desde 2014 é realizado na Praça do Campo Limpo e prestigia talentos, buscando fortalecer a cultura e os negócios locais, e reuniu 10 mil pessoas em sua última edição. E também a abertura da 31ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo, em 2014, quando a Fundação Bienal contratou 20 atrações diretamente com a intermediação da Solano.
O projeto também idealizou um ponto de venda de hortaliças e frutas frescas e orgânicas – algo raro nas periferias – que funciona como uma espécie de “Ceasa” da quebrada. Além de um restaurante onde são servidas inclusive pessoas que não têm como pagar por suas refeições.
Um dos fundadores da Solano Trindade é Thiago Vinícius de Paula da Silva, que ao longo de sua vida vem desenvolvendo várias tecnologias sociais. “Começamos tudo isso para que a gente pudesse ter o nosso trabalho, acesso à cidade, para podermos trabalhar perto da nossa casa e fortalecer o desenvolvimento local da comunidade. E quando a gente tira o espaço dos carros, dá espaço às pessoas, já que o espaço público fortalece a geração de renda de empreendedores e empreendedoras daqui. Para tirar a nossa comunidade das páginas policiais e ocupar as páginas culturais”, lembra.

A homenagem ao poeta Solano Trindade surgiu de uma de suas célebres frases : “é preciso buscar na fonte de origem e devolver ao povo em forma de arte”, que foi fonte inspiração para a criação da agência. “Nossa missão é desenvolver serviços e produtos que dialogam com a qualidade de vida dos moradores da nossa periferia. Então, para concretizar esse propósito, criamos tecnologias sociais. Temos o primeiro coworking da periferia de São Paulo, onde as pessoas vêm acessar a internet, fazer reuniões, porque são poucas casas na favela que têm internet”, explica Thiago.

“E também dialogamos com lazer, com acesso. Porque a cidade de São Paulo, hoje se transformou em um lugar cheio de festivais, mas você tem que pagar 1.000 reais para entrar. E a gente vê o nosso povo da favela ‘trampando’ como segurança, na cozinha, tá ligado? Então a gente faz o festival aqui há dez anos, inclusive, que fortalece a nossa economia criativa. Um dia de lazer, de paz, de shows incríveis na nossa comunidade. E a gente também desenvolve sistemas alimentares. Temos o primeiro armazém de comida orgânica na periferia de São Paulo, e com isso vencemos os desertos alimentares”.

Os produtos que não são vendidos no armazém acabam servidos na mesa do restaurante comunitário, administrado pela família de Thiago. “Desenvolvemos um modelo de negócio. Quem tem dinheiro come e quem não tem come também. No mesmo corredor que as pessoas que têm dinheiro entram, passam também pessoas que não têm o que comer, e conseguimos fortalecê-las com uma marmita, para poderem ter mais oxigênio e viver essa desigualdade sinistra que é a cidade de São Paulo”.

Desde 2019 o coletivo funciona como Associação e é financiado de forma híbrida, com captação de recursos por meio de editais. “Hoje, para sobreviver, é preciso fazer ambas as ações. Precisa vender feijoada, churrasco, pastel e, ao mesmo, tempo mandar os editais que a gente nem sabe se vão ser aprovados. E, se aprovados, o dinheiro vem daqui não sei quantos dias, e aí vem a prestação de contas. Essa é uma forma muito triste de tolher os movimentos sociais, porque quem não tem uma estrutura como a nossa tem muita dificuldade”.