Em 2018, quando a vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram assassinados brutalmente, uma grande comoção tomou o Brasil.

Sensibilizados pela sua luta, por ela ser uma mulher negra e lésbica, cria da favela da Maré, no Rio de Janeiro, muitas foram as bandeiras levantadas em protesto e lamento de sua morte. Seu nome circulou o mundo, e todos queriam saber quem havia matado Marielle. Suas lutas foram lembradas, como a luta contra racismo, o machismo e a LGBTfobia, a luta contra a desigualdade e pelos direitos humanos.
Após as investigações avançarem e Ronnie Lessa e Elcio Queiroz terem sido identificados como os executores do atentado, a pergunta que não calava era: quem havia mandado matar Marielle? Foi preciso retirar Bolsonaro da Presidência da República para que o crime fosse de fato investigado, e um ano e três meses após a chegada do Partido dos Trabalhadores à Presidência, o Brasil parece ter uma resposta definitiva sobre quem matou Marielle.

Três pessoas foram presas preventivamente pela Polícia Federal no domingo (24/3), suspeitas de terem encomendado a morte da vereadora seis anos atrás: os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão, com longo histórico na política do Rio de Janeiro, e Rivaldo Barbosa, ex-chefe da Polícia Civil fluminense.
A fonte da PF afirmou à BBC News Brasil que a morte teria sido encomendada devido à resistência de Marielle e do PSOL, seu partido, a um projeto de lei que regularizaria condomínios na Zona Oeste do Rio, área controlada por milicianos que exploram empreendimentos imobiliários ilegais.

A operação da PF é parcialmente baseada na delação premiada de Ronnie Lessa, suspeito de ter executado o crime. Domingos Brazão, com passado controverso na política e anteriormente denunciado em investigações, negou envolvimento com os homicídios de Marielle e Anderson. Chiquinho Brazão, deputado federal, deixou um cargo na prefeitura do Rio após seu nome ser citado na delação de Elcio Queiroz, enquanto Rivaldo Barbosa, ex-diretor da Polícia Civil, é acusado de ter obstruído as investigações sobre o caso.
Os irmãos Brazão têm um histórico na política do Rio de Janeiro e estão ligados a áreas onde as milícias exercem grande influência. Assim, mais uma bandeira é associada à memória política de Marielle, a luta pela terra.

Em manifestação em suas redes sociais, o ministro Silvio Almeida informou que 80% das pessoas que estão incluídas em programas de proteção à testemunha são envolvidas em questões fundiárias, o que mostra como a terra e o território são centrais na reprodução da vida e na produção de riquezas.

Abril é o mês da luta pela terra, para lembrar o massacre de trabalhadores rurais sem terra em Eldorado dos Carajás pela polícia, em 17 de abril de 1996, sempre marcado nas edições da revista Reconexão Periferias. Mais esta conexão da memória de Marielle vem nos lembrar que, na cidade, a luta e os lutadores e lutadoras pela terra e pelo chão onde se vive e se trabalha deve ser valorizada. Essas pessoas precisam de proteção, de apoio da sociedade e do Estado, uma vez que existem interessados em exercer controle sobre a terra das maneiras mais escusas, como é o caso das milícias, grileiros, membros de facções criminosas, garimpeiros ilegais. Daí a necessidade de uma forte agenda de políticas públicas para as reformas agrária e urbana, a titulação de terras quilombolas e de demarcação de terras indígenas.