“O Brasil e a França estão decididos a trabalhar juntos para promover, pelo debate democrático, uma visão compartilhada de mundo”, afirmou Lula. Mais de 20 acordos foram assinados 

A assinatura de mais de 20 atos de cooperação dentro do novo Plano de Ação da Parceria Estratégica Brasil França marcou o último dos três dias da visita do presidente francês Emmanuel Macron ao Brasil.

Passagem de Macron pelo Brasil amplia parceria com a França 

Em solenidade no final da manhã desta quinta-feira, 28, no Palácio do Planalto, Macron, que retorna ao Brasil em novembro para a Cúpula do G20 e no ano que vem para a Conferência do Clima da ONU (COP 30) em Belém, declarou que apoiará Lula em “todos os projetos ambiciosos” para o G20 para a COP 30.

“A visita foi maravilhosa e as discussões foram excelentes. Hoje inauguramos uma nova página dessa parceria estratégica com decisões fortes que tomamos. Estamos honrados de estar ao seu lado, presidente Lula”, exaltou Macron que começou a agenda em Belém na terça-feira e visitou também o Rio de Janeiro e São Paulo.

No atual contexto de grande complexidade do cenário internacional, o presidente Lula ressaltou que o diálogo entre os dois países “representa uma ponte entre o sul global e o mundo desenvolvido em favor da superação de desigualdade estruturais e de um planeta mais sustentável”.

Em seu perfil na rede X, o presidente Lula registrou que a “verdadeira maratona” que o presidente Macron está fazendo no Brasil dá a dimensão da amplitude dos laços de cooperação e amizade entre a França e o Brasil. “Dentre as potências tradicionais, nenhuma é mais próxima do Brasil do que a França”, postou o presidente.

Os acordos assinados por Lula e Macron alcançam diversas áreas como de cooperação jurídica internacional em matéria penal, declaração de intenções relativo ao reforço da cooperação na lula contra o garimpo ilegal, carta de intenções sobre a cooperação entre o Parque Amazônico da Guiana e o Parque das Montanhas de Tumucumaque e declaração de intenções destinada a reforçar a cooperação franco-brasileira, para garantir a integridade do espaço informativo.

Como símbolo da renovação da parceria entre os dois países, o presidente Lula afirmou que foi instituído um novo plano de ação que estende a colaboração para áreas como financiamento da transição ecológica e energética, bioeconomia, agricultura, administração pública, temas digitais, inteligência artificial e direitos humanos e igualdade de gênero passarão a ocupar a agenda bilateral.

Mapa do Caminho

O plano de ação entre Brasil e França existe desde 2006 e agora foi redefinido com uma série de ações de parcerias, dentro de uma nova estratégia chamada Mapa do Caminho. Ele orienta as principais ações, atualizadas de acordo com as novas necessidades dos dois países e como ele deverá ser implementado.

Essa gama de assuntos se reflete nos acordos assinados com a França, terceiro maior investidor no Brasil com forte presença nos setores de hotelaria, energia e defesa e de alta tecnologia. Para Macron, os muitos protocolos assinados vão marcar as reações Brasil e França nos próximos anos, a serviço de uma amizade recíproca.

“O senhor está convidado em 2025 para uma visita de estado à França, para que continuemos a manter essa amizade e festejar os 200 anos de relações diplomáticas dos dois países”, disse Macron ao final do discurso que começou com o registro dos ataques à Praça dos Três Poderes, “que foi atacada pelos inimigos da democracia e destaco a maneira como o Brasil conseguiu reconstituir os equilíbrios da democracia”, exaltou.

“Ninguém está a salvo de forças muito extremas que vêm estremecer a democracia e a força da democracia do Brasil resistiu a isso”, reconheceu Macron que, ao descer do carro e antes de subir a rampa do Palácio do Planalto, assistiu na Praça dos Três Poderes a uma breve apresentação da Orquestra Maré do Amanhã, que ensina música clássica e transforma a vida a crianças e adolescentes do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.

Reforma da governança global

Ao reafirmar a necessidade de resultados práticos na próxima reunião do G20 que será realizada no Brasil em novembro, o presidente Lula voltou a defender mudanças em órgãos internacionais como o Conselho de segurança da ONU e pediu o fim dos conflitos na Faixa de Gaza.

“O Brasil e a França estão decididos a trabalhar juntos para promover, pelo debate democrático, uma visão compartilhada de mundo. Uma visão fundamentada na prioridade da produção sobre a finança improdutiva, da solidariedade sobre o egoísmo, da democracia sobre o totalitarismo, da sustentabilidade sobre a exploração predatória”, assinalou.

“Concordamos que o G20 deve transmitir uma mensagem inequívoca sobre a necessidade de reforma da governança global e de fortalecimento do multilateralismo. É hora dos super ricos pagarem sua justa contribuição em impostos conforme a proposta de tributação internacional justa e produtiva que o Brasil defende”, assinalou Lula ao reiterar a Macron a crença inabalável do Brasil no diálogo e na defesa da paz.

A paralisia do Conselho de Segurança frente a guerra na Ucrânia e em Gaza são alarmantes e inexplicáveis, avaliou Lula, ao pontuar que o Brasil rechaça categoricamente todas as manifestações de antissemitismo e islamofobia.

“Não podemos permitir que a intolerância religiosa se instale entre nós. Judeus, muçulmanos e cristãos sempre viveram em perfeita harmonia no Brasil, ajudando a construir o país moderno de hoje.”

Coletiva

Perguntado pela imprensa sobre a guerra entre Ucrânia e Rússia, Lula avisou que é um pacifista e que espera ser convidado para discutir a paz.

“A gente não quer guerra. A gente tem que lutar muito contra a desigualdade. É tanta desigualdade que não tenho tempo de pensar em outra guerra. Eu tenho muitas guerras nesse país e, agora, uma nova guerra para garantir o funcionamento das instituições democráticas e garantir a sobrevivência da democracia, contra o autoritarismo, o totalitarismo, a extrema-direita e a barbárie”, assinalou.

Lula disse ainda que é preciso criar condições de encontrar um jeito de voltar à mesa de negociação porque “a guerra só vai ter uma solução que vai ser a paz. Em algum momento eles vão ter que sentar e chegar à conclusão de que não valeu a pena o que foi feito até agora”, alertou.

Sobre o Mercosul, Lula disse que o Brasil não está negociando com a França. “O Mercosul está negociando com a União Europeia. Não é um acordo bilateral entre Brasil e França, é um acordo comercial de um conjunto de países do Mercosul de um lado e a União Europeia com seus países do outro”, afirmou Lula, ao salientar que o acordo proposto agora é muito mais promissor que o anterior. “Vamos continuar conversando”, informou.

Condecorações

Antes de falar com a imprensa e após a assinatura dos atos, o presidente Lula condecorou o presidente francês com o Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, originário da extinta Ordem Imperial do Cruzeiro, criada em 1932 para brasileiros e estrangeiros “dignos do reconhecimento da nação brasileira”. Destinado exclusivamente a chefes de estado, o colar é a mais alta condecoração brasileira atribuída a estrangeiros.

Em seguida, Macron condecorou a primeira-dama Janja com a Insígnia da Ordem Nacional da Legião de Honra no grau de oficial. O presidente Lula foi nomeado na insígnia mais elevada dessa ordem anteriormente.