Morre aos 83 anos a atriz, jornalista e autora do livro “Um gosto amargo de bala”, em que retrata a própria vida e faz um retrato agudo de uma geração que ousou lutar para mudar a história do país

Morreu na segunda-feira, 19, no Rio de Janeiro, a atriz, jornalista e escritora Vera Gertel, uma das grandes personalidades da vida artística brasileira a partir dos anos 50, tendo atuado na primeira montagem da obra-prima “Eles não usam black-tie”, clássico da dramaturgia nacional escrito ainda nos anos 50 pelo ator Gianfrancesco Guarnieri. Ela faleceu aos 83 anos de idade. Deixa o marido, Janio de Freitas, e o filho, Vinícius Vianna.

Vera já estava internada desde que se sentiu mal ao retornar de uma viagem à Europa. Ela dirigiu por muitos anos a revista ‘Desfila’ e defendia que a publicação feminina poderia ser feita sem os clichês das produções voltadas para mulheres. Há dez anos, lançou a autobiografia “Um gosto amargo de bala”, recordando a militância e fazendo um retrato de sua geração.

Filha de um judeu comunista, Noé, ela chegou a ser presa durante a ditadura. Integrou o Teatro de Arena nos anos 50 e participou de filmes e novelas como “O acusador”, exibida na extinta TV Tupi, em 1964. Ela foi casada com o dramaturgo Oduvaldo Viana Filho e com o compositor Carlos Lyra.

Filha do jornalista Noé Gertel e da tecelã Raquel Gertel, veio ao mundo em São Paulo, mas foi registrada no Rio. A mãe escolheu para o bebê o nome de Anéli, homenagem à frente de esquerda ANL, banida em 1935.

Temendo pelo futuro da filha, o pai a registrou no cartório como Vera. Logo ele foi preso por “subversão” e, anos depois, a filha o visitou no presídio de Ilha Grande. Em 1940, Raquel também perdeu a liberdade, depois de dar vivas em público a Luís Carlos Prestes (1898-1990).

Com a democracia e o tempo, tornou-se militante do Partido Comunista. No fim da década de 1950, formou com dois atores e camaradas, Oduvaldo Vianna Filho e Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), o Teatro Paulista do Estudante, que em seguida se juntou ao Teatro de Arena. Em seu casamento com Vianinha, o padrinho foi o jornalista Joaquim Câmara Ferreira (1913-1970), que com o nome de guerra “Toledo” ganharia fama como um dos principais líderes da guerrilha contra a ditadura pós-1964. O do noivo foi Guarnieri.

Entre 1957 e 1968, teve forte presença artística, atuando em peças e filmes. Em 1960, atuou na peça “Revolução na América do Sul” e na TV Excelsior estrelando “Chapetuba Futebol Clube”, e, claro, uma nova montagem de “Eles Não Usam Black-Tie (Televisão)” e “Fogo Frio”. Em 1964, atuou na peça “Os Azeredo Mais Os Benevides” e, em seguida, “Eram Todos Meus Filhos” (1965) e “Arena Conta: Zumbi”, ao lado de Isabel Ribeiro, Dina Sfat, Paulo José, Milton Gonçalves e Francisco Milani, (1965), além da peça teatral “O Jardim das Cerejeiras” (1968). •

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