O vocalista do Racionais MC’s está novamente no ar com o seu podcast que mostra entrevistados em um papo reto sobre questões da atualidade. Neste quarto ano, Brown já entrevistou Marcelo Adnet, Regina Casé, Galo de Luta e o Chavoso da USP

A nova do Mano Brown

Bia Abramo

Você já foi patriota alguma vez na vida? Patriota? De gostar mesmo do Brasil? Cara, eu já fui patriota sim, eu sei todos os hinos do Brasil, o da bandeira”. E aí começa uma cantoria a duas vozes “Salve lindo pendão da esperança/salve símbolo augusto da paz”. Uma das vozes é do ator, comediante e carnavalesco Marcelo Adnet. A outra é de Mano Brown.

Em uma conversa que durou duas horas (e um minuto), Adnet e Brown falaram de cultura, carnaval, racismo e ditadura militar na estreia da quarta temporada de “Mano a Mano”, o podcast semanal comandado pelo fundador dos Racionais MC’s e a jornalista Semayat Oliveira.

Nesta nova temporada, já passaram pelo “Mano a Mano” personalidades tão diversas como Adnet, a atriz Regina Casé, o entregador Galo de Luta e o estudante conhecido nas redes sociais como Chavoso da USP. A novidade, neste ano, é que os ouvintes podem mandar perguntas durante o programa, mas o resto segue no mesmo esquema — entra toda quinta-feira no Spotify e os podcasts já veiculados permanecem no ar.

O apresentador Neto foi entrevistado no mais recente episódio da quarta temporada do podcast, uma produção original do Spotify liderada por Mano Brown. O episódio foi lançado na sexta-feira, 19, e tem aproximadamente 2 horas e 30 minutos de duração. Durante a conversa, o ex-jogador falou sobre sua relação com o tema do racismo e planos para o futuro.

Desde que estreou a primeira temporada em 2021, o programa de rádio vem chamando a atenção pelo formato e pelo conteúdo. Espécie de talk show, em que a voz inconfundível de Brown pergunta, questiona, dialoga com convidados os mais diversos, “Mano a Mano” se firmou como uma novidade interessante no universo dos podcasts.

O rapper, conhecido pela sisudez, revelou-se um entrevistador atento e interessado. Também mostrou uma enorme versatilidade pelo podcast, já passaram nomes como Gregorio Duvivier, Angela Davis, Linn da Quebrada, Silvio Almeida, Txai Suruí, Anielle Franco, Preto Zezé e Dexter, Sônia Guajajara, Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva.

Não deveria ser surpresa para quem conhece o trabalho de “Pedro Paulo” nos Racionais MC’s, grupo de rap na estrada desde 1988. Ao lado de Ice Blue, Edi Rock e KL Jay, o compositor Mano Brown criou o grupo na Zona Sul de São Paulo ainda nos anos 1980. Com poesia contundente sobre a realidade das periferias, os Racionais acabaram por se tornar a principal referência do rap nacional, escola para diversos grupos e artistas que surgiram em sua esteira, como Emicida, Criolo, Rael da Rima, Sabotage, Don L. E isso só para falar de rappers de São Paulo.

Brown, como o cantor e MC dos Racionais, se notabilizou, ao longo dos mais de 30 anos de carreira, como um artista de opiniões firmes. Seja em falas durante os shows, seja como entrevistado na imprensa.

Da situação de violência da juventude negra nas periferias das grandes cidades, espremido entre o tráfico e a polícia, às questões mais gerais sobre a desigualdade brasileira, os Racionais acabaram também por ajudar a moldar um pensamento e uma linguagem para aqueles à quem não era dada a oportunidade de se expressar.

Assim, um projeto que tivesse Mano Brown diante de um microfone perguntando e debatendo sobre o Brasil era quase garantia de sucesso — a não ser, talvez, pela fama de marrento e “difícil” que se criou em torno do rapper. No “Mano a Mano”, no entanto, Brown mostrou que, além de seus interesses variados, ele tem muita verve e carisma para conduzir mais de hora de entrevista.

O programa foi o terceiro podcast mais escutado na Retrospectiva do Spotify 2022 e ainda recebeu o prêmio APCA na categoria de ‘Melhor Podcast’ em fevereiro de 2023. •