Relatório do IPCC aponta que o mundo está caminhando rumo à catástrofe por conta da inação dos governantes. E o clima vai ficar mais aquecido até virar um inferno

A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou na última semana seu mais novo relatório sobre as alterações climáticas. O conteúdo é dramático. A ONU lançou um ‘alerta final’ de que o mundo precisa urgentemente reduzir pela metade as emissões de gases com efeito de estufa até 2030, para limitar o aquecimento global a 1,5ºC ainda neste século.

Sem medidas concretas, estamos perto de um ponto de não retorno, com um futuro quente em que milhões vão perecer em função de eventos climáticos extremos. Esta é a síntese do relatório dos peritos do Painel Intergovernamental para Alterações Climáticas (IPCC na sigla em inglês).

O secretário-geral da ONU, o português António Guterres, não mediu as palavras: “A humanidade caminha em gelo fino e esse gelo está derretendo rapidamente. O mundo necessita de ação climática em todas as frentes, tudo, em todos os lugares, ao mesmo tempo”.

De acordo com a ONU, ainda há esperança de não ultrapassar o limite de 1,5ºC. “Este relatório de síntese ressalta a urgência de tomar medidas mais ambiciosas e mostra que, se agirmos agora, ainda poderemos garantir um futuro sustentável e habitável para todos”, declarou Hoesung Lee, presidente do IPCC. “Se as emissões de gases de efeito de estufa atingirem o pico e forem reduzidas rapidamente nos anos seguintes, ainda será possível evitar a pior devastação que se seguiria a um aumento de 1,5°C”.

Embora os governos tenham concordado em agir para evitar que o aumento da temperatura global ultrapassasse 1,5°C, os especialistas acreditam que este limite ficará para trás ainda antes da década de 2030.

“O mundo aquece em resposta à acumulação de dióxido de carbono e outros gases de efeito de estufa na atmosfera”, diz o relatório. “Todos os anos em que as emissões continuam a aumentar se consome o ‘orçamento de carbono’ disponível e isso significa que serão necessários cortes muito mais drásticos nos anos seguintes”.

Guterres pediu aos governos que tomem medidas drásticas para reduzir as emissões, investindo em energia renovável e tecnologia de baixo carbono. “Os países ricos devem tentar alcançar emissões líquidas zero de gases de efeito de estufa o mais próximo possível de 2040 em vez de tentar atingir a neutralidade carbônica até 2050, compromisso que a maioria dos países assinou”, disse.

No novo relatório, o IPCC apresenta a devastação que já atingiu partes do globo e relata que o clima extremo causado pelo colapso climático levou ao aumento de mortes devido à intensificação das ondas de calor em todas as regiões, milhões de vidas e casas ficaram destruídas em secas e inundações, milhões de pessoas passam fome e há ‘perdas cada vez mais irreversíveis’ em ecossistemas vitais.

“Milhões de pessoas vivem em áreas que são altamente vulneráveis ao colapso climático e metade da população global enfrenta escassez severa de água durante, pelo menos, parte do ano. Em muitas regiões já estamos atingindo o limite ao qual nos podemos adaptar a mudanças tão severas e os extremos climáticos estão a impulsionar cada vez mais o deslocamento de pessoas na África, Ásia, Américas e no sul do Pacífico”, diz o documento do IPCC. •

`