Na defesa de um G20 da paz
No encontro com dois chefes de governo, dos Estados Unidos e da Alemanha, Lula condenou a invasão russa e reiterou a disposição do Brasil para ajudar a negociar a paz entre Moscou e Kiev
O Brasil voltou às rodadas de conversas e negociações com os líderes mundial convicto de que é possível construir um mundo de paz e harmonia. Há duas semanas, quando esteve com Olaf Scholz, em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva rejeitou a ideia de fornecer munição para a Ucrânia.
Na guerra entre a Rússia e a Ucrânia, Lula negou um pedido da Alemanha e defendeu a criação de um grupo de países para negociar a paz. No encontro com o presidente Joe Biden, na Casa Branca, voltou a tocar na necessidade de criar um G20 da Paz.
O pedido da Alemanha para que o Brasil enviasse munição à Ucrânia chegou ao Planalto antes mesmo da visita do chanceler alemão, no final de janeiro, quando o país europeu decidiu cooperar com Kiev enviando tanques para o front de guerra. “O Brasil não quer ter participação, mesmo que indireta”, declarou Lula.
O líder brasileiro reiterou a posição quando desembarcou em Washington. Em entrevista à CNN, Lula foi claro: “Precisamos encontrar interlocutores que possam sentar com o presidente Putin para mostrar a ele o erro que cometeu ao invadir o território da Ucrânia, e temos que mostrar à Ucrânia que eles precisam conversar para acabarmos com essa guerra”, disse.
Nas duas ocasiões, diante de chefes estrangeiros, além de rejeitar a cooperação militar, o presidente brasileiro apresentou caminhos que considera os mais acertados e reafirmou a tradição de paz da diplomacia tupiniquim. O Brasil não tem interesse em passar munição, para que não seja utilizada para a guerra entre Ucrânia e Rússia. “O Brasil é um país de paz. O último contencioso nosso foi na guerra do Paraguai”, recordou no Palácio do Planalto, em 30 de janeiro.
Na entrevista concedida à jornalista Cristiana Amanpour, Lula disse que não venderia armas ou munição para a Ucrânia para não se envolver. “Não quero entrar na guerra”, disse. “Quero acabar com a guerra.” Ele acrescentou que em seu encontro com Joe Biden, “não sei o que ele vai me dizer, mas o que vou dizer a ele: é necessário construir um conjunto de países para negociar a paz”.
Em diversas ocasiões, desde a campanha eleitoral, Lula condenou a invasão russa, que disse considerar um “erro crasso”. Ao mesmo tempo, ponderou que pouco se fala em paz na comunidade internacional, e que está na hora de discutir uma cooperação global para encerrar o conflito.
No encontro com Scholz, Lula foi claro ao pedir que todos se sentem para acabar com o conflito. “Sei do esforço que a Alemanha fez para evitar a guerra”, disse. “A minha sugestão [agora] é criar um clube de países que querem construir a paz no planeta. O Brasil está disposto a dar uma boa contribuição. O mundo está precisando de paz”, destacou.
Com a Alemanha, Lula divulgou nota repudiando a invasão russa à Ucrânia e condenando a anexação de partes do território ucraniano à Rússia como violação do direito internacional. Os dois países lamentaram ainda a perda de vidas humanas e a destruição de infraestrutura causada pela guerra, que completará um ano em 24 de fevereiro.
Depois da visita à Casa Branca, o governo aceitou incluir uma referência direta aos russos na nota conjunta emitida com os EUA depois do encontro entre os presidente. Lula e Biden “lamentaram a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia e a anexação de partes de seu território como violações flagrantes do direito internacional e conclamaram uma paz justa e duradoura”.
Na quinta-feira, 9, antes de embarcar para Washington, o Brasil cedeu à pressão da Casa Branca e recusou um pedido iraniano para que dois de seus navios de guerra atracassem no Rio de Janeiro. A decisão do Brasil representa um gesto para estreitar os laços com Biden depois que as relações EUA-Brasil azedaram sob o governo de Jair Bolsonaro. A medida ocorreu apesar da oposição de longa data de Lula às sanções dos EUA a Teerã, defendendo uma política externa neutra.
A ideia de um “novo G20”, passa, segundo Lula, pela participação de países como a Índia, a Indonésia e, principalmente, a China. “Nossos amigos chineses têm um papel muito importante. Está na hora da China colocar a mão na massa”, disse, durante a visita de Scholz a Brasília. Lula garantiu que vai levar a ideia ao presidente chinês, Xi Jinping, em março, quando for a China. •