PT rechaça projeto de lei que prevê anistia aos radicais bolsonaristas que tramaram contra a democracia em 8 de janeiro, na invasão das sedes dos Três Poderes. Lula diz que viu tentativa de Golpe de Estado e defende a responsabilização de cada radical envolvido na conspiração

Os ataques à democracia em 8 de janeiro não foram suficientes para assustar os radicais e estão sendo agora alvo do bolsonarismo, que quer apagar da história a marcha da insensatez convocada por Jair Bolsonaro ao longo de 2022 para assegurar um golpe de Estado. De autoria de um deputado bolsominion, o Projeto de Lei 2858 concede anistia a crimes políticos e eleitorais praticados a partir de 30 de outubro.

A ideia é beneficiar as pessoas que tenham participado de atos contrários ao resultado das eleições. O texto é do deputado Major Vitor Hugo (PL-GO), e ainda não se sabe se tem chance de passar na Câmara, onde começou a tramitar, ainda no ano passado. A presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), denunciou a manobra do bolsonarismo e condenou a ideia do ex-líder do governo Bolsonaro.

“O deputado do PL apresentou projeto pra anistiar golpistas que atentaram contra a democracia”, criticou. “É o fim da picada dar salvo conduto pra quem fez arruaça pelo país e vandalizou prédios públicos. Não vão ter vez, punição pra todos”. A proposta beneficia quem tenha financiado manifestações contra a democracia, e anula multas e demais punições aplicadas pela Justiça às pessoas físicas e jurídicas, cujos vínculos aos atos de protesto já foram identificados.

A iniciativa bolsonarista precisa ser rechaçada pelos democratas, comprometidos com a reconstrução nacional. Vale lembrar que, ainda no dia da posse de Lula, em 1º de janeiro, ao discursar no parlatório, o público presente à Praça dos Três Poderes naquele domingo gritou em uníssono que era contra anistiar os bolsonaristas radicais. Os apoiadores clamaram: “Sem anistia”. Isso aconteceu em diversas ocasiões, enquanto Lula citava a destruição de políticas públicas em atos do governo anterior. A lista de políticas destrutivas de Bolsonaro foram apontadas em relatório pelo gabinete de transição.

As chances de uma anistia em nome da pacificação do país também não vão prosperar, se depender de Lula, que defende punição exemplar aos golpistas. “Nós vamos fazer a investigação, e eu posso te dizer que todas as pessoas que estiverem envolvidas, que invadiram, que fizeram algum estrago no Palácio, no Congresso ou na Suprema Corte, essa gente tem que ser condenada, senão a gente não garante a existência e a sobrevivência da democracia”, disse Lula, na entrevista à Globonews, concedida na terça-feira, 17.

O presidente diz que não quer promover uma caça às bruxas, mas lembra que não se pode deixar impune os responsáveis pelo mais brutal ataque às instituições democráticas do Estado desde o fim da ditadura militar. Segundo ele, houve claramente um açodamento de todos para a concretização de uma quartelada em 8 de janeiro. “Eu fiquei com uma impressão que era o começo de um golpe de Estado”, disse.

“Eu fiquei com a impressão, inclusive, que o pessoal estava acatando ordem e orientação que o Bolsonaro deu durante muito tempo, muito tempo ele mandou invadir a Suprema Corte, muito tempo ele desacreditou do Congresso”, lembrou, na entrevista à Globonews. “Quatro ou 5 mil pessoas invadiram isso aqui, tinha 50 policiais no Senado que reagiram, não tinha quase ninguém dentro da Suprema Corte, e quase ninguém dentro do Palácio do Planalto”.

“É preciso que a gente tenha responsabilidade. A minha mágoa, e nós vamos apurar porque eu também não quero culpar ninguém sem provas, a minha mágoa é que houve negligência”, disse Lula. “Houve negligência de quem tinha obrigação de tomar conta do Palácio, houve negligência, sabe, não sei se do secretário ou de toda a polícia, ou de quem foi a negligência, da Polícia Militar de Brasília, que é a responsável por tomar conta, sabe, da cidade, evitar o caos”. •

`