MUDANÇA O presidente cumprimenta o General Tomás Paiva, em reunião no sábado, 21, no Palácio do Planalto

Presidente substitui o comandante da força após quebra de confiança no episódio do ataque às sedes dos Três Poderes. Substituto é Tomás Paiva, que estava no Comando do Sudeste

Quase duas semanas após o ataque de bolsonaristas radicais na Praça dos Três Poderes, com a depredação do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu, no sábado, 21, o comandante do Exército, por quebra de confiança. Na entrevista à Globonews, na semana passada, Lula disse que era evidente que alguns militares permitiram o levante de 8 de janeiro na capital por manifestantes de extrema direita.

O general Júlio César de Arruda foi afastado do comando do Exército e substituído pelo general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, chefe do Comando Militar do Sudeste. Ainda no sábado, Lula reuniu-se com o ministro da Defesa, José Múcio, o chefe de gabinete Rui Costa e o novo comandante do Exército. Múcio comentou que os tumultos de 8 de janeiro causaram “uma fratura no nível de confiança” nos altos escalões do exército e que o governo decidiu que uma mudança era necessária.

Nas últimas semanas, Lula criticou os militares depois que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram prédios do governo e destruíram bens públicos na tentativa de manter Bolsonaro no cargo. O presidente declarou reiteradas vezes que houve uma falha grave na inteligência.

O ex-comandante do Exército chegou a participar de uma reunião com Lula na sexta-feira, 20, acompanhado pelos comandantes da Marinha, Marcos Sampaio Olsen, e da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno. O ministro da Defesa disse após a reunião que os tumultos de 8 de janeiro não eram o principal tópico da reunião, mas acrescentou que qualquer envolvimento de militares nos tumultos seria punido.

Lula disse recentemente que seu governo purgaria os leais seguidores extremistas de Bolsonaro das Forças Armadas. Muitos dos manifestantes que se revoltaram em Brasília pediram um golpe militar para restaurar Bolsonaro ao poder. “Muita gente da Polícia Militar e das Forças Armadas foram cúmplices”, apontou, em café da manhã com jornalistas.

Desde que assumiu o cargo, em 1º de janeiro, pelo menos 140 militares foram exonerados do Palácio do Planalto por Lula. Ele disse que militares permitiram que o tumulto ocorresse. Por conta disse, ele disse que “todos os militares envolvidos na tentativa de golpe serão punidos, não importa a patente”.

Na véspera da demissão do general Arruda, foi divulgado o vídeo de um discurso do comandante militar do Sudeste no início da semana em que dizia que os resultados das eleições deveriam ser respeitados para garantir a democracia. Os desordeiros que invadiram o Congresso, o palácio presidencial e o Supremo Tribunal Federal queriam que os militares interviessem e  revertessem a derrota de Bolsonaro, em outubro.

Em um vídeo divulgado nas redes sociais de dentro do Planalto no ataque de 8 de janeiro, um coronel é visto tentando impedir a polícia militar de prender os apoiadores de Bolsonaro que invadiram o prédio. O coronel pedia paciência ao oficial da PM, que reagiu: “O senhor está louco, coronel?”.

Mais de mil pessoas foram presas no dia do motim e na manhã seguinte ao distúrbio. A imprensa estrangeira destacou a semelhança das manobras dos extremistas de direita com o ataque do Capitólio, nos Estados Unidos, em 6 de janeiro. Mas, diferente de Washington, em Brasília o tumulto resultou em quebra-quebra sem que houvesse qualquer tipo de contenção dos radicais. O motim no Congresso dos Estados Unidos por turbas que queriam reverter a derrota eleitoral do ex-presidente Donald Trump aconteceu com forte resistência da polícia.

Agora, o próprio Jair Bolsonaro é um dos alvos da investigação aberta pelo Supremo Tribunal Federal para apurar os responsáveis pelo financiamento e incitação de radicais bolsonaristas nos distúrbios ocorridos em Brasília. O ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral e integrante da Suprema Corte, quer punir os responsáveis pelos ataques às instituições democráticas.

Moraes atendeu ao pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, que citou um vídeo publicado por Bolsonaro no Facebook dois dias após o motim. O vídeo afirmava que Lula não foi eleito para o cargo, mas sim escolhido pelo STF e pelo TSE. •

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