Na reunião do G7, no Japão, o presidente defende cessar-fogo na Ucrânia e reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. “A ONU de 1945 já não existe mais”, criticou

Único presidente brasileiro a participar de uma reunião do G7, Luiz Inácio Lula da Silva confirmou, durante sua visita ao Japão, no último final de semana, que o Brasil está de volta à mesa de discussão sobre os temas mais importantes da geopolítica mundial. Ele participou de uma agenda extensa de debates sobre temas variados, da crise climática à transição energética, passando por saúde pública, desarmamento nuclear, a defesa do Estado de Direito e a guerra na Ucrânia.

No encontro com os líderes das sete nações mais desenvolvidas do mundo, Lula cobrou um compromisso dos países ricos com a defesa do meio ambiente. Ele também voltou a insistir no fim do conflito entre Rússia e Ucrânia. “Em todas as COPs [Conferências do Clima das Nações Unidas] as pessoas falam que vão doar US$ 100 bilhões. Nós estamos aguardando”, afirmou. “Não queremos transformar a Amazônia em um santuário da humanidade”.

“Ou todos nós entendemos que o barco é um só, que o planeta é redondo, ou entendemos que uma desgraça que vier vai pegar todo mundo de calça curta”, declarou o presidente ao fazer um balanço do encontro, diante da imprensa mundial. E alertou: “Os cientistas estão nos prevenindo, então é importante termos clareza de que nós seremos os responsáveis de nos salvar ou de nos matar”.

Lula voltou a defender um cessar-fogo na Ucrânia e criticou os países envolvidos no conflito. “Só é possível discutir a paz quando o [Volodimir] Zelensky e o [Vladimir] Putin quiserem discutir a paz”, declarou. “Não é possível construir uma proposta em guerra. Queremos que primeiro parem os ataques e depois a gente encontre uma saída negociada. É assim que a gente vai encontrar a paz. Ninguém tem um modelo pronto, o modelo pronto será deles”, destacou.

O presidente também voltou a insistir na necessidade de uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Para o líder brasileiro, a organização não tem mais autoridade para discutir um processo de paz. “Estou reclamando uma mudança no Conselho de Segurança da ONU”, destacou. “Que entrem mais países da América Latina, mais países da África, que entrem o Japão, a Alemanha e a Índia. Que entrem países importantes. A África tem 54 países, por que a África não tem um ou dois representantes?”, questionou.

“A ONU de 1945 já não existe mais”, definiu. “Ela foi criada para manter a paz no mundo mas ela não tem mais autoridade para manter a paz no mundo porque são os mesmos do Conselho de Segurança que fazem a guerra”. E criticou: “Se o conselho funcionasse como deveria funcionar, possivelmente não teria acontecido a guerra da Ucrânia e da Rússia”.

Ele voltou a pedir uma solução baseada no diálogo para o conflito na Ucrânia e a criação de um espaço para negociações. E destacou que outros conflitos que ocorrem fora da Europa também merecem mobilização internacional. “Israelenses e palestinos, armênios e azéris, cossovares e sérvios precisam de paz. Yemenitas, sírios, líbios e sudaneses, todos merecem viver em paz”, afirmou.

Lula defendeu ainda a necessidade de ratificação do Tratado para a Proibição de Armas Nucleares. “Não são fonte de segurança, mas instrumento de extermínio”, disse. “Enquanto existirem armas nucleares, sempre haverá a possibilidade de seu uso”, concluiu.

A diplomacia brasileira aproveitou a oportunidade para fazer uma série de reuniões bilaterais. A primeira ocorreu na sexta-feira, 19, com o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese. O tema principal foi o meio ambiente, já que a Austrália tem projetos de investimento na produção de hidrogênio verde no Ceará. Mas também foram discutidas as relações de trabalho na era digital, tema caro ao primeiro-ministro, que também veio do trabalhismo, como o líder brasileiro.

Na sequência, Lula teve encontros com autoridades de vários países. Esteve reunido com os primeiros-ministros do Japão, Fumio Kishida; da Alemanha, Olaf Scholz; e do Vietnã, Pham Minh Chinh. Também conversou com os presidentes da Indonésia, Joko Wikodo, e da França, Emmanuel Macron, além do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres. Com o Japão, em particular, Lula avançou em tratativas para atrair investimentos na saúde.

Lula confirmou que é uma das poucas lideranças mundiais com autoridade para colocar o dedo na cara dos países ricos e apontar que o sistema financeiro é o grande responsável pelas crises econômicas e desigualdades sociais do planeta. Sem rodeios, disse que o sistema “expôs a fragilidade dos dogmas e equívocos do neoliberalismo”.

“O sistema financeiro global tem que estar a serviço da produção, do trabalho e do emprego”, apontou o presidente. “Só teremos um crescimento sustentável de verdade direcionando esforços e recursos em prol da economia real”. Em seguida, tratou de meio ambiente. “O mundo passa hoje por uma crise que não afeta a todos da mesma forma, nem no mesmo grau, nem no mesmo ritmo. Mais de 3 bilhões de pessoas já são diretamente atingidas pela mudança do clima, em especial em países de renda média e baixa”, discursou. • Agência PT

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