24 brasileiros e 10 familiares que pediram ajuda do governo brasileiro para sair da Faixa de Gaza chegaram ao país nesta segunda-feira, 13. O presidente Lula foi até a Base Aérea de Brasília para receber o grupo e disse que segue em negociações para uma segunda lista de nomes brasileiros.

24 brasileiros e 10 familiares que pediram ajuda do governo brasileiro para sair da Faixa de Gaza chegaram ao país nesta segunda-feira, 13. O presidente Lula foi até a Base Aérea de Brasília para receber o grupo e disse que segue em negociações para uma segunda lista de nomes brasileiros.

Nas últimas semanas, apreensão e angústia. Os sentimentos de medo que circundavam o retorno de brasileiros que estavam em Gaza ao Brasil deram lugar, na noite desta terça-feira, 14, ao alívio e à alegria das imagens que registram o momento em que o presidente Lula recebeu os repatriados na base aérea Brasília. 

Após uma espera de mais de três semanas pela permissão das autoridades envolvidas na guerra, finalmente chegaram ao Brasil os 24 brasileiros e 10 familiares palestinos próximos que pediram ajuda do governo brasileiro para deixar a Faixa de Gaza. O grupo vinha recebendo auxílio de representações diplomáticas brasileiras desde o início do conflito, com acompanhamento dedicado de Lula.

“A gente vai tentar fazer todo esforço que estiver ao alcance da diplomacia brasileira para tentar trazer os brasileiros que lá estão e que querem voltar ao Brasil. […] Enquanto tiver a possibilidade de tiramos uma pessoa, nem que seja uma só pessoa da Faixa de Gaza, nós estaremos à disposição”, disse o presidente Lula, ao receber os repatriados. 

Ao lado dos brasileiros repatriados Hasan Rabee e Shahed Al-Banna, rostos que ficaram conhecidos nos vídeos que mostravam a rotina do grupo enquanto aguardavam a liberação para viajar ao Brasil, o presidente disse que não cessará esforços para aprovar uma 2ª lista de brasileiros e familiares que ainda estão na Faixa de Gaza.

Hasan Rabee relatou na chegada que era impensável esperar mais, pois havia “bomba caindo de todo lado” e afirmou que o que está acontecendo em Gaza é um Massacre. “O que está acontecendo lá, na verdade, é um massacre difícil para todos vocês entenderem o que a gente passa lá. As minhas filhas ficaram muito chocadas lá. A gente ficou mentindo que os ataques eram bombas de festa de aniversário, mas a gente não conseguiu segurar muito tempo”, contou.

Em solo brasileiro

Duas crianças repatriadas tiveram casos de amidalite e virose e foram encaminhadas, assim que chegaram, para receber atendimento médico na Base Aérea de Brasília. Segundo a médica da Força Aérea Brasileira (FAB), Thaís Nascimento, “as crianças estão estáveis. Mas, elas estavam sem se alimentar e sem tomar água. Uma teve amidalite há duas semanas e veio tratando ao longo do tempo. A irmãzinha dela acabou meio que contraindo uma virose nesses últimos dias. Vomitou, estava se sentindo mal. Mas, mesmo assim, conseguiram fazer o voo bem”.

O grupo de brasileiros passará duas noites em um alojamento na Base Área, onde serão atendidos por assistentes sociais, além de receberem atendimento médico e psicológico. Os resgatados poderão solicitar a inclusão no Bolsa Família e outros programas de benefícios socioassistenciais, segundo informou o Ministério do Desenvolvimento Social.

Apesar de haver registrado o pedido de 34 pessoas para repatriação ou ajuda do governo brasileiro para sair da região de 34 pessoas, o Ministério das Relações Exteriores informou que somente 32 embarcaram – duas pessoas, mãe e filha adolescente, desistiram e decidiram permanecer na região em guerra. 

Além de Lula, marcaram presença na recepção aos repatriados a primeira-dama, Jaja Lula da Silva, a Janja, e outros seis ministros de Estado, dentre os quais Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, Paulo Pimenta, da Secom e Flávio Dino, ministro da Justiça.

Um retorno difícil

Eram 6h51 desta segunda-feira, 13, pelo horário de Brasília, quando a aeronave VC-2, da Presidência da República, decolou do Egito rumo ao Brasil. A bordo, os 32 passageiros que deixaram a Faixa de Gaza no domingo, 12, que agora já estão em solo brasileiro. São 17 crianças, nove mulheres e seis homens trazidos no décimo resgate da zona de conflito no Oriente Médio.

Sinais de que não seria fácil já apareceram no início das negociações, há cerca de um mês. Em 16 de outubro, o gabinete do primeiro-ministro israelense Benajmin Netanyahu negou acordos para liberar a passagem de Rafah, na fronteira entre Gaza e o Egito. 

O Brasil iniciou os procedimentos de repatriação ainda no dia 12/10, quando brasileiros abrigados na escola Rosary Sisters, no norte de Gaza, manifestam interesse de repatriação. Dois dias depois, eles deixariam a escola rumo Sul de Gaza para aguardar o dia de cruzar a fronteira. Nas semanas seguintes, o grupo recebeu auxílio frequente para garantir compra de água, alimentos, remédios, além de atendimento médico e psicológico. 

Durante todo o período, o presidente Lula manteve diálogos diários com autoridades dos Emirados Árabes, Israel, Palestina, Egito, França, Rússia, Turquia, Irã, Catar e Conselho Europeu, assim, como o ministro das Relações Exteriores e embaixadores. No dia 12, domingo, brasileiros tiveram, após todo esse martírio, cruzar a fronteira entre Gaza e Egito e iniciar o caminho de fuga. 

Para aplacar a situação difícil, uma recepção calorosa

“Há todo um esquema de recepção. Um sistema de apoio e acolhimento em que serão oferecidos identidade, permissão de trabalho, acesso ao Sistema Único de Saúde, à rede de apoio social para refugiados, além da regularização da situação de cada um”, explicou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, numa coletiva de imprensa neste domingo.

“Alguns brasileiros já têm destino certo porque têm familiares aqui, mas uma parcela significativa, quase metade, não tem onde ficar. O Governo Federal já preparou, por meio do Ministério do Desenvolvimento Social, um local onde essas pessoas ficarão acolhidas no interior de São Paulo”, explicou Augusto de Arruda Botelho, secretário nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Lula volta a criticar Israel por ataques a civis

“Aos 78 anos, eu já vi muita brutalidade e violência. Mas eu nunca vi uma violência tão desumana contra inocentes”, disse o presidente. “O Hamas cometeu ato de terrorismo, mas a resposta de Israel também é letal contra crianças e mulheres inocentes. Destruição de tudo que foi construído com muita luta, como escolas, hospitais. O governo brasileiro vai continuar lutando pela paz, cobrando dos outros presidentes um comportamento humanista, pelo cessar-fogo”. 

Na noite desta terça, 13, durante sua fala, o presidente disse ainda que tanto o Hamas quanto forças israelenses cometeram “atos terroristas”. O Hamas cometeu um ato terrorista e fez o que fez. Israel também está cometendo vários atos de terrorismo ao não levar em conta que as crianças não estão em guerra, que as mulheres não estão em guerra. Eles não estão matando soldados, estão matando crianças”, disse o presidente.

Desde o início do conflito, o número de mortos na guerra entre Israel e palestinos já ultrapassa a marca de 12.400, segundo levantamento. O Ministério da Saúde controlado pelo Hamas fala em mais de 11 mil mortes em Gaza; a Cisjordânia relatou 183, enquanto autoridades israelenses registraram cerca de 1.200 mortes. Depois de já ter anunciado o número de 1.400 mortes, Israel revisou a contagem e diminuiu o número de mortos no ataque do Hamas em 7 de outubro, para cerca de 1.200, ante uma estimativa anterior do governo de 1.400.

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