A horda de desordeiros que invadiu os três principais prédios das instituições brasileiras no mais grave ataque à democracia pós-ditadura militar deixou para trás um rastro de destruição cujo alcance total só começou a ser avaliado ao longo da semana.

Após um minucioso levantamento das ruínas, o Instituto Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) divulgou na quinta-feira, 12, um relatório de 50 páginas, mostrando a extensão dos danos causados pelos apoiadores de Jair Bolsonaro. 

O levantamento mostra que os atentados foram muito além dos vidros estilhaçados nas fachadas do Palácio do Planalto e das sedes do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal, todos ícones da arquitetura moderna brasileira.

Também foram contabilizados dezenas de móveis modernistas destruídos que foram queimados. Retratos foram desfigurados, esculturas decapitadas e cerâmicas quebradas. Tapetes foram encontrados encharcados com água dos sistemas de irrigação dos prédios, bem como com urina e fezes.

Os radicais bolsonaristas marcaram a icônica rampa de mármore que leva ao palácio presidencial com arranhões, alguns com mais de meio metro de comprimento, segundo o relatório do Iphan. Em uma mesa de madeira histórica na Suprema Corte, eles esculpiram “Supremo é o povo” – uma frase popular entre os apoiadores de Bolsonaro, que frequentemente se opunham às decisões do STF.

Entre as obras de arte destruídas estava um relógio do século 17 feito por Balthazar Martinot e que a corte real francesa presenteou o rei português Dom João VI. O único outro relógio Martinot existente está no Palácio de Versalhes, na França, embora tenha metade do tamanho. 

Vândalos jogaram pedras na tela de um mural de Emiliano Di Calvalcanti. O palácio presidencial disse em seu comunicado que a pintura “As Mulatas” (foto acima) está avaliada em cerca de US$ 1,5 milhão, embora obras desse tamanho possam chegar a cinco vezes este valor.

“O dano não foi aleatório, foi obviamente deliberado”, disse Rogério Carvalho, curador do palácio presidencial, em entrevista, sentado diante da pintura desfigurada. A obra “foi perfurada em sete lugares com pedras retiradas da praça com uma picareta”. •

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