Ex-presidente será investigado por motim e ataques aos palácios de governo. Alexandre de Moraes aponta vídeo de ex-capitão questionando legitimidade de Lula e atacando a Suprema Corte

Demorou uma semana quase, mas finalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro foi colocado no centro das investigações que apuram os ataques às instituições da República em 8 de janeiro. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou na sexta-feira, 13, a inclusão do ex-capitão no inquérito que apura os responsáveis pelo motim na capital do país.

Moraes atendeu ao pedido do procurador-geral da República, que citou um vídeo que Bolsonaro postado no Facebook dois dias após o motim, apontando que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não teria sido eleito para o cargo, mas escolhido pela Suprema Corte e pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Os procuradores do grupo de combate a atos antidemocráticos argumentam que, embora Bolsonaro tenha postado o vídeo após o motim, seu conteúdo era suficiente para justificar uma investigação prévia de sua conduta. O ex-presidente apagou na manhã seguinte à primeira postagem.

Bolsonaro se absteve de comentar a eleição desde sua derrota em 30 de outubro. Mas, ao longo de 2022, em diversas ocasiões, ele lançou suspeitas sobre o processo eleitoral e alimentou dúvidas sobre a confiabilidade do sistema de votação eletrônica até à véspera da votação. O PL chegou a entrar com um pedido para anular milhões de cédulas lançadas nas urnas.

Bolsonaro está foragido do Brasil desde o final de dezembro. Ele passou a residir em um subúrbio de Orlando, no estado da Flórida, desde que deixou o Brasil, recusando-se a transferir a faixa presidencial ao sucessor em 1º de janeiro. Deputados americanos do Partido Democrata pediram ao presidente dos EUA, Joe Biden, na última que cancele o visto.

De acordo com a Associated Press, a Casa Branca está sob pressão crescente de esquerdistas da América Latina, bem como de parlamentares em Washington, para expulsar Bolsonaro do seu retiro pós-presidencial na Flórida após o ataque descarado de seus apoiadores à capital do Brasil no domingo, 8 de janeiro.

O ex-presidente pode vir a antecipar seus planos para tentar frear a repreensão. Na terça-feira, ele disse à CNN Brasil que adiaria seu retorno para casa, originalmente agendado para o final de janeiro, depois de ser hospitalizado com dores abdominais.

“Vim passar um tempo com minha família, mas não foram dias calmos”, disse Bolsonaro emissora. “Primeiro, houve esse triste episódio no Brasil e depois minha internação”, apontou, sem se referir diretamente aos ataques perpretados por seus apoiadores aos edifícios-sede dos Poderes da República.

Bolsonaro está hospedado na casa do lutador brasileiro de artes marciais José Aldo, na área de Orlando, um fervoroso apoiador do seu governo de extrema-direita. Sua visita ao estado ensolarado passou despercebida nos EUA até o ataque de domingo por milhares de partidários obstinados que estavam acampados há semanas na entrada de uma base militar em Brasília. Eles se recusavam a aceitar a derrota de Bolsonaro no segundo turno das eleições de outubro. A invasão do Congresso e do palácio presidencial, além da sede do Poder Judiciário, deixou para trás vidros estilhaçados, computadores quebrados e obras de arte cortadas.

Desde o momento em que as imagens da destruição foram transmitidas para o mundo, deputados democratas expressaram preocupação com a presença contínua de Bolsonaro em solo americano, traçando paralelos com a insurreição de 6 de janeiro de 2021 por aliados de Donald Trump. •

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