Primeiro de janeiro de 2023 é um dia histórico para o povo. A posse de Lula ganha contornos de uma apoteótica catarse coletiva de euforia e amor. O presidente sobe a rampa ao lado de representantes do povo, enquanto expoentes da MPB se revezam em shows hipnotizantes a um público extasiado

Quem vai entregar a faixa presidencial? Os 60.345.999 eleitores de Lula se perguntavam nos últimos dias de dezembro, depois que Jair Bolsonaro fugiu para Orlando, nos Estados Unidos. Eram favas contadas que Bolsonaro não ia passar a faixa. O ex-vice-presidente Hamilton Mourão, general que se elegeu senador pelo Rio Grande do Sul, também pulou fora, dizendo que isso não seria função dele em várias entrevistas depois do segundo turno, em 30 de outubro.

Na manhã de 1º de janeiro de 2023, Luiz Inácio Lula da Silva teve uma agenda que começou cedo. Enquanto recebia chefes ou representantes de quase 20 estados estrangeiros no Congresso, milhares de pessoas de todo o Brasil, que vieram de carro, ônibus, avião e até de bicicleta, com camisetas & bandeiras vermelhas, se dirigiam à Praça dos Três Poderes e à Esplanada dos Ministérios.

Muitas hipóteses sobre quem ia passar a faixa, depois que Lula subisse a rampa do Palácio do Planalto, circulavam pelas redes sociais e nas conversas em rodinhas de amigos e famílias inteiras que estavam ali para ver a terceira posse do ex-metalúrgico.

INEDITISMO Lula subiu a rampa do Planalto acompanhado de Janja e um grupo representativo de brasileiros

Quando Lula, finalmente, chegou à Esplanada desfilando em carro aberto, a surpresa não poderia ser mais eloquente sobre o significado do novo governo. Quem subiu a rampa com ele e entregou a faixa foi um conjunto de brasileiros representando a diversidade do nosso povo.

A lado de Lula, estava ninguém menos que o cacique Raoni Metuktire, aos 93 anos, a maioria deles dedicados à preservação da floresta e dos povos amazônicos. O grande Raoni, da etnia Caiapó, é reconhecido por indígenas, ribeirinhos e pela comunidade internacional como um líder em defesa da vida e da paz.

Além do grande líder indígena, do alto dos seus 1,90m, acompanhavam Lula e Janja Lula da Silva outros cidadãos: Francisco, de 10 anos, morador da periferia de Itaquera, São Paulo; Aline, com 33 e catadora desde os 14; o metalúrgico do ABC Weslley Rocha, de 36 anos; a cozinheira Jucimara Fausto dos Santos, que participou da Vigília Lula Livre e cozinha para Associação dos Funcionários da Universidade Estadual do Maringá; o artesão paranaense Flávio Pereira, 50 anos, também da Vigília Lula Livre; Ivan Baron, que teve paralisia cerebral e é referência na luta anticapacitista; e o professor Murilo de Quadros Jesus, de 28 anos.

Começava assim o longo de dia de festa, alegria e da volta da esperança de um Brasil mais justo, menos desigual e humano na capital do país. Lula ainda falaria duas vezes naquele dia — a primeira, no Parlatório, ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin (leia discurso na página 14) e, de noite, quando começou a programação de shows nos palcos que homenageavam Elza Soares e Gal Costa. Ninguém esperava que o presidente, enfim, empossado, ainda tivesse fôlego e energia para agradecer seus eleitores e aos diversos artistas que se apresentaram sem cobrar cachê. •

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