Repercussão é global
Os principais jornais do planeta mostraram nas manchetes a tentativa de golpe. Os adjetivos alertam para a doença do bolsonarismo: “assalto à democracia”, “vírus do trumpismo” e “Brasil sitiado”
O Brasil raramente ganhou manchetes dos principais jornais do planeta simultaneamente, nos últimos anos. Poucos eventos na história recente do país receberam tanta atenção quanto o ataque do bolsonarismo radical aos Três Poderes da República no domingo, 8 de janeiro. O episódio repercutiu mais do que a própria posse de Lula, ocorrida uma semana antes, e que rendeu reportagens na imprensa estrangeira, incluindo manchete no New York Times e jornais europeus como Le Monde e El País. Mas a tentativa de golpe ecoou fortemente em toda a mídia global.
Na segunda, 9, as capas dos principais jornais do mundo manchetaram o terrorismo em Brasília, ressaltando o atentado de bolsonaristas contra o governo Lula e aos poderes Legislativo e Judiciário. Os destaques mostram o dano do bolsonarismo à imagem do país. “Ao estilo Capitólio”, “vírus do trumpismo”, “populacho de Bolsonaro”, “fraude eleitoral sem nenhuma evidência”, “Brasil sitiado” e “teste de golpe”. Estas foram algumas das descrições dos principais jornais do mundo.
“Multidão frenética invade o Congresso na capital brasileira”. Esta foi a chamada de capa do New York Times, com foto dos bolsonaristas tomando a Praça dos Três Poderes na capa do principal jornal impresso dos Estados Unidos. “Apoiadores de Bolsonaro alegam fraude eleitoral sem nenhuma evidência” — traz o substítulo.
No financeiro Wall Street Journal, o tom foi o mesmo: “Manifestantes pró-Bolsonaro invadem Congresso e Supremo Tribunal do Brasil”. “As autoridades brasileiras tinham dois anos para aprender o lições da invasão do Capitólio, e se preparar para algo semelhante”. Esta é a análise do cientista político Mauricio Santoro, dada ao norte-americano Los Angeles Times.
O francês Le Monde anunciou, na edição de terça, na capa: “A democracia do Brasil foi abalada pelo assalto ao coração do poder”. O jornal narra “multidões de extrema-direita apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro que invadiram e vandalizaram as sedes das principais instituições do país”. Além da reportagem, o periódico da França dedica editorial sobre o Brasil, alertando para “os perigos do populismo da extrema-direita”.
“Brasil sitiado” e “o vírus do trumpismo” foram os destaques do italiano La Stampa, narrando “a investida de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, em meio a atos de vandalismo e confrontos com a polícia” – “‘primos’ dos americanos de há dois anos, na ideia de que as eleições foram roubadas pela ‘esquerda’ mundial”.
“Milhares de bolsonaristas invadem o Congresso e o Supremo no Brasil”. Esta é manchete principal do diário espanhol El País, destacando que os radicais são “seguidores do ex-presidente brasileiro de ultra-direita Jair Bolsonaro”.
No Reino Unido, o jornal The Guardian compara imediatamente os ataques ao “estilo Capitólio” e chama os bolsonarisas de “populacho de Bolsonaro que invadiu o Congresso”, dando ampla manchete para a vergonha internacional na capa, com direito a foto no alto da página, descrevendo “apoiadores do ex-líder brasileiro Jair Bolsonaro no telhado do Congresso em Brasília ontem”.
O também britânico The Times foi outro jornal a trazer a foto dos bolsonaristas na capa da edição de segunda-feira, descrevendo que “os apoiadores de Jair Bolsonaro, ex-presidente de direita do Brasil” dizem “que a eleição do ano passado foi roubada”. O jornal diz que a alegação não tem qualquer fundamento.
Os portugueses ganharam nas capas de dois dos seus principais jornais as fotos de bolsonaristas. “Apoiadores de Bolsonaro atacam o coração da democracia”, diz a manchete do Público. E “Bolsonaristas enfrentam a polícia e invadem Congresso no Brasil”, conforme o conservador Diário de Notícias, que detalha a “depredação” dos bolsonaristas.
O terrorismo no Brasil não deixou de repercurtir nos países vizinhos da América Latina. De conservador a progressista, todos os diários da Argentina noticiaram o golpe nas capas de suas edições da segunda-feira. “Comoção no Brasil pela invasão ao Congresso por ativistas de Bolsonaro”, trouxe o mais conservador Clarín. Já o La Nación foi direto: “Ataque à democracia”. E, na manchete: “Teste golpista no Brasil: invadem o Congresso e a sede presidencial”.
Da mesma forma, o argentino Página 12 chama o episódio de “A sombra do fascismo”. “Uma horda de ultra-direitistas tomou em invasão o Congresso, o Palácio Presidencial e a Suprema Corte, exigindo um golpe militar. Depois de 4 horas, foram expulsos e há mais de 150 presos”, destacou.
Do Peru, o La República noticia que “fracassou a tentavia de golpe contra Lula” e o El Comercio fala em “caos”, “radicais” e “violência após uma semana desde que Lula assumiu outra vez a Presidência”. •