Jair Bolsonaro não tem o que comemorar
Neste artigo, trazemos as análises do Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos (Noppe), da Fundação Perseu Abramo. sobre dois temas abordados nas últimas pesquisas de opinião: a percepção dos brasileiros e das brasileiras sobre o Auxílio Brasil, proposto pelo governo Jair Bolsonaro, e as mudanças climáticas e a reunião de Cúpula do Clima, a COP-26, realizada no Reino Unido.
De acordo com a Quaest, 70% dos entrevistados já sabiam da proposta do Auxílio Brasil, enquanto 30% não sabiam. Quando questionados se conheciam o debate sobre riscos fiscais do Auxílio Brasil, 53% responderam que tinham conhecimento, enquanto 47% disseram o contrário.
Sobre as decisões do governo em lançar o programa, as opiniões estão bem divididas: 42% acham que o Palácio do Planalto está tomando a decisão certa ao aumentar o valor do auxílio em relação ao valor anterior do programa Bolsa Família, enquanto 44% acham errado a decisão e 13% não souberam opinar.
Entre os eleitores com opinião favorável a Bolsonaro, 59% consideram acertado o aumento, e 28% discordam de tal medida. Entre os contrários ao presidente, vemos o oposto: 32% e 57%, respectivamente. Na região Norte, a maioria vê de forma positiva (56%), cenário diferente das regiões Sul e Centro-oeste, onde a maior parte — 47% e 48%, respectivamente — crê que o governo está agindo de forma errada.
A maior parte da base da pirâmide social acha o aumento correto (47%), enquanto na faixa de renda de 2 a 5 salários mínimos — entre R$ 2,2 mil e R$ 5,5 mil — se sobressai a opinião negativa: 51%.
Apesar do possível impacto eleitoral do Auxílio Brasil, as previsões não são animadoras para Bolsonaro neste momento: 54% assumem que as chances diminuíram de votar em Bolsonaro por conta do auxílio, 25% disseram que aumentariam as chances de votar nele e 20% não sabem ou não responderam. Podemos observar também um movimento interessante entre prós e antibolsonaristas: aumento das chances de votar em Bolsonaro para 15% dos antibolsonaristas, e diminuição das chances de votar em Bolsonaro para 16% dos favoráveis.
Já na pesquisa feita pelo Ipespe, o conhecimento do Auxílio Brasil foi maior: 84% tomaram conhecimento do programa e 15% não o conhecem. Um total de 83% disseram que não esperam receber o novo benefício, enquanto 11% dizem ter expectativa de serem beneficiados.
Com base nas pesquisas, pode-se observar que não há consenso na opinião pública, e sim uma certa divisão quanto ao tema do Auxílio Brasil. O benefício, que substitui um programa sólido, perene e transformador – o Bolsa Família — tem prazo de validade até dezembro de 2022. É possível que isso gere dúvidas entre a população.
É relevante, também, o possível impacto do benefício na base da pirâmide social – ainda mais considerando que é um dos segmentos mais insatisfeitos com o governo. Ou seja, é maior a reprovação a Bolsonaro. É possível também que isso reverbere entre apoiadores do presidente, sejam agentes do mercado ou o segmento da população que ainda é fiador do atual governo, visto que há debate em torno do teto de gastos.
E a crise climática?
O instituto Ideia Big Data fez um levantamento sobre a percepção dos brasileiros em relação à crise climática e temas ambientais, na esteira da Cop26. Embora mencionado por 1% dos entrevistados como principal problema do Brasil, o levantamento demonstra que a maioria da população teme a crise climática e seus impactos.
De acordo com o instituto, 96% demonstram algum grau de preocupação com o meio ambiente e o futuro do planeta. A pesquisa também aponta que 78% concordam com as afirmações da ONU, de que “o aquecimento global, as mudanças na temperatura e os episódios climáticos extremos representam um risco para a humanidade”.
Há desconhecimento sobre as metas estabelecidas pelo Brasil no tema para 72%. Entre quem disse conhecê-las, destaque para a menção à ‘redução do efeito estufa’ (44%) e preservação da Amazônia (26%).
No entanto, apesar do elevado grau de preocupação com as mudanças climáticas, ainda é majoritária a visão de que a responsabilidade para reduzir o aquecimento global é individual (para 40%) e não de ordem pública. Apenas 36% atribuem a maior responsabilidade aos governos — somando federal e estadual —, e 11% às empresas.
Apesar de ofuscado por temas de impacto cotidiano imediato como a economia brasileira, inflação e renda, a pesquisa demonstra que ganha espaço na percepção dos brasileiros o temor com a crise climática. A opinião pública caminha num sentido oposto ao do governo, que passa vergonha na Cop26 e leva o Brasil a perder seu protagonismo no tema ambiental.