A aprovação pela Câmara dos Deputados, em primeiro turno, da proposta de emenda à Constituição (PEC 23/21), a chamada PEC do Calote, é mais um escândalo do governo Bolsonaro condizente com as páginas policiais de jornais. Sob protesto e com o voto contrário da bancada do PT, o texto-base foi aprovado pela Câmara na quinta, 4, abrindo caminho para um megacalote em  aposentados, professores e outras credores da União que têm o legítimo direito reconhecido pela Justiça de receber o que lhes é devido.

É um colossal escândalo que equivale da dar um cheque em branco para o capitão-presidente gastar cerca de R$ 95 bilhões no ano eleitoral de 2022, sem informar para onde o dinheiro vai e com um adeus ao teto de gastos.

É um escárnio. O ex-capitão e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, promovem uma megapedalada fiscal em nome de um projeto eleitoral e demagógico para garantir o tal Auxilio Brasil, por apenas um ano, deixando na incerteza, já em 2023, milhões de pessoas que já estão numa situação precária com o fim do bem-sucedido Bolsa Família.

É um vale-tudo para reeleger um governo de destruição nacional que trouxe a fome de volta, a entrega de estatais e riquezas nacionais a abutres do mercado, enquanto o desemprego cresce, a miséria aumenta e a Amazônia e o Cerrado ardem em chamas ou são destruídos ao som ensurdecedor de motosserras e tratores de esteira.

O povo brasileiro precisa saber das tramas urdidas por Bolsonaro.  Na esteira da PEC do Calote, o governo acabou com uma política estruturante de 18 anos, o Bolsa Família, referência mundial no combate às desigualdades.

O segundo retrocesso é o parcelamento de dívidas previdenciárias.  E os professores? Devem receber 100% do que lhes é devido já no ano que vem, mas Bolsonaro e sua base querem lhes pagar apenas 40%, deixando o restante para os anos seguintes.

Junto a isso, uma vergonhosa manobra para liberar emendas do orçamento secreto para uma base de apoio que só pensa em seus interesses pessoais e pagar uma turbinada ajuda a pessoas na linha da pobreza, com uma falta de vergonha nunca vista na história da República.

Ora, se o governo estivesse interessado em minorar os problemas da população, a Câmara poderia ter votado a MP 1061/2021, que estabelece o novo auxílio emergencial, que o PT defende no valor R$ 600.

Mas  Bolsonaro veta o auxilio de R$ 600. Lembre-se que, no ano passado, ele defendia auxilio emergencial de R$ 200. Foi a Câmara, com papel decisivo do PT, que aprovou o auxílio de R$ 600. Depois, Bolsonaro baixou para R$ 300 e, por fim, R$150.

Pior, de 60 milhões de brasileiros beneficiados com o auxílio emergencial, o número caiu para 39 milhões. Agora, com a PEC do Calote, o governo quer beneficiar apenas apenas 17 milhões de pessoas. Ou seja, quem votou a favor da PEC do Calote promoveu a  exclusão de 22 milhões de pessoas.

A promessa de que o valor mínimo do tal novo auxílio seria de R$ 400 serviu como biombo para esconder as verdadeiras intenções desse governo cruel: reduzir o número de pessoas beneficiadas de 39 milhões para 17 milhões. Na prática, deixa 22 milhões de brasileiros e brasileiras na rua da amargura.

A oposição defende e votou o auxílio emergencial de R$ 600, sem necessidade de calote em precatórios. Mas o governo agora vem com a tese mentirosa de que precisa dar o cano de R$ 95 bilhões para garantir o tal Auxílio Brasil. É uma tese inaceitável.

Quando, no ano passado, houve o consenso de que seria necessário o governo federal providenciar um auxílio emergencial às pessoas que ficariam sem renda por conta da pandemia, imediatamente o PT propôs que o valor de um salário mínimo. De parte do governo Bolsonaro, a reação foi imediata: não há dinheiro. Foi o que disseram os bolsonaristas, repetindo o discurso do arrocho fiscal. Pela boca do ministro offshore Paulo Guedes, espalharam mentiras. Mas o Congresso reagiu e e o drama social ocasionado pela pandemia foi mitigado.

Tem sido um período terrível! De um lado, o negacionismo científico do governo Bolsonaro matou milhares de pessoas por Covid-19. De outro, a insensibilidade social deste mesmo governo condenou  à miséria absoluta  milhões de brasileiros e brasileiras.

O país segue afundando. E as medidas econômicas, sempre direcionadas à tutela do interesse dos rentistas e especuladores, além de não combaterem a desigualdade, aprofundam a corrosão das  bases da economia, gerando inflação e desvalorizando a moeda nacional.

A PEC nada mais é do que um supercalote nas dívidas judiciais. E, pior. Ao fim e ao cabo, não passa de um golpe eleitoral de Bolsonaro para tentar brecar o derretimento de sua popularidade. Ainda há tempo de a sociedade reagir contra esse escândalo.

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