O jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão, membro da Academia Brasileira de Letras, receberá o prêmio Jabuti como personalidade literária do ano. O prêmio concedido pela Câmara Brasileira do Livro é uma justa homenagem ao escritor, que completa 50 anos de uma prolífica carreira literária e dezenas de obras publicadas. Ele receberá a premiação no exato momento em que a sociedade brasileira se encontra em seu presente mais distópico, na era Bolsonaro.

Crítico do atual governo, o romancista disse no final do ano de 2020: “O autor precisa intervir na realidade para que esta seja interessante. Lembre-se que em ‘Desta terra nada vai sobrar, a não ser o vento que sopra sobre ela’, meu mais recente romance, previ um presidente sem coração e sem cérebro e, no ano seguinte, Bolsonaro foi eleito. Ele para mim é o presidente invisível, ficção científica. Nada fez, nada, nada fará”, lamenta.

Paulista de Araraquara, Loyola já é detentor de várias premiações ao longo da carreira: venceu o 1º Concurso de Contos do Paraná em 1968; o prêmio Pedro Nava, da União Brasileira dos Escritores, em 1976; Prêmio IILA, concedido pelo Instituto Ítalo-Latino-Americano, na Itália, em 1984; o Prêmio Jabuti, de melhor ficção, em 2008; e o Prêmio Machado de Assis, outorgado pela ABL, pelo conjunto da obra, em 2016.

No início deste ano, o escritor recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Estadual Paulista (Unesp), no campus de sua cidade natal. Na oportunidade, Loyola Brandão fez questão de homenagear os professores que o ajudaram em sua formação como cidadão, jornalista e escritor.

Ele também demonstrou gratidão à universidade que o acolheu nos anos 80, para organizar duas de suas obras. “Trouxe da Alemanha 40 cadernos de anotações e eu tinha que pôr em ordem. Voltei para São Paulo e ainda não tinha apartamento. Fui para a casa do meu pai em Araraquara e lá eu não tinha condição. Um dia, fui na Unesp e perguntei ao Jorge Nagle, que eu conhecia, se tinha uma sala que poderia me emprestar. Era a sala de um professor que estava viajando. Usei por meses. Fiquei lá um tempão”, recordou-se. Desse generoso oferecimento da universidade brotaram os escritos que deram na obra “Verde que violentou o muro”, fruto da sua vivência na Alemanha, na época anterior e posterior ao Muro de Berlim, e ao “Beijo não vem da boca”. “Foram dois livros ao mesmo tempo. Então eu devo a Unesp isso. Serei eternamente grato”, completa.

Além de escritor, Ignácio de Loyola Brandão é jornalista tendo passado pelas redações da Última Hora, de Samuel Wainer (1910-1980); das revistas Planeta e Cláudia, onde foi editor, e também colunista do Estado de São Paulo.

Notabilizado por uma escrita ácida e quase sempre tratando de um cenário de distopia e irrealidade, o autor de “Zero” e “Não verás país nenhum”, foi diagnosticado como um autor de um realismo feroz pelo professor e crítico literário Antonio Candido. É apontado ainda como o rei da distopia.

Em entrevista recente ao GHZ, de Porto Alegre, disse: “Se eu escrevesse ‘A Metamorfose’, hoje, seria: ‘Naquela noite, após sonhos atribulados, Jair Bolsonaro acordou transformado num inseto repulsivo”.

As obras de Ignácio de Loyola Brandão, longe de serem ou parecerem peças de ficção, cada dia mais se enquadram no realismo trágico brasileiro e vão sendo a expressão atemporal da nossa realidade.

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