Em menos de três anos de governo, a política externa brasileira, conhecida como PEB pelos profissionais, acadêmicos e estudantes de Relações Internacionais, sofreu a maior reviravolta da sua história e tornou-se a política externa bolsonarista, para a qual serve o mesmo acrônimo. O Itamaraty, antes principal formulador, foi relegado ao papel de observador e organizador, na melhor das hipóteses, das decisões tomadas pelos núcleos mais fundamentalistas do governo Bolsonaro e, atabalhoadamente, pelo próprio presidente.

Nesse período, a política externa bolsonarista removeu a população LGBTQIA+ da lista de políticas e diretrizes destinadas à promoção dos direitos humanos do governo federal do Brasil, retirou o país do Pacto de Migração da ONU, liberou a posse de armas de fogo no território nacional, renunciou ao tratamento especial que tinha como país emergente na Organização Mundial do Comércio (OMC), derrubou a exigência de visto para os estadunidenses e agrediu com ofensas de caráter pessoal a esposa do presidente francês, Brigitte Macron.

Bolsonaro ainda reivindicou a ditadura chilena de Pinochet ao atacar o pai de Michelle Bachelet, comissária dos Direitos Humanos das Nações Unidas, e deixou, em ato de submissão sem precedente na nossa história, dois navios iranianos — o MV Bavand e o MV Termeh —, desabastecidos por quase 50 dias no Porto de Paranaguá (PR). A Petrobrás se negou a abastecer as embarcações, porque o governo iraniano estava sob sanções aplicadas pelos Estados Unidos.

Esses são apenas alguns dos impropérios impensáveis que o Brasil adotou sob o governo do ex-capitão do Exército no que diz respeito à formulação e implementação da política externa brasileira desde 2019.

Para muito além de simplesmente isolar o país, tais medidas são inconstitucionais – conforme os parâmetros consagrados na Constituição de 1988. E, portanto, caracterizam crimes contra a Lei Maior brasileira.

Contudo, Bolsonaro conseguiu alcançar um novo patamar de constrangimento para a sua gestão e a própria Nação, de forma mais ampla, durante as reuniões do G20 e da COP26, que reuniram os principais líderes do planeta na Itália e na Escócia ao longo da última semana.

Isolado no primeiro evento, Bolsonaro sequer compareceu ao segundo. Enquanto chefes de Estados de diferentes países defendiam os interesses das suas respectivas populações, tratavam dos problemas do mundo e costuravam acordos bilaterais, o presidente brasileiro tentou fazer “piadinhas” com os garçons que, educadamente, o dispensaram.

Além do isolamento absoluto e da completa ausência de resultados significativos à diplomacia nacional, Bolsonaro confundiu o nome de Matteo Salvini, um dos pouquíssimos políticos — da extrema direita italiana — que aceitou se reunir com ele publicamente, o chamando de “Salvati”. Ele ainda pisou no pé de Angela Merkel, literalmente, e trocou o nome de John Kerry, enviado especial dos Estados Unidos para questões climáticas, por Jim Carrey, o humorista estadunidense.

A resposta da imprensa internacional foi imediata. Alguns dos principais jornais, revistas e programas de televisão dos Estados Unidos e da Europa zombaram, impiedosamente, do presidente brasileiro, retratando-o como uma espécie de palhaço atrapalhado e deprimente junto aos principais representantes da comunidade global.

Cômico para eles, trágico para o Brasil. Em apenas alguns dias, Bolsonaro conseguiu a façanha de ridicularizar a Presidência da República Federativa do Brasil de forma sem precedentes no que diz respeito a participação de um chefe de Estado brasileiro junto ao concerto das maiores nações do mundo. Um verdadeiro bobo da corte da sociedade internacional.

`