Em seu discurso em Glasgow, a jovem líder indígena dos povos Suruí, em Rondônia, defendeu a Amazônia contra o desmatamento do governo

 

 

Na segunda-feira, 1º de novembro, uma voz jovem e valorosa soou forte na abertura oficial da Conferência da Cúpula do Clima, realizada em Glasgow, na Escócia. Uma voz brasileira. Era Walelasoetxeige Suruí, ou Txai Suruí, filha de Almir Suruí, líder indígena entre os mais conhecidos pela luta contra o desmatamento na Amazônia e inimigo declarado do governo Bolsonaro. Ela expôs os riscos do avanço da mudança climática na Amazônia.

“Meu pai, o grande cacique Almir Suruí, me ensinou que devemos ouvir as estrelas, a lua, o vento, os animais e as árvores”, disse a jovem. “Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando. Ela nos diz que não temos mais tempo”, afirmou.

“Uma companheira disse: vamos continuar pensando que com pomadas e analgésicos os golpes de hoje se resolvem, embora saibamos que amanhã a ferida será maior e mais profunda”, denunciou. E cobrou dos líderes das nações reunidas no Reino Unido: “Precisamos tomar outro caminho com mudanças corajosas e globais. Não é 2030 ou 2050, é agora”.

Txai falou sobre a necessidade de medidas urgentes para frear as mudanças climáticas, além de destacar a importância dos povos indígenas na proteção da Amazônia. E relembrou a morte do líder Ari Uru-Eu-Wau-Wau, que trabalhava registrando e denunciando extrações ilegais de madeira dentro da aldeia onde morava. Segundo Txai, ele foi morto por defender a floresta.

“Os povos indígenas estão na linha de frente da emergência climática, por isso devemos estar no centro das decisões que acontecem aqui. Nós temos ideias para adiar o fim do mundo”, anunciou. “Vamos frear as emissões de promessas mentirosas e irresponsáveis. Vamos acabar com a poluição das palavras vazias”. E concluiu: ”É necessário sempre acreditar que o sonho é possível. Que a nossa utopia seja um futuro na Terra”.

A jovem indígena está no último semestre do curso de Direito na Universidade Federal de Rondônia. Apesar de não ter concluído o curso, ela trabalha na assessoria jurídica da Associação de Defesa Etnoambiental (Kanindé), a entidade que defende a causa indígena em Rondônia. Além disso, é fundadora do Movimento da Juventude Indígena de Rondônia.

Txai já liderou atos pedindo a saída do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e denunciou o avanço da agropecuária sobre a terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia.

Ela participou de vários manifestos em defesa dos povos indígenas, e esteve nos protestos realizados em agosto, quando representantes dos povos indígenas ocuparam a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, para denunciar o governo e pressionar o presidente Jair Bolsonaro a retomar a demarcação de terras e acabar com as atividades de garimpo na Amazônia.

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