‘Economist’ diz que Bolsonaro é um pária do clima
A revista The Economist que circula desde a sexta-feira, 5, traz uma reportagem devastadora para a imagem do Brasil. A tradicional publicação inglesa aponta que o país, que um dia foi um dos principais protagonistas nas negociações sobre o clima global, passou a ser visto como um vilão na comunidade internacional.
“O recorde do país em mudanças climáticas é realmente terrível. Desde que. Bolsonaro assumiu o cargo em 2019, a taxa de desmatamento está em alta em 45%. As emissões totais de gases de efeito estufa do Brasil subiram 9,5% no ano passado, de acordo com um estudo patrocinado pelo Observatório do Clima, uma rede de 70 ONGs e think-tanks, mesmo quando as emissões caíram no resto do mundo. Mas enquanto Bolsonaro uma vez parecia apreciar sua reputação de pária — desistindo da ser o anfitrião da Cop25 em 2019 e começar uma briga com Emmanuel Macron, o presidente francês — ele agora parece ansioso para tentar melhorar sua reputação”.
A revista reproduz o trecho de uma tentativa de diálogo do presidente brasileiro entreouvida em Roma, no encontro do G20. “Eu não sou tão ruim quanto as pessoas dizem”, disse o presidente do Brasil a Angela Merkel, a chanceler da Alemanha, quando ela se aproximou dele em um jantar do G20 em Roma em 30 de outubro. A Economist diz que Bolsonaro estava sentado num canto do salão, sozinho. De acordo com a revista inglesa, a delegação do Brasil na Cop26 espera transmitir a mesma mensagem: o Brasil não é mal.
Em outubro, lembra a publicação britânica, em uma tentativa de promover uma visão mais verde, o governo brasileiro anunciou duas iniciativas focadas no clima: a reformulação de um plano existente para incentivar a agricultura de baixo carbono e um novo programa de crescimento verde, que se destina a gerar empregos sustentáveis no campo. Além disso, em 1º de novembro, Joaquim Leite, o ministro do Meio Ambiente, disse que o Brasil aumentaria sua meta de redução das emissões para 50% de seu nível em 2005, até 2030, e apresentaria o ano em que planeja chegar a zero as emissões entre 2050 e 2060, como tantos outros países fizeram. De acordo com Leonardo Cleaver, o chefe dos negociadores brasileiros, o país está “mais flexível” quanto ao Artigo 6, uma cláusula contenciosa do Acordo de Paris de 2015 que estabelece regras para o comércio global de carbono.
Mas a revista mostra que há um ceticismo entre especialistas e ambientalistas, que não estão convencidos. “O Brasil quer todos os benefícios e nenhum os custos da Cop26, diz a advogada Caroline Prolo. A maioria dos planos do governo para cumprir suas metas são “promessas vagas que contêm a palavra ‘verde’”, diz Stela Herschmann, do Observatório do Clima. No ano passado, a promessa formal do Brasil de cortar emissões (conhecido como contribuição determinada nacionalmente, ou NDC) coloca o país entre uma pequena minoria que não só não conseguiu aumentar sua ambição desde o Acordo de Paris em 2015, mas fez o contrário. A linha de base de CO2 foi revisada para cima, mas a promessa permaneceu a mesma.
Parte do problema é que o governo tem uma tendência a se ver como vítima. “O Brasil deve mais do que está recebendo”, disse Cleaver a Economist. Esta posição foi estabelecida muito antes de Bolsonaro assumir o cargo. “Como outros países em desenvolvimento, o Brasil repreende o mundo rico por ficar aquém de seu promessa, em 2009, de mobilizar US$ 100 bilhões por ano até 2020 para ajudar os países pobres a cortar emissões e se adaptar às mudanças climáticas”, aponta a reportagem da Economist.
Em sua NDC no ano passado, o governo também fez emissões prometidas de cortes condicionados ao recebimento de tais pagamentos — outros países também fizeram isto. Seriam necessários “pelo menos US$ 10 bilhões por ano” para reduzir o desmatamento e que é a estratégia de longo prazo em transferências financeiras contábeis a receber vai demorar”. O Observatório do Clima chama isso de “chantagem”.
Agora, no entanto, os negociadores afirmam que os compromissos do Brasil são “incondicionais”. Esta postura mais suave pode ter a ver com o ausência do proponente mais forte de “pagar” pela estratégia, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que renunciou em junho. O Sr. Cleaver também sinalizou que o Brasil pode estar disposto a se comprometer em dois debates espinhosos em torno do Artigo 6.
O primeiro tem a ver com créditos de carbono gerado de acordo com as regras da Cúpula de Kyoto em 1997. O Brasil tem bilhões de dólares desses créditos e acredita que devam ser incorporados em um novo mercado de carbono, como prevê o Artigo 6. Os países ricos estão preocupados, pois há um debate sobre se a verificação os créditos de Kyoto sofreram reveses pelo Acordo de Paris.
O segundo é sobre o que acontece quando novos créditos de carbono são vendidos por empresas em um país para empresas ou governos em outro. Há necessidade do Brasil (ou de outro país de onde os créditos são vendidos) para fazer os “ajustes correspondentes” para sua própria contagem de mitigação. O Brasil precisa mudar a forma como usa a terra.
“Leite prometeu que Brasil vai acabar com desmatamento ilegal até 2028. É um objetivo digno que parece, no momento, totalmente inatingível“. A revista conclui o texto apontando que enquanto. “Com Bolsonaro no poder, parece improvável qualquer mudança”, aponta. “O progresso pode ter de esperar até depois de 2022, quando Bolsonaro perder as eleições”.