As pesquisas de opinião pública divulgadas nas últimas semanas nos permitem averiguar a dimensão da crise econômica para os brasileiros. Ao analisar os dados econômicos no período pré-pandemia já era possível observar um cenário de preocupação. Especialmente, quando dados mostravam desemprego de 11,6 milhões em dezembro de 2019, taxa recorde de informalidade batendo em 41,1% desde 2016, inflação em 4,31% e o crescimento do PIB de 1,1% – com direito à inovação metodológica do ministro Paulo Guedes, em apresentar o “PIB privado” na esperança de acalmar os ânimos do mercado financeiro. Nem isso surtiu efeito. 

A crise sanitária da Covid-19 deixou a economia nacional em situação de estagflação — inflação combinada com paralisia da atividade. Além de não apresentar crescimento, os preços aumentaram drasticamente. Mais da metade da inflação é resultado da disparada dos combustíveis, energia e carne. A taxa oficial chegou a 9,68%, segundo estudo do ISAE/FGV. Já o desemprego também aumentou e agora assola 14,4 milhões de brasileiros sem renda e poder de compra.

Pesquisa realizada pelo instituto Quaest em parceria com a Genial Investimentos, aponta que para 44% dos brasileiros, o principal problema do país é a economia. Houve um aumento de 12 pontos percentuais nesse número desde agosto de 2021 – e, consequentemente, o tema tornou-se o principal problema mencionado, à medida que saúde e pandemia diminuiu de 36% para 24% no mesmo período.

Os 44% são compostos por menções diretas à economia (19%), desemprego (15%) e inflação (9%). Os dados reforçam que os efeitos da gestão genocida da pandemia atingiram parcelas majoritárias da população, com morte e perda de renda. Mesmo caindo a percepção imediata de gravidade, ela continua na memória coletiva.

Segundo o instituto, há sensação de piora da situação econômica no último ano para 69% dos brasileiros. A expectativa é de melhora nos próximos 12 meses para 39% dos entrevistados, enquanto 34% esperam piora e 21% manutenção da situação – um total de 55% que preveem deterioração ou estagnação da situação econômica brasileira.

Em relação a emprego e renda, dois dados contrastantes entre si: 58% esperam que o país gerará emprego no próximo período, mas 62% esperam piora da inflação. Jair Bolsonaro (sem partido) é considerado o maior responsável pela situação econômica para 54% dos brasileiros, enquanto 25% veem pouca responsabilidade do presidente e 17%, nenhuma responsabilidade.

Fazendo uma breve retrospectiva sobre as expectativas dos agentes econômicos, muito se falava no início do colapso econômico e crise sanitária em uma recuperação econômica em “formato V”. Estimava-se uma taxa de crescimento rápida e alta após forte queda desencadeada pelo pico da pandemia. A realidade, no entanto, tem nos mostrado que essa recuperação não se mostra sustentável quando olhamos os dados de crescimento acumulado do PIB de -0,01% para o 2º trimestre de 2021, divulgado pelo IBGE em setembro.

O Núcleo de Opinião Pública, Pesquisas e Estudos da Fundação Perseu Abramo (Noppe) aponta que a base social da pirâmide sente de forma mais incisiva os efeitos da inflação, do desemprego e queda da renda – sem desprezar que os outros segmentos também percebiam tais problemas, mesmo que em escala menor. Desde então, outra nova pesquisas confirma a leitura de que há percepção generalizada sobre a crise.

De acordo com os dados divulgados pelo Ipespe, em levantamento feito em parceria com a XP Investimentos, 64% dos brasileiros veem a economia no caminho errado. A perspectiva é de aumento do endividamento para 35%, enquanto outros 32% esperam manutenção da situação atual – e 23% veem perspectiva de diminuição. Somente 25% afirmam ter recebido o auxílio emergencial na segunda rodada, enquanto 70% não receberam, pois ninguém no domicílio fazia parte do grupo de beneficiados. Em comparação, o instituto levantou em agosto de 2020 que 40% dos entrevistados haviam recebido o auxílio – e outros 55% não receberam por não ser ou não residir com algum beneficiário.

Os dados retratam um cenário de preocupação por parte dos brasileiros, tanto com o presente quanto com o futuro. A piora nas condições materiais atinge a base da pirâmide, como havíamos demonstrado, mas é sentida por todos: segundo o Datafolha, houve pelo menos dois terços de cada segmento de renda que reduziram o consumo de algum item alimentício – mesmo entre os mais ricos, encontramos um terço que reduziram o consumo de carne bovina desde o início do ano.

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