Índice de setembro é o maior desde o início do Plano Real e não há perspectivas de desaceleração. Presidente diz que alta do preços é um problema mundial e se recusa a fazer qualquer coisa

 

 

A política econômica do governo Bolsonaro, sob a batuta do ministro Paulo Guedes, conseguiu mais um feito: novo recorde de inflação. O índice oficial de inflação do país voltou a acelerar e alcançou 1,16% em setembro. É a maior taxa para o mês desde 1994, no governo FHC, quando a inflação foi a 1,53%, fase inicial do Plano Real. Os dados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo foi divulgado na sexta-feira pelo IBGE.

Com a forte elevação, pressionado pela energia elétrica, o indicador quebrou a barreira dos dois dígitos no acumulado de 12 meses. Nesse intervalo, a alta chegou a 10,25%. Trata-se da maior variação do IPCA em 12 meses desde fevereiro de 2016 — 10,36%. À época, a economia amargava período de recessão.

Provocado pela imprensa, Jair Bolsonaro reagiu como de costume: eximiu-se de responsabilidade e culpou a alta de preços como  “um problema mundial”. E, para variar, mentiu novamente: “O Brasil foi um dos países que menos sofreu com a pandemia”.

Apesar do discurso negacionista — uma característica da gestão do ex-capitão do Exército — as estatísticas mostram que o Brasil é um dos países do mundo onde os preços ao consumidor mais subiram este ano. A OCDE prevê inflação média mundial de 3,7% e, para o Brasil, uma alta de preços de 7,2%. No entanto, o próprio governo brasileiro tem uma estimativa mais pessimista e prevê a inflação em 8,4% este ano.

No acumulado de 12 meses (10,25%), o IPCA é quase o dobro do teto da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central). O teto é de 5,25% em 2021. O centro é de 3,75%. O acumulado deve perder algum fôlego nos últimos meses de 2021, devido a um efeito estatístico —houve repique nos preços de alimentos na reta final do ano passado. O cenário, contudo, está longe de tranquilizar analistas, consumidores e empresários.

A perspectiva é de IPCA em nível alto nos próximos meses, mesmo com a eventual desaceleração. O mercado financeiro projeta inflação de 8,51% ao final de 2021, indicou o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central na segunda-feira, 4.

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