Pandora Papers indica que 65 dos maiores devedores de impostos do país mantêm empresas offshores em paraísos fiscais. No país campeão das desigualdades, o refúgio fiscal é usado por poderosos para esconder patrimônio ou dinheiro sujo

 

Os documentos do Pandora Papers mostram que 66 dos maiores devedores brasileiros de impostos, cujas dívidas somam R$ 16,6 bilhões, mantêm offshores com milhões de dólares depositados em paraísos fiscais. Dentre eles, está o empresário Eike Batista e outros milionários cujos rostos são desconhecidos do público. Alguns são suspeitos de corrupção.

Offshores são empresas em paraísos fiscais, utilizadas pelos ricos do mundo para reduzir o pagamento de impostos ou proteger ativos que não têm origem comprovada. Estão localizadas em países com pouca transparência e fiscalização. Daí porque os ricos e poderosos as usam para ocultar patrimônio ou dinheiro dinheiro sujo do crime e da corrupção. No Brasil, a legislação permite offshores, desde que declaradas à Receita Federal e, quando os ativos ultrapassam US$ 1 milhão, ao Banco Central.

O site Metrópoles, que integra o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos e trouxe à tona o Pandora Papers, selecionou os nomes de todos os devedores com débitos somados superiores a R$ 20 milhões inscritos na Dívida Ativa da União.

Eike Batista — O empresário que chegou a ser a pessoa mais rica do Brasil tem hoje débito de R$ 3,8 bilhões inscrito na Dívida Ativa. O nome dele está ligado a duas offshores, a Farcrest Investment e a Green Caritas Trust. A Farcrest foi criada em abril de 2006. Na época, ele ainda estava longe do pico na sua carreira, em 2012, quando foi listado como o sexto homem mais rico do mundo.

Claudio Rossi Zampini — Empresário com em de ramos diversos em São Paulo, como a CRZ Telecomunicações e a Flamingo Táxi Aéreo, Zampini aparece direta ou indiretamente no quadro social de nove companhias. E tem débitos somados de R$ 1,3 bilhão inscritos na Dívida Ativa da União. Ele é dono de três offshores criadas entre 2008 e 2011 nas Ilhas Virgens Britânicas; Lizza Properties, Encinita Holdings e Flamingo Jet Air.

Jonathan Couto de Souza — Cantor e influenciador digital, é dono da Clean Indústria e Comércio de Cigarros, na qual possui 21% do capital. Deve R$ 1,2 bilhão à União e é dono da offshore Ranfed Investments. Criada em 2016, a empresa não consta na declaração de bens feita por Jonathan em 2020.

Gustavo Amaral Rossi — Dono de postos de combustíveis, tem R$ 543 milhões inscritos na Dívida Ativa da União e foi alvo da Operação Rosa dos Ventos, da Polícia Federal, por sonegação de impostos e lavagem de dinheiro. É proprietário da offshore Infinity Inc, com sede nas Ilhas Seychelles.

Alberto Davi Matone — Fundador do Banco Matone, vendido para a J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Baptista, em 2011, e mais tarde transformado no banco Original, tem dívidas com a União que totalizam R$ 92,8 milhões. Matone criou em janeiro de 2013 a Northbush Associates, cujo único ativo é uma mansão em Coral Gables, cidade na Flórida, comprada por US$ 1,8 milhão em junho de 2014.

Mario Kenji Erie — Empresário, dono das lojas de roupas Makenji,  espalhadas no Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, foi uma das figuras centrais de uma investigação de corrupção da Polícia Federal, a Operação Alcatraz, de 2019. É suspeito de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude em licitações. Tem duas offshores: a Flufnstuf Services e a MRKG Enterprises.

Corina de Almeida Leite — Dona da Cia. Agropecuária Monte Alegre, especializada em confinamento de gado e com diversos prêmios internacionais, e sócia da Adecoagro, empresa de Luxemburgo que é uma das maiores em atuação no agronegócio do Centro-Oeste, a empresária tem R$ 27,4 milhões inscritos na Dívida Ativa da União. E mantém uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas desde 2006, a Etiel Societé Anonyme.

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