As eleições parlamentares na Alemanha em 2021 são um ponto de inflexão. 16 anos de governo de Angela Merkel estão por terminar, e os enormes desafios que o país e a Europa estão enfrentando agora deverão ser enfrentados por uma nova coalizão governamental.

A eleição marca o retorno da social-democracia. Depois de permanecer com 15% de aprovação por muito tempo, o SPD venceu a eleição com quase 26% dos votos. A conservadora CDU, por outro lado, alcançou o pior resultado de sua história, caindo quase 9%. Isto dá ao SPD a legitimidade para formar um governo. Liderado pelo candidato e atual ministro de finanças, Olaf Scholz, o trunfo da social-democracia pode ser um sinal para a Alemanha e a Europa se orientarem para uma política de justiça social, de mais investimento e proteção ambiental. No entanto, primeiro se trata de formar um governo. As negociações que já começaram, moldarão as próximas semanas e possivelmente meses.

Se a votação tivesse sido direta nos candidatos, Olaf Scholz, segundo as pesquisas, teria recebido 45% dos votos, o candidato conservador no segundo lugar, 20% dos votos. Mas na Alemanha, ao invés disso, os partidos são eleitos e o chanceler é eleito por uma maioria dos membros do parlamento alemão (Bundestag). Como nenhum partido obteve maioria absoluta, a formação de uma coalizão governamental é necessária. O que torna esta eleição tão especial é que nenhum dos partidos pode obter mais de 30% e há três partidos com mais de 10% dos votos. Estes incluem os Verdes, o partido liberal FDP e o partido de extrema-direita AfD que nega a mudança climática, entre outras coisas. Mesmo antes das eleições, qualquer coalizão com a AfD foi descartada. Teoricamente, uma formação governamental liderada pela CDU também seria concebível apesar da derrota eleitoral, ou uma Grande Coalizão renovada entre o SPD e a CDU. Mas a CDU está tão enfraquecida e a vontade da população de mudar o governo se expressou tão claramente que a coalizão mais provável é o SPD, os Verdes e o FDP.

Chegar a um acordo entre três partes não é fácil; já em 2017, a tentativa fracassou após várias semanas. Naquela época, a CDU/CSU, FDP e os Verdes negociaram. Uma inovação desta vez é que os Verdes e os Liberais se encontraram primeiro para conversar – uma ruptura com a tradição de que as conversações acontecem a convite do vencedor da eleição. Mas se se chegar a um maior acordo sobre isso, isso poderia realmente levar a uma coalizão mais estável. Neste fim de semana, serão realizados diálogos bilaterais com o SPD.

As tarefas centrais para os próximos governos na Alemanha serão a transformação sócio-ecológica, a reforma do sistema de pensões e a crescente desigualdade na sociedade. Com seu programa, o SPD representa uma política de justiça social, que especialmente durante os processos de transformação ecológicas e tecnológicas quer assegurar um equilíbrio social. Também na Alemanha, o fosso entre ricos e pobres está aumentando e a mobilidade social é cada vez mais uma questão de origem social. O programa do SPD inclui, portanto, um salário-mínimo de 12 euros ou a moradia acessível. Mas também quer uma compensação por um preço de CO2. Além disso, o programa prevê um programa de investimento em infraestrutura e educação, bem como uma taxa tributária mais alta para rendimentos altos e uma pensão segura numa sociedade que é cada vez mais velha. É mais provável que este programa seja implementado com os Verdes. Em uma possível coalizão com os liberais, que excluem, por exemplo, categoricamente os aumentos de impostos por altos rendimentos, as concessões são mais difíceis. Esta é outra razão pela qual as negociações podem se arrastar.

O novo governo também terá sem dúvida um impacto internacional. Sendo a economia mais forte da Europa, a Alemanha tem um papel decisivo a desempenhar, especialmente como líder no fortalecimento da UE, o que não é menos importante do que as questões financeiras, bem como no tratamento de desenvolvimentos antidemocráticos, por exemplo, na Hungria. A UE também deve se posicionar geopoliticamente em tempos de mudanças globais de poder, um multilateralismo em crise e cadeias de valores interconectadas. Isto também pode ser crucial para as relações com o Brasil, pois o claro compromisso com a proteção ambiental e as cadeias produtivas globais baseadas nos direitos humanos será particularmente relevante para as relações comerciais com o Brasil. Por último, mas não menos importante, o acordo da UE com o Mercosul foi congelado por causa das críticas maciças à proteção ambiental no Brasil.

Portanto, a eleição na Alemanha foi realmente uma escolha de direção decisiva para Alemanha e Europa e um voto para mais compromisso na crise climática, mais Europa e mais justiça social. Mas até que isso se realiza em políticas concretas precisamos esperar os resultados das complexas negociações nas próximas semanas.

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